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Cirurgia de retirada dos ovários, anunciada por Angelina Jolie, divide especialistas
 
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21/03/2014

Cirurgia de retirada dos ovários, anunciada por Angelina Jolie, divide especialistas

Atriz pretende evitar câncer, mas pode ficar sujeita às complicações da menopausa precoce e ao surgimento de outros tumores

Mais uma vez Angelina Jolie levanta polêmica ao anunciar uma nova cirurgia preventiva ao desenvolvimento de câncer. A atriz hollywoodiana declarou que pretende realizar em breve a 'segunda etapa' de procedimentos que visam conter o alto risco diagnosticado geneticamente para o surgimento de tumores mamários e ovarianos.

Em maio do ano passado, Jolie anunciou a remoção das duas mamas e, agora, pretende fazer a retirada dos ovários. Mesmo sem ter a enfermidade diagnosticada, a premiada atriz norte-americana, mãe de três filhos biológicos e três adotivos, conhece a doença de perto. Aos 56 anos, a mãe dela, Marcheline Bertrand, perdeu uma batalha de 10 anos contra o câncer de ovário e morreu em 2007.

Segundo o diretor-médico do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), Marcelo A. Calil, os ovários estão em regiões profundas da pélvis, onde há uma dificuldade de acesso. Por esse motivo, os exames para detecção de algum câncer ou tumor ainda não são tão precisos. Porém, ele acredita que, enquanto não há alteração diagnosticada nos órgãos, colocar a paciente sob cirurgia tentando prevenir que ela não venha a ter a doença é expô-la a um risco cirúrgico sem garantia total de necessidade do procedimento. Calil lembra que, mesmo com a retirada dos ovários, ainda é possível que a paciente desenvolva uma doença semelhante no mesmo local ou nas adjacências.

— A Angelina Jolie tem um risco genético aumentado que exige que se faça um controle maior, mas não há um consenso de que se deve tirar os ovários. Em uma mulher jovem, sempre que há maiores riscos porque os ovários são os produtores dos hormônios femininos — pondera.

A retirada de ambos pode levar à necessidade de uma reposição hormonal, que também leva à possibilidade de efeitos colaterais indesejados.

— A cirurgia reduz as chances de a mulher ter um câncer de ovário, mas não em 100%, e expõe ela ao risco cirúrgico e anestésico, além da menopausa precoce com a interrupção da produção de estrógenos — enumera Calil.

O médico considera que, no caso de Angelina, a reposição é mandatória, já que a falta dos hormônios femininos naturais pode levar à osteoporose, à elevação do risco de doenças cardiovasculares e até mesmo a uma alteração da pele da atriz. O último acontece devido à aceleração do processo de envelhecimento, comum na falta de estrógenos.

— Ainda não há nenhuma posição da comunidade científica, que está muito dividida quanto a essa ooforectomia profilática.

Espera perigosa

Nesse ponto, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e chefe de ginecologia do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Jesus Paula Carvalho, é mais categórico e incisivo: às pacientes com a mutação genética BRCA 1 e BRCA 2 é recomendado que retirem os ovários e as tubas uterinas entre 35 e 40 anos. O médico é irredutível e se mostra cético quanto à necessidade de cirurgia em casos como o de Angelina Jolie. Ele argumenta que, quando o risco aumentado é garantido por exames, as chances de ocorrência da doença estão próximas de 50% ao longo da vida.

— E é uma doença fatal na maioria dos casos. Esse é o drama porque, se esperar para tirar depois, não dá mais. A doença já se desenvolveu — afirma o professor.

A recomendação apontada por Carvalho está nas diretrizes de 2013 da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) - uma aliança de 23 centros de câncer nos Estados Unidos.

— Quando ela anunciou que faria a dupla mastectomia, eu questionei porque não ter começado pelos ovários, que levam a uma doença muito mais grave. Isso porque o câncer de mama é curável, o de ovário não — diz Carvalho.

Os tumores ovarianos com motivação na herança genética estão entre 5% e 10% dos casos, e a única forma de prevenção é a retirada profilática. Carvalho reforça que, nessa condição, a doença começa a se desenvolver a partir dos 35 anos, sem qualquer sintoma aparente.

—Claro que é um problema porque ela vai ficar estéril e vai perder os hormônios naturais. Então, é algo muito sério. Mas ela sabe que é mutada e sabe o risco que tem de ter a doença — comenta.

O ginecologista afirma que o procedimento não é comum no Brasil porque as pessoas desconhecem essas informações e o teste genético também é recente.

Condições precisas

Coordenador de oncologia clínica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, Artur Katz é mais ponderado quanto à indicação da cirurgia e até mesmo do exame genético. Segundo ele, para que a paciente chegue a fazer o exame genético, é preciso que confirme alguns fatores específicos que predisponham à possibilidade de um risco elevado. Somente quando esse risco hereditário é certificado, a remoção profilática de útero e ovários passa a ser discutida.

— O exame deve ser discutido com um oncogeneticista porque não é toda mulher que tem indicação para fazer. As condições são muito precisas — afirma.

Entre elas, estão mulheres que tiveram um tumor antes dos 40 anos, pacientes com tumor mamário bilateral e com duas familiares de primeiro grau que tiveram câncer de mama.

— Existe uma série de critérios claramente estabelecidos de quem deve ou não fazer esse teste. Então, não é qualquer mulher que deve ir ao laboratório porque está preocupada. Ele só pode ser solicitado por um oncogeneticista, que vai avaliar se há indicação — alerta Katz.

Caso o resultado seja positivo, deve-se discutir com o especialistas se existe um risco suficientemente elevado para que seja tomada a atitude preventiva. Katz considera o procedimento cirúrgico de certa forma simples, o maior inconveniente seria a infertilidade e a indução da menopausa precoce.

— Ela traz os inconvenientes já conhecidos sobre saúde óssea, redução de libido e sintomas ginecológicos, como a secura vaginal — diz.

A reposição hormonal é feita com ressalva em pacientes desse tipo, pois também deve-se obedecer a uma série de recomendações que garantem até que ponto é um procedimento seguro.

Prevenção genética

A atriz teria removido as duas mamas devido ao alto risco (87%) de desenvolver o câncer de mama, identificado após um exame genético. A escolha feita por ela trata de uma cirurgia de retirada do tecido mamário em que a redução do risco é diretamente proporcional à quantidade de tecido retirado. Sendo o mais indicado retirar entre 90% e 95%. Quanto maior o risco, maior tende a ser a intervenção preventiva.

Foto: Reprodução Zero Hora.


Autor: Bruna Sensêve
Fonte: Zero Hora

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