Todos os serviços de Medicina Nuclear do Brasil poderão parar mais de 80% de suas atividades por falta de um material radioativo importado usado na realização de exames importantes para o diagnóstico de várias doenças, em especial, as oncológicas, cardíacas, renais e hepáticas. Isso porque a MDS Nordion, a maior produtora do material radioativo do mundo, informou que a partir do dia 29 de maio deste ano irá parar seu reator para manutenção e ainda não informou a previsão de retorno. Essa é a segunda vez que a empresa canadense pára seu reator para manutenção e gera uma crise mundial no fornecimento do material radiativo. Até o momento, nem os órgãos governamentais, nem empresas privadas brasileiras, encontraram alternativas para importação do produto.
O material radioativo, chamado molibdênio-99 (matéria-prima para a produção do tecnécio-99m) é tido como um dos mais importantes agentes para diagnóstico em medicina nuclear, utilizado em várias doenças ou disfunções de órgãos e sistemas que compõem o corpo humano. Atualmente, existem aproximadamente 30 compostos do material radiativo sendo utilizados pela medicina nuclear, gerando um volume de exames correspondente a mais de 80% da rotina clínica do serviço no país. Na Medicina Nuclear de Campinas (MN&D - Campinas), por exemplo, são realizados mensalmente mais de 1.500 exames que utilizam o material radioativo.
Para o médico nuclear Celso Darío Ramos, essa situação poderá ter consequências graves, sobretudo porque impede a realização da maioria dos exames nucleares, o que deixará pacientes que necessitam do exame para diagnóstico e acompanhamento de doenças sem qualquer possibilidade de assistência nessa área. “Na falta de recursos para o atendimento, teremos que priorizar os casos mais graves, como avaliações de extensão de tumores, que necessitam de uma resposta ao tratamento mais urgente”, pondera Celso Darío, que além de medico da Medicina Nuclear de Campinas (MN&D - Campinas) é diretor científico da Sociedade Brasileira da Medicina Nuclear e diretor do serviço de Medicina Nuclear da UNICAMP.
A crise, segundo Darío, serve de alerta às autoridades públicas para que possam se programar melhor e planejarem mais investimentos na área da medicina nuclear. “A situação deverá servir de lição não só para o Brasil, pois a crise é mundial. Mas devemos pensar na urgência de investimentos para produção local desse tipo de radiofármaco, ou então correremos o risco de ficarmos sempre de mãos atadas”, acrescenta.