Um procedimento ainda raro no Brasil, mas que vem sendo amplamente adotado em países europeus nos últimos três anos em pessoas com fibrilação atrial, a oclusão percutânea da auriculeta esquerda foi realizada recentemente com sucesso por cardiologistas do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), na Tijuca (RJ). O procedimento minimiza o risco de formação de coágulos, que podem gerar problemas como acidente vascular cerebral (AVC) ou obstrução de outras artérias do organismo.
Hipertenso e com problemas cardiovasculares, Orlando Pereira Gomes, 63 anos, desenvolveu intolerância à medicação anticoagulante. O quadro clínico dele pedia um tratamento alternativo aos remédios já prescritos. Devido à peculiaridade do caso, a equipe liderada pelo cardiologista Claudio Munhoz, responsável pela área de Arritmias Cardíacas do setor de Cardiologia do HSVP, optou pelo procedimento. “A recuperação desse paciente vem correndo como esperávamos: sem complicações e com ganho na qualidade de vida”, pontua o especialista.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), a fibrilação atrial atinge a cerca de 10% da população acima de 75 anos. Em todo o mundo, mais de 175 milhões de pessoas sofrem com a doença, que pode ser assintomática ou gerar sintomas como palpitação, fadiga, falta de ar, tontura e dor no peito. O problema propicia a formação de coágulos no coração que podem levar a embolias e acidentes vasculares cerebrais. “Existe no coração uma área onde se formam a maioria dos coágulos conhecida como auriculeta esquerda, sendo que mais de 90% dos casos de AVC nesses pacientes são causados por coágulos originados na auriculeta”, explica o cardiologista.
De acordo com o Dr. Munhoz, o principal método de prevenção de AVC na fibrilação atrial hoje em dia é o uso de medicamentos anticoagulantes, que são eficazes mas podem gerar uma série de complicações aos pacientes. “Os anticoagulantes tornam o paciente mais propenso a hemorragias, o que pode ser muito perigoso, por exemplo, em pacientes idosos, propensos a quedas ou com doenças que já tem risco de sangramentos como doenças gastrointestinais", explica. O cardiologista alerta que muitos dos anticoagulantes exigem o controle regular por exames de sangue ou têm efeitos irreversíveis em caso de sangramentos.
O médico, que é membro da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), afirma que a oclusão de auriculeta é tão eficaz quanto o uso de medicamentos, mas sem causar efeitos adversos crônicos. A intervenção é indicada para os pacientes que não se adaptam aos anticoagulantes e apresentam fibrilação atrial e risco elevado de AVC. A cirurgia consiste na colocação de uma pequena prótese, introduzida pela veia femoral por cateterismo, que ao chegar ao coração bloqueia o fluxo de sangue para a auriculeta. “Trata-se de uma cirurgia simples, e o paciente pode voltar para casa já no dia seguinte, podendo retomar sua vida normal, livre dos medicamentos anticoagulantes”, assegura o especialista.