
Pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP) pode ajudar a compreender a relação entre dependência e transtorno de personalidade. Intitulado "Reflexões sobre a relação entre a personalidade borderline e as adicções", o trabalho do psicanalista Marcelo Soares da Cruz observou que ambos os transtornos possuem formas muito próximas de funcionamento.
Segundo o pesquisador, é provável que a adicção (relações de dependência, seja de drogas, objetos, jogos, comportamentos ou mesmo até de pessoas) e personalidade borderline (transtorno de personalidade ) sejam causados pela falta de alguma figura familiar ou mesmo social, e que isso seja um dos principais agravantes da doença.
Para o psicanalista, quem sofre do transtorno possui relações turbulentas e oscilantes, apresenta desespero, vazio extremo e se sente constantemente ameaçado pela perda do outro. No entanto, esse outro dificilmente é de fato visto por suas características e pode ser facilmente substituído, quase que " coisificado" .
Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) têm dificuldade em guardar o outro dentro de si sem que esse outro esteja concretamente presente, por isso tamanha insegurança. De acordo com o trabalho do pesquisador, não é incomum ocorrerem casos de automutilação entre pacientes na ânsia de se sentirem mais vivos. Logo, eles buscam perturbar e mobilizar o próximo para obter evidências que eles existem para aquela pessoa. É uma forma para chamar a atenção.
O TPB não é caracterizado como psicótico, já que não ocorre rompimento total com a realidade. Pode ser facilmente confundida com depressão, bipolaridade ou psicopatia, devido alguns rompantes de ódio e raiva, e por isso pode ser uma condição difícil de se detectar.
As adicções são socialmente mais conhecidas e tratam-se de dependências por substâncias, sensações, objetos, entre outros. Neste caso dos adictos, também busca-se preencher um vazio. Diferentemente do " borderline" em que tende-se a encarar o outro como objeto, no caso do adicto ocorre o contrário. Dependências por droga, jogo, sexo, o objeto de passam a ser encarados como uma pessoa e não mais apenas o que realmente é. Há uma necessidade vital de um objeto que é tratada de forma compulsiva.
"A busca pela droga e o borderline apresentam desespero com pessoas e vão em busca da recuperação de algo fundamental que foi perdido" , explica o psicanalista. Apesar de os adictos optarem por objetos para compensar " o que foi perdido" , geralmente, como no transtorno borderline, a ausência é por conta de alguém.