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PUCRS cria Ambulatório do Envelhecimento Indígena
 
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10/08/2012

PUCRS cria Ambulatório do Envelhecimento Indígena

A expectativa é realizar um mapeamento completo da saúde do índio gaúcho e brasileiro, com o que chamamos de avaliação geriátrica global

Kachú, 94 anos: "A alegria entrou cedo no meu coração e na minha mente".

Em pleno século 21, o índio brasileiro vive em média 45 anos, enquanto o brasileiro não indígena alcança, com saúde, 73 anos. Os dados, divulgados no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, são alarmantes. A realidade preocupa ainda mais quando se verificam quais doenças matam esta população: parasitoses, malária, pneumonias e tuberculose - passíveis de cura por meio de tratamento adequado.

Preocupados com essa realidade, o diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG) da PUCRS, Newton Terra, e o coordenador do Núcleo de Pesquisa da Cultura Indígena da Universidade (Nepci), Ir. Édison Hüttner, uniram-se para criar o primeiro Ambulatório do Envelhecimento Indígena, que ficará localizado junto ao IGG, no 3º andar do Hospital São Lucas. "A expectativa é realizar um mapeamento completo da saúde do índio gaúcho e brasileiro, com o que chamamos de avaliação geriátrica global. Saberemos como vive o índio, o que ele come e como está a sua saúde", explica Terra. "Eles não podem viver 30 anos menos que a média do brasileiro não índio e nada ser feito em relação a isso".

Os pacientes de todo o Rio Grande do Sul serão encaminhados via Sistema Único de Saúde (SUS) pelos postos de saúde dos seus municípios. Ao chegar no IGG, passarão por avaliações completas, envolvendo médicos geriatras, nutricionistas, educadores físicos, fonoaudiólogos e dentistas. Serão feitos exames laboratoriais como hemograma, glicose, colesterol, triglicerídeos, entre outros; de imagens, incluindo ecografias, mamografias, raio x, tomografias, ressonâncias magnéticas e densitometrias ósseas; exames de traçados, como ergometria e eletrocardiograma de repouso e testes, como miniexame do estado mental, atividades instrumentais e básicas da vida diária, escala de depressão geriátrica, audiometria e espirometria.

A meta é examinar pelo menos quatro indígenas por mês no ambulatório do IGG, duplicando os atendimentos em 2012. Se necessário, a equipe do Instituto também poderá ir até as aldeias. "Nenhum índio idoso no Estado deverá ficar sem avaliação", prevê o diretor. Inicialmente serão atendidos índios com 60 anos ou mais, mas, segundo Terra, o plano é acompanhar esta população a partir dos 20 anos. "Assim podemos prever um envelhecimento saudável e longevo".

Acostumado a acompanhar a população indígena em todo o País, Ir. Huttner entende que a iniciativa se tornará referência para que outros setores da sociedade trabalhem com o índio idoso no Brasil. "Unindo os setores público e privado, resolveremos esta situação com naturalidade", acredita. O Centro de Microgravidade da PUCRS e o Nepci já utilizam tecnologias na telemedicina, examinando idosos de tribos variadas em todo o território nacional, como o que é feito, por exemplo, em Manaus, na Casa de Saúde Indígena em que atua também a Universidade Aberta da Terceira Idade. Lá, professores da PUCRS atuam como especialistas emitindo uma segunda opinião (hipótese diagnóstica) e analisando os dados de casos enviados de atendimento aos pacientes indígenas em telessaúde.

Alegria e comida como fontes de longevidade

A equipe da PUCRS Informação esteve por uma manhã conversando com integrantes da tribo kaingang que reside na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. No local vivem 127 indígenas, 30 deles idosos. São 26 famílias em 17 casas construídas em 2003, numa parceria da Prefeitura com o governo espanhol. Na Escola de Ensino Fundamental Fág Nhinhy, estudam 70 crianças. Há lindas histórias de vida dos moradores e de índios idosos com muita saúde.

Kachú, de nome brasileiro João Carlos Kanheró, aos 94 anos - aparentando, no máximo, 70 -, conta que o seu segredo para ser longevo é a felicidade, além do desejo de relatar aos filhos, netos e sobrinhos tudo o que aprendeu e viveu. "A alegria entrou cedo no meu coração e na minha mente. Nunca me preocupei demais com a vida e soube enfrentar os desafios. Sempre me tratei com semente e fruta do mato, comi peixe, almeirão do mato, que é comida de índio, milho torrado na panela, feijão, fruta e verdura. Mas hoje isso mudou e o índio come azeite, que enfraquece o sangue. A carne já não é mais pura.

O porco e a galinha são engordados com ração, cheios de porcaria. Nem a cachaça que o índio toma é pura, é veneno. Acho que o índio não pode perder a sua linguagem e a sua cultura. A sabedoria que tenho é interna, indígena, ensinada pela minha mãe e pelo meu pai", conta Kachú.

O vice-cacique da tribo, Felipe da Silva, 64 anos, considera muito importante a preocupação da PUCRS com a saúde dos indígenas. Ele lembra que, quando sua família se mudou para a Capital, doenças como depressão começaram a afetar as mulheres da tribo, inclusive a sua esposa, que precisou se tratar por dez anos com remédios.

Na escola, o cacique, filho de Silva, não permite que a comida seja feita com azeite, somente com banha de porco. "Elas devem comer arroz, feijão, carne e massa. Gostam do bolo feito nas cinzas e de frutas", relata a professora Vera Lúcia Kanika. Chocolates, doces e refrigerantes são proibidos no colégio e consumidos em datas especiais. A cultura indígena é trabalhada na disciplina de Valores, na qual os pequenos aprendem sobre as marcas clânicas (pinturas feitas nos corpos dos índios), festas dos kikis (ritual de culto aos mortos) e a língua kaingang.

População diminui no RS, mas cresce no Brasil

O último censo realizado pelo IBGE, em 2010, mostrou uma queda de 15,03% na população indígena entre os anos de 2000 e 2010, o correspondente a 5.729 índios vivendo no Estado. No Brasil, houve aumento de 83.836 residentes, passando de 734.127 para 817.963 em dez anos. O censo revelou que 80,5% dos municípios brasileiros registram pelo menos um indígena autodeclarado. No Estado, a maior parte (37,4%) se encontra na região Norte do RS. As cidades que possuem mais moradores indígenas são Redentora (4.033), Porto Alegre (3.308), Tenente Portela (1.997) e Charrua (1.524).


Autor: Redação
Fonte: PUCRS

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