Prevenção e como identificar pacientes em situações de risco de suicídio foram temas abordados na capacitação realizada para médicos em Venâncio Aires. As orientações foram ministradas pelo médico psiquiatra, Ricardo Nogueira, que é coordenador da saúde mental do Sistema Mãe de Deus em Porto Alegre, no auditório do prédio da Unimed.
Observou que os casos estão associados na maioria com depressão, com transtornos mentais, multidimensionais como fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais e ambientais e com drogadição. Ele destacou também que o problema deve ser tratado em equipe e não de forma isolada. “Deve haver tratamento adequado e em conjunto. Não se trata individualmente. A depressão vem da perda, abandono ou rejeição”.
Nogueira orientou os profissionais da saúde sobre a importância de se avaliar os casos e ter um diálogo com os pacientes. Ressaltou que, geralmente, a morte ocorre na quinta tentativa. “A maioria foi a um clínico e não a um psiquiatra”. Falou também sobre os encaminhamentos para atendimentos que devem ser necessários e sobre medicamentos que são utilizados como antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos. “Tem que manejar o paciente suicida. É uma importante tarefa do médico, pois o paciente tenta, hoje, e não consegue, mas, daqui há um mês de novo. Temos que distanciar uma tentativa da outra, porque não existe ex suicida. Ele planeja tudo. Na verdade, ninguém quer morrer, quer sair daquele problema. Mas por trás tem uma revanche, uma vingança, que é o maior prazer do ser humano”.
Segundo ele, em Porto Alegre há um local onde aqueles que sobreviveram às tentativas passam por uma equipe de auxílio e são acompanhados.
Um trabalho foi realizado, no fim do ano passado, para a prevenção e já deu resultados positivos. A iniciativa ocorreu no período de Natal e Ano Novo, pois é onde costumam acontecer casos. De acordo com o médico, aquelas pessoas que não tinham familiares ou pessoas próximas para festejarem, foram convidadas a se dirigir ao plantão do Hospital Mãe de Deus. “Como estávamos de plantão, poderiam ficar ali com a gente. È algo simples e que dá um resultado fantástico”.
Manual
Nogueira coordenou uma pesquisa em conjunto com uma equipe da Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro sobre casos de suicídio nos municípios de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Candelária e São Lourenço do Sul. O resultado foi utilizado na produção de um manual de prevenção. O conteúdo orienta profissionais das diferentes áreas. O objetivo é reduzir os índices e identificar casos em situações de risco. Neste mês, profissionais da saúde de Venâncio Aires começaram a receber a edição de bolso do material.
Dados
O psiquiatra também trouxe dados aos que participaram da capacitação. Citou que os números da pesquisa foram calculados para cada 100 mil habitantes. Em 2020, o médico observou que se pode chegar a um milhão e meio de suicídios por ano no mundo. “Se morre mais gente de suicídios do que em guerra”. No Rio Grande do Sul, hoje, já se reduziu de 12% para 8% os casos. Entre as cidades com maior índice de casos com mais de 50 mil habitantes no Estado, também estão Lajeado, Passo Fundo, São Borja e Santa Rosa. Cerca de 90% dos casos envolvem homens e 10% mulheres. Nas tentativas, ocorre o contrário. Nogueira também lembrou que 80% dos suicídios ocorrem dentro de casa, 16% nos Hospitais e 4% na rua ou em outros locais. Uma das faixas etárias onde são detectados números maiores de casos é entre 15 a 35 anos.“Hoje é problema de saúde pública. É caso de emergência”. Conforme explicou, as pessoas que cometeram suicídio procuraram serviços de saúde meses antes ou tinham registros policiais como réu ou vítima.