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Relação entre chumbo e tireóide: o risco ambiental
 
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10/08/2009

Relação entre chumbo e tireóide: o risco ambiental

Pesquisa inédita revela que o chumbo no ambiente pode ser a causa de alto número de casos de doenças da tireoide

 

 

Um estudo inédito pode mudar o destino dos moradores da divisa entre Santo André, Mauá e São Paulo, onde estão as indústrias do polo petroquímico da região do ABC paulista. A análise de amostras de cascas de árvores extraídas da área - uma metodologia inovadora para analisar a poluição ambiental - mostrou a presença de resíduos de chumbo.

As partículas do metal - altamente tóxico - podem ser a causa do grande número de casos de tireoidite crônica encontrados na área. Caracterizada por uma disfunção na glândula tireoide, a doença leva a problemas como insônia, depressão ou infertilidade. Ali, o distúrbio é cinco vezes mais frequente do que em locais que estão a oito quilômetros do centro industrial. No Parque Capuava, bairro bem próximo às empresas, por exemplo, 46% da população apresenta a enfermidade. Enquanto isso, em Santa Maria, mais distante, a doença afeta 2,9% dos habitantes.

ISTOÉ teve acesso com exclusividade ao trabalho da endocrinologista Maria Ângela Zaccarelli Marino, da Faculdade de Medicina do ABC, que revelou a presença do chumbo na região. A pesquisa foi feita em parceria com o Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo, sob coordenação do especialista Paulo Saldiva, e com a participação da engenheira florestal Ana Paula Garcia.

A médica Maria Ângela estuda a tireoidite crônica neste território há 20 anos, quando atendeu o primeiro paciente em seu consultório, em Santo André. "Era um homem e eu sabia que a doença era rara em homens e crianças. Fiquei impressionada e comecei a pesquisar", conta. Quando se deu conta da dimensão do problema, ela notificou as autoridades de saúde e resolveu investigar o que ocorria. Desde então, avaliou 2.151 pessoas. Uma delas é Noemi Silva, 17 anos. Ela apresentou o problema aos 7 anos. Já a esteticista Carla Maximiano, 29, e sua prima, a advogada Kelly Maximiano, 30, foram atingidas na adolescência. Todas sofreram consequências graves. Noemi, por exemplo, teve problemas de crescimento e de aprendizagem. "Com tratamento, os sintomas sumiram", afirma. A garota, assim como os outros pacientes, é obrigada a repor, com remédios, os hormônios que deixaram de ser produzidos pela tireoide.

As investigações se voltaram para a origem da alta incidência da doença. Um trabalho apontou o excesso de iodo no sal como a causa, mas outra pesquisa, feita pelo Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo (CVE), não encontrou concentração elevada da substância nos pacientes. Decidiu-se, então, apurar a presença de metais pesados no ambiente, outro desencadeador. O método usado para isso foi desenvolvido por brasileiros e se mostrou uma alternativa barata e eficiente: a procura dos metais em cascas de árvores. Foram analisadas amostras de troncos de 37 árvores nos arredores do polo.

Os pesquisadores constataram a existência de chumbo no ambiente e em níveis muito altos. A média foi de 4 ppm (partes por milhão), mas houve árvores com 15,6 ppm. Em experiência semelhante realizada numa área onde não há indústrias em Embu, na Grande São Paulo, o nível foi de 1 ppm. "O ideal é não haver nenhuma concentração desse metal", explica Ana Paula. A etapa seguinte foi combinar as informações com o mapa dos casos da doença. "Relacionamos a concentração de chumbo com a quantidade de pessoas com tireoidite crônica nesses bairros", explica Saldiva. A análise mostrou que o número de casos da doença é maior justamente onde há maior concentração do metal.

Para os cientistas, a associação entre o chumbo e os casos da doença nesta área é evidente - o metal está presente em dezenas de processos industriais. No entendimento dos responsáveis pelo centro industrial, a razão pode ser outra. "Por parte do polo, não há atividade que remeta ao grande número de casos da enfermidade na região", afirma Ana Cláudia Govatto, gerente-executiva da Associação das Indústrias do Polo Petroquímico.

O caso se tornou objeto de inquérito aberto pelo Ministério Público Estadual. "Será necessário apurar a fonte do chumbo. Se ficar provado que o metal está relacionado ao aparecimento dos casos de tireoidite, os pacientes podem ser indenizados pelo causador do dano ambiental e à saúde humana", diz José Luiz Saikali, promotor público de Santo André. Até o final do ano, o CVE realizará testes de sangue na população dos locais afetados para aprofundar as investigações. "Os resultados desse estudo, que revela a presença de chumbo na região, serão úteis para orientar o trabalho", disse Rosana Panachão, diretora da Divisão de Meio Ambiente do CVE.


Autor: Mônica Tarantino
Fonte: Isto É Independente

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