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07/10/2011

Vítimas do crack

Estudo revela perfil de mulheres reféns do crack

 

Pesquisa realizada pela Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com 60 mulheres viciadas em crack, internadas na Unidade Psiquiátrica São Rafael, do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre (RS), constatou que há uma relação entre as que carregam histórias de maus tratos na infância, em especial de negligência, e a dificuldade para reduzir os sintomas de fissura. Confira reportagem publicada na Revista PUCRS sobre o estudo.

Acompanhar o processo de desintoxicação de usuárias de crack e identificar os fatores de vulnerabilidade a que essas mulheres foram expostas, durante a infância e a adolescência, associados à fissura. Com esse objetivo o professor Rodrigo Grassi de Oliveira, coordenador do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), comanda a pesquisa Estudo de corte sobre fatores de vulnerabilidade associados ao craving (fissura) em dependentes de crack: impacto da negligência na infância na cognição, comportamento e resposta neuroendócrina.

O projeto é desenvolvido no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (Nepte) da Faculdade, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele tem como objetivo investigar fatores de risco para uso do crack ao observar o comportamento de 260 pacientes internadas na Unidade Psiquiátrica São Rafael, do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. O perfil encontrado é de mulheres entre 18 e 50 anos, usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) e de diferentes classes sociais.

O monitoramento das pacientes é de 21 dias, período médio da internação para desintoxicação. A pesquisa começou em março de 2011 e conta com 60 mulheres avaliadas. Até o momento, foi identificada uma diminuição do risco de suicídio, uma redução importante da depressão e estabilização dos sintomas de craving, a chamada fissura, um dos mais graves e intensos em usuários de crack. “A previsão é de resultados inovadores, de potencial importante, já que existem poucas pesquisas com abordagem interdisciplinar na investigação do processo de desintoxicação do crack”, prevê Grassi.

O destaque dos resultados parciais é a relação com histórias de maus tratos na infância, em especial de negligência, e a dificuldade para reduzir os sintomas de fissura. “Essas mulheres levam o dobro do tempo das demais para superar essa fase. A hipótese é de que o estresse torna vulnerável o cérebro da criança e faz com que seu sistema de recompensa seja impactado, em virtude de alterações no desenvolvimento das estruturas cerebrais relacionadas, o que mais tarde cria uma dificuldade de controlar demandas de dependência química”, explica.

Segundo o professor, das 60 mulheres investigadas, mais de 75% sofreram maus-tratos na infância. “Isso é importante porque o maior problema do crack é a recaída. Algumas delas estão internadas novamente e um dos fatores que contribuiu é a sensação de fissura”, complementa. Há também uma hipótese neurobiológica relacionada com o efeito que o estresse precoce provoca no desenvolvimento do sistema de recompensa no cérebro. Os dados serão apresentados somente ao final do estudo, previsto para o segundo semestre de 2012. “O estresse precoce da criança contribui para o contato com as drogas. Essas pessoas se tornam mais suscetíveis a buscar alternativas de transgressão, como o uso de substâncias psicoativas. Quanto mais cedo a pessoa for exposta à droga, mais difícil será não se viciar e mais difícil será a desintoxicação”, revela Rodrigo Grassi.

Segundo o psiquiatra, a média de idade para o início do uso de drogas nessa amostra é de 12 anos para substâncias como maconha e cocaína. O uso de álcool e cigarro começa mais cedo, por volta dos nove ou dez anos. “O estudo pretende mostrar a importância da prevenção primária. Políticas públicas de bem-estar infantil, reforço no Conselho Tutelar e intervenção familiar podem evitar esses problemas. Queremos quantificar a importância de uma infância adequada e evidenciar o dano que pode levar à intervenção”, garante o pesquisador.

Os quatro pilares da pesquisa

Entre as várias perguntas que o projeto da Faculdade de Psicologia busca responder, a principal é do ponto de vista psicobiológico: o que acontece com pacientes durante a desintoxicação? Para encontrar as respostas, o projeto avalia aspectos biológicos, clínicos, cognitivos e comportamentais relacionados ao craving. Os resultados atuais foram obtidos com a avaliação de vulnerabilidade, na parte comportamental, onde está a principal relação com o estresse.

No âmbito cognitivo, verificam-se as funções executivas como julgamento e tomada de decisão. São realizados testes de memória e de atenção, como o experimento chamado Iowa Gambling Task, que consiste em um jogo de cartas para simular decisões da vida real em um paradigma de lucro e perda. Na área clínica são avaliados sintomas de depressão, ansiedade, fissura, gravidade da dependência química, transtornos psiquiátricos e comportamentos autolesivos.

Os estudos biológicos utilizam o fio de cabelo para identificar o grau de exposição ao hormônio do estresse nos últimos meses em uma parceria com o Laboratório de Toxicologia. Para cada centímetro de cabelo é possível determinar um mês. Por meio de amostras de sangue, em parceria com o Laboratório de Imunologia do Estresse, são analisados os marcadores inflamatórios, neurotróficos (responsáveis pelo crescimento de neurônios) e hormonais.

A pesquisa é desenvolvida por uma equipe multidisciplinar, em parceria com grupos de pesquisa do Nepte, do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS e da equipe de Ação Social do Hospital Mãe de Deus. A coleta de dados conta com oito pesquisadores, sendo três do Hospital Mãe de Deus e cinco da PUCRS. No laboratório da Universidade, quatro profissionais trabalham na extração do material biológico e dois no gerenciamento de dados. Estão envolvidos profissionais de Psicologia, Psiquiatria, Enfermagem, Terapia Ocupacional e Educação Física.

Reabilitação pelo exercício físico

As Faculdades de Psicologia e de Educação Física e Ciências do Desporto da PUCRS (Fefid) pretendem implementar, em 2012, um projeto para intervenção na reabilitação cognitiva por meio da atividade física. Durante o segundo semestre de 2011, haverá uma seleção de alunos da iniciação científica e dois professores da Fefid serão capacitados no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (Nepte), vinculado à Faculdade de Psicologia, para trabalhar com trauma.

A proposta é desenvolver um programa de exercícios aeróbicos e de força com pessoas expostas a trauma na infância. Há uma série de evidências na literatura médica que mostra a redução de sintomas de fissura, de depressão e de ansiedade, além do aumento do período de abstinência por meio de exercícios físicos em dependentes de cocaína. “O exercício pode ser uma alternativa importante”, esclarece o professor Rodrigo Grassi.

Fonte: Revista PUCRS Informação Edição nº 156, setembro/outubro de 2011

 


Autor: Redação
Fonte: Jornal do Brasil

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