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Pais cientistas gostariam de ter mais filhos, aponta pesquisa
 
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15/08/2011

Pais cientistas gostariam de ter mais filhos, aponta pesquisa

Homens são os menos satisfeitos com a vida que levam. Em ambos os sexos, 25% consideram deixar a profissão pela família

Poucos dias antes de o Dia dos Pais ser comemorado no Brasil, neste domingo (14), um estudo americano feito pelas universidades Rice e Metodista do Sul (SMU), ambas no Texas, revela que muitos cientistas iniciantes e renomados gostariam de ter mais filhos. Porém, um quarto dos homens e metade das mulheres disseram que a profissão os impede.

A pesquisa, coordenada durante três anos pelas sociólogas Elaine Ecklund e Anne Lincoln, baseou-se em dados recolhidos entre 2.500 cientistas que atuam nas áreas de física, astronomia e biologia, em mais de 30 das melhores universidades dos EUA. Os resultados do que eles pensam sobre discriminação, vida familiar e o estágio de suas carreiras foram publicados na atual edição da revista científica PLoS One.

Apesar de as mulheres serem mais "diretamente afetadas" por essa realidade, os homens estão menos satisfeitos com a vida que levam e com o fato de terem menos filhos do que gostariam. O estudo da dupla mostra, ainda, que 25% de ambos os sexos estão propensos a considerar uma atuação fora da ciência em nome da saúde familiar.

Segundo Elaine, a carreira de pesquisador na academia é complicada por causa das longas jornadas e da pressão para publicar projetos e obter fundos que os mantenham em andamento. Uma pesquisa anterior sobre vida familiar e carreira científica revelou que homens e mulheres com filhos trabalham menos horas do que aqueles sem filhos.

Com base nessas evidências, as sociólogas concluem que as universidades fariam bem em reavaliar o quanto suas políticas são amigáveis para as famílias. Os cientistas participantes disseram, por exemplo, que as instituições poderiam reunir recursos adicionais para ajudar a equilibrar o balanço entre casa e trabalho, como o fornecimento de creches no local do emprego.

No Brasil
Na opinião do biólogo molecular Paulo Arruda, especialista em plantas e professor titular do departamento de Genética do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a situação do Brasil é diferente da dos EUA nesse quesito.

“Lá, há mais pressão e uma competição extrema, por isso os americanos descobrem coisas tão importantes. Somos mais light”, diz.

No entanto, Arruda conhece cientistas top brasileiros que não deixaram a família nem o lazer de lado. “Acho que isso [a opção de não ter filhos] está presente em todas as carreiras, não só entre os cientistas. Na vida moderna, as pessoas colocam a profissão em primeiro lugar”, ressalta o pesquisador.

Ele tem três filhas: uma bióloga (Ana Carolina), uma cientista especializada em obesidade e diabetes (Ana Paula) e uma advogada (Fernanda). Quando pequenas, as meninas o acompanhavam nos finais de semana até o laboratório e ficavam brincando com vidrinhos e materiais de pesquisa.

Dia dos pais Paulo Arruda (Foto: Arquivo pessoal)
Arruda com a mulher e filhas, da esq. para dir., Ana Carolina, Ana Paula e Fernanda (Foto: Arquivo pessoal)

A mulher, Regina, teve papel fundamental na criação do trio. “Sempre me dediquei muito à carreira científica e tentei conciliar as coisas. A cabeça fica sempre pensando, voltada para o trabalho, mas nunca fui um pai ausente”, afirma Arruda.

Juntos na Antártida
Além de ir na contramão dos americanos e ter três filhos, o biomédico Edson Rodrigues, professor da Universidade de Taubaté (Unitau) e pesquisador sênior do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), trabalha junto com o do meio, Edson Rodrigues Junior, que também é cientista.

Juntos, eles já foram duas vezes para a Antártida (no verão de 2007 para 2008 e de 2009 para 2010) – e outras mais separados, já que o pai está no projeto desde 1984, ano de sua primeira viagem.

Segundo o filho, eles estudam as adaptações bioquímicas de animais como peixes e moluscos a condições extremas de temperatura e também os efeitos das mudanças climáticas. Coletam material (animais, sangues e órgãos congelados) e trazem para analisá-los aqui no país.

Antártida (Foto: Arquivo pessoal)
Edson pai e Edson filho posam na Antártida em viagem feita no final de 2009 (Foto: Arquivo pessoal)

Atualmente, a dupla integra um megaprojeto do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA), que envolve várias universidades brasileiras.

Para o Dia dos Pais, estão planejando um churrasco ou almoço em família, da mesma forma como passam todos os dias, pois trabalham e moram juntos.

"A ciência às vezes pede que você se ausente por longos períodos. Quando fui para a Antártida em 1989 e fiquei 9 meses, meu filho mais novo [César, que hoje estuda publicidade] tinha 6 meses e, quando voltei, ele já sabia andar, falar e não me reconhecia", lembra Rodrigues.

Ele destaca que muitos pesquisadores adiam ao máximo para ter filhos e depois, em função da idade, desistem. "É mais complicado quando a mãe também é cientista e viaja muito. E é esse o perfil moderno, de mulheres que também têm esse ritmo", diz o pai.

Sem filhos
Não ter filhos foi uma opção do diretor científico do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e professor do departamento de botânica da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Buckeridge, tomada em conjunto com a mulher, que é jornalista e o acompanha há mais de 30 anos. Ele enfatiza, porém, que a carreira não foi o que mais pesou na escolha.

“Ter filhos interfere, sim, na profissão e atrapalha em termos de gerenciamento do tempo e de quanto você trabalha. É uma decisão que também envolve planejamento financeiro. Eu e minha mulher chegamos a um consenso de que não queríamos”, disse Buckeridge, que tem quatro cães – três deles vira-latas achados pelo casal – e várias árvores e plantas de quem cuida como um pai.

De acordo com o físico e especialista em geociência espacial Luciano Marani, de 32 anos, que atua no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com estudos sobre emissão de gases estufa em áreas alagadas, é difícil manter um relacionamento sério no início da carreira.

Luciano é solteiro e gostaria de ter filhos no futuro, mas hoje está 100% focado na profissão. "Viajo de duas a três vezes por mês, já fui três vezes para a Antártida. O que me preocupa é não estar presente em casa", afirma. Além disso, segundo ele, o mercado não consegue absorver todos os doutores que a academia forma, por isso falta estabilidade. "Atualmente, sou bolsista e tenho um contrato de dois anos, que termina em breve", conta Marani.


Autor: Luna D'Alama
Fonte: G1

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