Após receber o diagnóstico de câncer de mama e realizar os primeiros testes, boa parte das brasileiras não volta para fazer exames mais específicos ou mesmo iniciar o tratamento. Essa é a avaliação de organizações em defesa da mulher, que se reuniram nesta terça-feira (10) durante audiência pública no Senado.
E o culpado por essa desistência do tratamento é a demora para ser atendido pelo SUS. É o que explica Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama.
- Você imagina uma mulher que trabalha e tem filhos. Tem que fazer toda uma logística para conseguir ir ao posto de saúde. E aí, o médico não foi, o aparelho está quebrado e passa o tempo. Isso é inadmissível.
Para Maira, o prazo ideal para começar o tratamento é 30 dias após a descoberta da doença. Mas, segundo ela, grande parte das mulheres espera, em média, seis meses. A federação calcula que 30 mulheres morrem por dia no Brasil por causa do câncer de mama. Quase metade dos casos (45,3%) é diagnosticada em estágio avançado.
O Ministério da Saúde reconhece que mais da metade dos mamógrafos usados no Sistema Único de Saúde (SUS) funcionam abaixo da capacidade prevista. No mês passado, o órgão designou uma equipe que vai avaliar por que os equipamentos estão com baixa produtividade. No total, o sistema dispõe de 1.645 aparelhos, número suficiente para atender a demanda, segundo o governo federal.
Na audiência pública, a coordenadora de Média e Alta Complexidade do ministério, Maria Inez Gadelha, disse que a pasta pretende ampliar a oferta de biópsias, quimioterapia e radioterapia, serviços que estão aquém da demanda.
Para Ronaldo Ferreira, oncologista do Inca (Instituto Nacional do Câncer), a desistência das mulheres pode estar relacionada também ao medo de enfrentar a doença e o próprio tratamento, como uma cirurgia.
- É também o medo de saber que tem câncer.