
No Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, pesquisa da estatística Mariana Curi desenvolveu um modelo que diferencia grupos associados a padrões de resposta a perguntas consideradas embaraçosas durante a aplicação de questionários psiquiátricos e educacionais. O método se destina a aprimorar a avaliação realizada pelos profissionais que aplicam os exames, evitando que as respostas dadas a algumas questões comprometam o resultado da avaliação como um todo.
A partir da Teoria de Resposta ao Item (TRI) — usada na área de estatística para modelagem de medidas psicómetricas como os questionários psiquiátricos e de conhecimento — a pesquisa desenvolveu um método estatístico focado no Inventário de Depressão de Beck (BDI), com 21 questões. O inventário é usado em psiquiatria para diagnosticar depressão. “Algumas questões podem constranger as pessoas que respondem as perguntas”, afirma Mariana. “Diferenciar esses itens vai fazer com que elas reflitam melhor a intensidade da depressão”.
A questão utilizada nesse sentido foi a que envolve crises de choro. “Certos grupos podem responder de forma diferente em relação a outros”, ressalta. “Nesse caso, observa-se que os homens são menos prováveis de expressar esse sintoma do que as mulheres, devido a uma convenção estabelecida na sociedade de que isso é um comportamento mais associado ao gênero feminino”.
Em um primeiro momento, por meio de observação, é possível diferenciar o comportamento das respostas a esses itens. “Se uma mulher tem crises de choro, por ser uma atitude que é aceita em pessoas do sexo feminino, isso pode indicar que ela possui um nível de depressão mais brando, ressalvando que cada caso tem suas especificidades”, conta Mariana. “A mesma manifestação em um homem, por ser menos aceito socialmente, pode ser um indício de um quadro de depressão mais avançado”.
Diferenciação
A diferenciação dos padrões de resposta pode ser feita entre outros grupos da população. “As mudanças podem acontecer conforme a faixa etária, ou o nível sócioeconômico”, ressalta a pesquisadora. “Conhecer as diferenças ajuda a aprimorar a análise feita por meio dos questionários”.
De acordo com Mariana, a pesquisa identificou os grupos e padrões de resposta por observação. “Embora essa identificação específica tenha adotado um critério mais subjetivo, ela pode se valer de métodos estatísticos”, diz.
O modelo estudado pode ser aplicado a outros tipos de questionários nas áreas de psiquiatria e educação, como por exemplo o Inventário de Uso de Drogas (DUSI), utilizado para verificar o uso e abuso de drogas e álcool. “Normalmente, os usuários não admitem o consumo excessivo, e pode-se separar esse grupo das outras pessoas”, observa a pesquisadora. “O fundamental é manter proximidade com quem utiliza esses questionários no dia a dia, como os psiquiatras”.
Mariana Curi é professora do Departamento de Matemática Aplicada e Estatística do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação de São Carlos (ICMC) da USP. A pesquisa, desenvolvida para tese de doutorado no IME, teve orientação do professor Júlio da Motta Singer e coorientação de Dalton Francisco Andrade, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).