Os resultados práticos ainda devem demorar alguns anos, mas cientistas de todo o mundo apostam na impressão 3D para solucionar o problema de transplantes de órgãos, responsável, segundo estimativas, pela morte de um paciente a cada 30 segundos por ser vítima de doenças que poderiam ser tratadas com a substituição de tecidos. Estudos realizados em países como Estados Unidos, Inglaterra e Escócia, entre outros, apontam que a técnica é capaz de sintetizar tecidos usando células vivas para acabar com as filas de pacientes que esperam por um transplante. Em Campinas, (SP), os protótipos, criados a partir de imagens da Tomografia Computadorizada, já auxiliam no planejamento de cirurgias complexas, implantes e localização exata de tumores. O uso da tecnologia faz parte de uma parceria entre o ortopedista José Carlos Barbi com o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI).
Segundo Barbi, a tecnologia tem transformado positivamente a medicina. A partir de imagens fornecias pela Tomografia Computadorizada, uma impressora vai moldando aos poucos um pé, uma mão, uma cabeça e inúmeras outras partes do corpo humano que precisam de uma análise mais detalhada do médico antes da cirurgia. “Hoje utilizamos os protótipos para a recuperação óssea de algumas anomalias provocadas por tumores e acidentes de carros ou motos. Mas tenho a convicção de que no futuro poderemos conseguir órgãos para serem transplantados”, diz Barbi.
E as perspectivas para isso são boas. Cientistas da Universidade Heriot-Watt (Edimburgo) já anunciaram ter conseguido imprimir objetos tridimensionais usando células-tronco embrionárias. Segundo os pesquisadores, quando ajustada, a tecnologia poderá permitir a criação de tecidos humanos tridimensionais em laboratório, eliminando a necessidade de doação de órgãos para transplantes ou o uso de animais em testes para medicamentos. Ainda, segundo a pesquisa, as células-tronco embrionárias humanas podem se replicar indefinidamente e dar origem a qualquer tipo de célula do corpo humano. Elas são apontadas como fontes de tecidos substitutos, reparando quase tudo, de corações a pulmões defeituosos a lesões na espinha, entre outros.
O estudo foi publicado no periódico Biofabrication, do Instituto de Física da Grã-Bretanha. O maior desafio para os avanços da pesquisa é imprimir um órgão inteiro com a estrutura vascular ali dentro para alimentar, permitindo aos tecidos sobreviver no longo prazo. Por ter estrutura biológica mais simples, o órgão mais próximo de ganhar um protótipo é o fígado.
Enquanto a realidade de se produzir pela impressão 3D um órgão humano para transplante não chega, Barbi se orgulha dos protótipos impressos, a maioria formada por pés, tornozelos, pernas e colunas de pacientes que, por motivos diversos, foram orientados a fazer uma tomografia em 3D. “Os dados da Tomografia Computadorizada são encaminhados para os pesquisadores do CTI, que preparam um molde em 3D e o encaminham para a impressora, que começa a montar o objeto, depositando o material escolhido camada por camada. Quando todas as camadas forem construídas, o objeto está pronto e é encaminhado para nós o molde exato, em tamanho real, da parte do corpo que será estudada”, conta. “A precisão dos detalhes na impressão da tomografia em 3D é tão notável que é como se pudéssemos tocar previamente o interior do paciente, o que permite um estudo antecipado do procedimento cirúrgico, sem que haja surpresas”, conclui.