No Dia Nacional de Luta contra as Queimaduras, celebrado em 6 de junho, a Sociedade Brasileira de Queimaduras faz um alerta aos pais e responsáveis por crianças pequenas, pois elas representam 2/3 das vítimas deste tipo de acidente no Brasil. Segundo estimativas da SBQ, 1 milhão de pessoas sofrem queimaduras a cada ano no país, apesar de as situações em que as queimaduras ocorrem serem previsíveis e evitáveis. “As crianças na maioria das vezes se queimam em casa, em especial na cozinha e no pátio, e quase sempre na presença de um adulto que não está atento aos riscos daquela situação”, explica a pediatra Maria Cristina Serra, presidente da SBQ.
Para que as próprias crianças desenvolvam uma noção sobre o perigo, a Sociedade Brasileira de Queimaduras, com apoio da Mauricio de Sousa Produções e patrocínio da Unicred Brasil, reeditou um gibi da Turma da Mônica em que todas as tirinhas destacam os riscos de queimaduras. Com distribuição gratuita e dirigida a escolas de Ensino Fundamental e unidades de saúde, os quadrinhos destacam, em 20 páginas, os maiores vilões das queimaduras, que são as panelas com líquido escaldante, as fogueiras, as tomadas elétricas e o álcool líquido – que normalmente é armazenado ao alcance das crianças, juntamente com produtos de limpeza não-inflamáveis.
Neste sentido, uma das principais bandeiras da SBQ nos últimos anos foi a restrição da venda do álcool líquido. O clamor se espalhou “feito fogo”, ganhando o reforço de inúmeras instituições de defesa das crianças e do consumidor, que comemoraram este ano um grande avanço para a prevenção de queimaduras. A decisão judicial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em favor da RDC 46/2002 da Anvisa, garantiu a suspensão da fabricação, distribuição e comercialização do álcool líquido com graduação maior que 54°GL, equivalente a 46,3º INPM. Publicada no Diário Oficial da União de 25 de fevereiro de 2013, a medida reverte uma decisão favorável à Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool (Abraspea), que há 10 anos inviabilizava a aplicação da Norma da Anvisa.
Outra conquista recente, também com participação da Sociedade Brasileira de Queimaduras, foi a aprovação de um projeto de lei que beneficia as vítimas de queimaduras graves com acompanhamento contínuo e gratuito. Com autoria do parlamentar catarinense Dado Cherem (PSDB/SC), o PL 161.6/12 foi proposto por iniciativa da SBQ, e no momento depende apenas do veto do Governador Raimundo Colombo para vigorar em Santa Catarina. “Queremos assegurar às vítimas de queimaduras graves uma assistência integral especializada, que inclua não apenas o atendimento de urgência, mas também as cirurgias plásticas reparadoras, a reabilitação física e psicológica, transporte público gratuito e direito à vaga de estacionamento para pessoas portadoras de deficiências”, defende o deputado estadual que, como Secretário de Estado da Saúde entre 2003 e 2009, já havia lançado duas grandes campanhas de prevenção às queimaduras.
Para o cirurgião plástico Dilmar Leonardi, ex-presidente da SBQ, o Projeto de Lei catarinense é um modelo a ser seguido nos demais estados do país, pois representa uma chance efetiva de reinserção social dos queimados. “Não é mais possível que eles continuem sendo duplamente vítimas: na hora do acidente e depois, pela exclusão laboral e social. É um dever do poder público garantir a esses pacientes a capacidade de uma recuperação plena e a expectativa de uma vida melhor, e o deputado Dado Cherem merece o nosso reconhecimento por dar o primeiro passo nesse sentido”, enfatiza o especialista. “Hoje não há políticas públicas para promover a inserção social das vítimas de queimaduras, as quais carregam para sempre o trauma psicológico e as marcas no corpo, e como se não bastasse, costumam ficar em condições de desigualdade no mercado de trabalho”, justifica o deputado estadual pelo PSDB-SC.
COMO EVITAR QUEIMADURAS EM FESTAS JUNINAS:
São consideradas queimaduras graves aquelas que atingem mais de 30% da superfície corporal, ou que são motivadas por choques elétricos e lesões inalatórias, por exemplo. No Brasil, as queimaduras estão entre as principais causas externas de morte, perdendo apenas para outras causas violentas, que incluem acidentes no trânsito e homicídios. “A situação costuma se agravar nesta época do ano, quando os próprios pais envolvem seus filhos nos preparativos para as festas juninas, acendendo fogueiras e lançando foguetes”, alerta o chefe da Unidade de Queimados do Hospital da Restauração em Recife, dr. Marcos Barreto.
Os fogos de artifício podem provocar queimaduras (70% dos casos); lesões com lacerações/cortes (20% dos casos); amputações dos membros superiores (10% dos casos); lesões de córnea ou perda da visão e lesões do pavilhão auditivo ou perda da audição. Confira as principais recomendações para evitar queimaduras e outros traumas nas Festas Juninas:
- fazer sempre fogueiras baixas, o que evita desmoronamentos que acabam espalhando as brasas;
- nunca acender as fogueiras jogando o combustível, em especial gasolina, álcool ou solvente;
- não manipular o fogo sob o efeito de bebidas alcoólicas;
- não deixar que as crianças sejam responsáveis por qualquer fase neste processo, tanto de acender fogueiras quanto de soltar fogos.
- não preparar refeições com criança no colo;
- não permitir que as crianças brinquem na cozinha durante o preparo das refeições;
- não deixar álcool, solvente ou gasolina armazenado ao alcance das crianças;
- sempre designar um responsável para cuidar das crianças enquanto os demais adultos preparam a alimentação.
Especificamente sobre fogos de artifício:
- só utilizar fogos de artifício com procedência garantida;
- não manipular os fogos sem antes ler o rótulo;
- não segurar os fogos de artifício com as mãos;
- prender o rojão em uma armação, em uma cerca ou em um muro, e não ficar próximo na hora de acender;
- não tentar acender fogos que falharem;
- disparar os fogos somente ao ar livre, um de cada vez, observando se não há substâncias inflamáveis ou redes elétricas nas proximidades;
- ter sempre um recipiente de água por perto para colocar os foguetes já usados, ou aqueles que falharam, para não haver riscos de novas explosões.