Grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em parceria com norte-americanos, descobriu o mecanismo responsável pelo desenvolvimento do linfoma Não–Hodgkin. A pesquisa poderá abrir caminho para novas formas de tratamento do linfoma, sendo uma alternativa à quimioterapia.
Segundo os autores, o mecanismo leva a proteína L24, presente no ribossomo das células, a estimular a ação oncogênica do gene Myc, responsável pelo linfoma. O Myc aumenta a síntese de proteínas associadas ao ciclo celular, o que provoca o crescimento do volume da célula e a sua divisão, gerando os tumores.
Os linfomas são neoplasias malignas que se originam nos linfonodos importantes no combate a infecções. Os Linfomas Não-Hodgkin incluem mais de 20 tipos diferentes. A incidência desse tipo de câncer praticamente duplicou nos últimos 25 anos, particularmente entre pessoas acima de 60 anos por razões ainda não esclarecidas.
"Uma peça chave dentro da célula para a síntese de proteínas é o ribossomo", relata Eduardo de Magalhães Rêgo, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, um dos responsáveis pela pesquisa. "Desse modo, a premissa do estudo era demonstrar se a redução da atividade do ribossomo inibe a atividade do Myc".
Especialistas da Universidade de San Francisco, nos Estados Unidos, desenvolveram uma linhagem de ratos transgênicos com menor quantidade de L24, uma proteína ribossômica.
"Constatou-se que esses animais, saudáveis, não desenvolviam linfoma. Mesmo nos cruzamentos com ratos transgênicos de Myc elevado, o efeito era mantido em seus descendentes, revertendo a transformação maligna", aponta o professor Eduardo de Magalhães Rêgo.
A ação da proteína foi estudada em um dos subtipos de linfoma Não-Hodgkin, câncer que afeta os linfócitos (células humanas associadas à defesa do organismo). "Cada subtipo é responsável por diferentes alterações genéticas. No caso estudado, um deslocamento do gene Myc para outra região do genoma faz com que este se expresse em níveis alterados".
Magalhães lembra que a importância da pesquisa ainda é conceitual. "Trabalhos anteriores já demonstraram que o aumento da expressão do Myc está diretamente relacionado às causas do linfoma. Neste estudo, comprovou-se que a L24 é essencial para o crescimento e divisão das células tumorais”.
A pesquisa, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), faz parte das atividades do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Células-Tronco e Terapia Celular (INCTC), sediado em Ribeirão Preto.
Atualmente, o tratamento dos linfomas é feito por meio de quimioterapia. "Esta técnica elimina tanto células normais quando as linfomatosas", observa Magalhães. "Com a utilização de um fármaco que diminuísse a atividade do L24, as células do linfoma seriam mais suscetíveis ao efeito inibidor, sem afetar as demais".
Referências