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Pesquisa acompanha 260 mulheres usuárias de crack
 
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09/11/2011

Pesquisa acompanha 260 mulheres usuárias de crack

O monitoramento é de 20 dias, período médio da internação para desintoxicação na unidade psiquiátrica São Rafael, do Hospital Mãe de Deus

Uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (Nepte) da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) acompanha o processo de desintoxicação de mulheres usuárias de crack em Porto Alegre. Além disso, o estudo pretende identificar os fatores de vulnerabilidade social a que elas foram expostas durante a infância e a adolescência.

O coordenador do Nepte, Rodrigo Grassi de Oliveira, ressalta que 90 mulheres participam nesta primeira etapa da pesquisa que se iniciou em março de 2011. A segunda fase do projeto prevê a participação de mais 170 pacientes. O monitoramento é de 20 dias, período médio da internação para desintoxicação na unidade psiquiátrica São Rafael, do Hospital Mãe de Deus. As pacientes são mulheres entre 18 e 50 anos, usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) e de diferentes classes sociais. "A meta é investigar os fatores de risco para o uso do crack ao observar o comportamento dessas mulheres", destaca.

O projeto Estudo de Corte sobre Fatores de Vulnerabilidade Associados ao Craving em Dependentes de Crack: Impacto da Negligência na Infância, na Cognição, Comportamento e Resposta Neuroendócrina, é desenvolvido pelo Nepte com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs).

Segundo Oliveira, a equipe composta por profissionais de psicologia, psiquiatria, enfermagem e terapia ocupacional identificou uma diminuição do risco de suicídio e uma redução da depressão, além da estabilização dos sintomas de craving (fissura) - um dos mais graves e intensos em usuários de crack. "Existem poucas pesquisas com abordagem na investigação do processo de desintoxicação do crack", comenta. Para o psiquiatra, o destaque dos resultados parciais da pesquisa é a relação com histórias de violência das pacientes na infância, em especial a negligência e a dificuldade para reduzir os sintomas de fissura. "Essas mulheres levam o dobro do tempo das demais para superar essa fase. A hipótese é de que o estresse torna vulnerável o cérebro da criança e faz com que seu sistema de recompensa seja impactado em virtude de alterações no seu desenvolvimento, o que mais tarde cria uma dificuldade de controlar demandas de dependência química", acrescenta.

De acordo com Oliveira, das 90 mulheres investigadas, mais de 70% sofreram maus-tratos na infância. "Esse número é importante porque o maior problema do crack é a recaída. Algumas dessas pacientes foram internadas novamente e um dos fatores que contribuiu para isso é a sensação de fissura", explica.

Conforme o professor, as mulheres participantes da pesquisa foram vítimas de abuso sexual, físico, emocional e de negligência física e emocional. "São cinco formas de maus-tratos. Mas particularmente a que mais impacta a fissura pelo crack, o chamado craving, são as formas de negligência", destaca. Junto com a monitoração do craving, os pesquisadores avaliaram sintomas depressivos e ideias de suicídio, que são bens comuns durante os primeiros dias de desintoxicação. "É tão intensa essa desintoxicação que muitas pessoas, pela possibilidade de não estarem usando, começam a pensar em morrer. Quando são privadas das drogas é muito comum essa depressão ocorrer", acrescenta.

Para o psiquiatra, existe também uma hipótese neurobiológica relacionada com o efeito que o estresse precoce provoca no desenvolvimento do sistema de recompensa no cérebro. "O estresse precoce da criança contribui para o contato com as drogas. Essas pessoas se tornam mais suscetíveis a buscar alternativas de transgressão, como o uso de substâncias psicoativas. Quanto mais cedo a pessoa for exposta à droga, mais difícil será não se viciar e mais difícil será a desintoxicação", revela.

Segundo Oliveira, a média de idade para o início do uso de drogas nessa pesquisa é de 12 anos para substâncias como maconha e cocaína. O uso de álcool e cigarro começa mais cedo, por volta dos nove ou 10 anos. "O estudo pretende mostrar a importância da prevenção primária. Políticas públicas de bem-estar infantil, reforço no Conselho Tutelar na escola e intervenção familiar podem evitar esses problemas com drogas. Queremos mostrar a importância de uma infância sem traumas", acrescenta.

Os resultados finais da pesquisa com 260 mulheres serão apresentados no segundo semestre de 2012. A próxima etapa do projeto é realizar uma pesquisa com homens usuários de crack.

Também em 2012, as Faculdades de Psicologia e de Educação Física e Ciências do Desporto da Pucrs pretendem desenvolver um projeto para intervenção na reabilitação cognitiva através da atividade física. A ideia é desenvolver um programa de exercícios aeróbicos e de força com pessoas expostas a maus-tratos na infância.

Segundo Oliveira, existe uma série de evidências na literatura médica que mostra a redução de sintomas de fissura, de depressão e de ansiedade, além do aumento do período de abstinência através de exercícios físicos em dependentes de cocaína. "O exercício pode ser mais uma alternativa importante no tratamento", comenta.


Autor: Cláudio Isaias
Fonte: Jornal do Comércio

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