As pesquisas sobre a influência do videogame nas crianças são normalmente classificadas como “boas” ou “ruins”. Mas um estudo feito por Douglas Gentile, pesquisador associado da Universidade Estadual de Iowa, nos EUA, demonstrou que pode haver benefícios desse tipo de diversão eletrônica, mesmo que sua pesquisa tenha sido vista como mais uma prova do lado ruim.

Seu estudo, publicado no periódico Child Development Perspectives, aponta que as pesquisas feitas até então veem o videogame sob uma óptica sem meios tons. Entretanto, há uma área indefinida quando se procura saber os efeitos dos jogos eletrônicos em crianças e adolescentes.

Gentile afirma que há pelo menos cinco pontos que se sobrepõem e que devem ser considerados quando se estuda a questão: o tempo que se joga, o conteúdo do jogo, o contexto que o jogo dá, a estrutura e as mecânicas do jogo eletrônico.

“Os pais costumam focar no tempo ou no tipo de game que as crianças estão jogando. Mas minha pesquisa mostrou que há efeitos que não podem ser explicados apenas por esses dois fatores, e há mais fatores nessa equação. E é aí que entram os cinco fatores que eu citei”, diz Gentile.

Muitos estudos anteriores indicaram diversas respostas negativas observadas em crianças e adolescentes. Mas uma boa parte dessas respostas negativas – como aquelas que apontam que jogar muito videogame impacta negativamente o desempenho acadêmico – pode não ser apenas referente ao tempo jogado.

Os problemas das crianças podem ser para além do videogame

“É possível que essa relação entre tempo de jogo e notas ruins possa ser consequência de algo que ocorre com as próprias crianças. Talvez crianças com fraco desempenho escolar tenham a falsa impressão de que são mais capazes de lidar com as matérias ensinadas na escola e esse sentimento faz que elas achem que o dever de casa é algo desnecessário, por exemplo”, explica o pesquisador.

O que Gentile chama de “conteúdo do jogo” é outro fator que já foi explorado por outras pesquisas. Esse conteúdo se relaciona com aprendizado e, sim, pode afetar os comportamentos futuros das crianças e adolescentes, diz o pesquisador. “Esse é o fator mais bem documentado pelas pesquisas e são respostas aos conteúdos violentos, pró-sociais ou educacionais dos videogames que podem afetar o comportamento de quem joga”.

Quem são os companheiros de jogo é uma questão importante também

Mas o contexto também é importante e seus efeitos podem modificar igualmente a resposta dos jogadores às situações na vida real. “Se o indivíduo joga um game violento com vários amigos, esse é o tipo de contexto que pode levar a uma maior agressividade. Isso porque há uma rede social, com pessoas, com laços afetivos, que apoia que o jogador seja violento com outros indivíduos de fora desse círculo. Outra leitura disso é que, dependendo dos indivíduos, o que pode aflorar é justamente o inverso: a cooperação e ajuda mútua, o que neutralizaria o efeito da agressividade”, relativiza o pesquisador.

Quando o assunto é estrutura – a forma como as informações são apresentadas durante o jogo em si – o impacto psicológico também é sensível, diz Gentile. “Nesse ponto, os videogames podem melhorar a atenção e as habilidades visuais.”

O mesmo pode ser observado sobre a mecânica do jogo. Dependendo do controle que o videogame requer, as habilidades motoras finas (no caso de consoles que são apenas manuseados) ou habilidades motoras gerais (como as usadas em videogames que têm sensores de movimento) e até mesmo o equilíbrio (se o jogo requer uma prancha ou um esteira de dança) também podem ser beneficiados.

Bom e ruim ao mesmo tempo

Considerando todas essas dimensões dos videogames, Gentile aponta que os jogos eletrônicos têm tanto benefícios quanto malefícios para quem joga. “Isso é muito positivo: saber que a discussão sobre videogame não pode ser dicotômica, ou seja, somente bons ou ruins, sendo que uma coisa exclui a outra”.

“A partir disso, podemos ampliar as hipóteses sobre os efeitos do videogame e isso é importante para a ciência de uma forma em geral. E caso alguém queira utilizar os resultados da pesquisa para criar um produto com um impacto mais positivo sobre os usuários, é bom observar que essas dimensões precisam ser projetadas simultaneamente”, finaliza o pesquisador.