
O Núcleo de Atenção Psicossocial do Comitê de Crise, criado para dar acolhimento e assistência em saúde mental aos familiares e vítimas do incêndio ocorrido na Boate Kiss, em Santa Maria, no dia 27 de janeiro, realizou um total de 1.305 atendimentos entre os dias 31 de janeiro e 24 de fevereiro. Os atendimentos foram realizados em família, por grupos, por telefone, em visitas domiciliares e atendimentos individuais e encaminhamentos para internação.
O estágio atual é da abertura de novas frentes de trabalho, como a elaboração de protocolos, para dar continuidade às ações: (protocolos clínicos hospitalares, de atenção básica em saúde, de vigilância epidemiológica), e definição de estratégias para atuação longitudinal junto às redes de saúde envolvidas. Estas frentes ampliam-se em composição, alcance e complexidade, o que exige trabalho em equipe, co-responsabilização dos envolvidos, solidariedade entre as instâncias e um processo qualificado de troca de informações.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, assinou um termo, na última sexta-feira (22), que prevê um acompanhamento aos envolvidos de no mínimo cinco anos. Tal acompanhamento tem como foco, neste período, a identificação dos afetados clinicamente pela fumaça (mesmo aqueles que estejam assintomáticos) e que, nas palavras no ministro, deverão ser acolhidos para uma primeira consulta nos próximos 20 dias. O início de março foi apontado como data de deflagração desta iniciativa, cujo comando está a cargo da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre as definições já estabelecidas para dar continuidade aos trabalhos, estão as seguintes iniciativas:
1) Alerta epidemiológico: o documento orienta os profissionais de saúde quanto à obrigatoriedade da notificação da intoxicação no Sistema de Informação e Agravos de Notificaçao (SINAN), a primeira abordagem nas portas de entrada do Sistema de Saúde às pessoas envolvidas no incêndio e o necessário encaminhamento destas pessoas ao serviço especializado de referência;
2) O serviço especializado de referência para o acompanhamento clínico das pessoas expostas é o Hospital Universitário de Santa Maria, inclusive para municípios situados fora de sua área de abrangência. O agendamento do primeiro atendimento dos usuários que vivem fora de Santa Maria deve ser realizado pelas respectivas Secretarias Municipais de Saúde por telefone.
3) O cadastro das pessoas que já foram atendidas em algum serviço de saúde por conta do episódio na Boate Kiss foi unificado. Constam no cadastro unificado 581 pessoas das quais 489 são do município de Santa Maria e as demais são de outros 36 municípios. Este cadastro poderá servir como ferramenta para monitorar o alcance do alerta epidemiológico e também poderá ser utilizado para busca ativa das pessoas.
4) Um banco de dados para inclusão e sistematização das informações coletadas pelo questionário mencionado acima será criado pela divisão de informática da Secretaria Estadual da Saúde (SES).
5) O acompanhamento psicossocial aos sobreviventes e seus familiares, além de contatos e familiares das vítimas fatais, trabalhadores do resgate e outras pessoas que se sentiram afetadas pelo evento tem como referência em Santa Maria a equipe multiprofissional de saúde mental do Acolhimento 24h. Alunos da Universidade Federal do município (UFSM) são exceção a esta regra, pois há um serviço de acolhimento psicossocial na universidade, que poderá recorrer ao Acolhimento 24h caso seja necessário.
6) A 4°Coordenadoria Regional de Saúde, com sede em Santa Maria, criou um grupo gestor para o acompanhamento das ações de cuidado aos envolvidos no evento da Boate Kiss. Este grupo é o embrião de um grupo gestor de linha de cuidado para a população envolvida no evento, uma vez que o cuidado em saúde ofertado remete a um trabalho em rede e à relação estreita entre gestão/atenção/educação/controle social.