A vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), iniciada nas redes de ensino em 10 de março, pretende reduzir a incidência do câncer de colo de útero no país pela imunização de meninas entre 11 e 13 anos. Mas embora a ação seja importante na luta contra o segundo câncer que mais mata mulheres no Brasil, a vacina não deve dar a sensação de proteção total e ser tomada como único método de prevenção, advertem especialistas.
A eficácia da vacina é de 98,8%, mas as três doses previnem contra apenas quatro tipos do vírus — dentre cem. Dois deles causam o câncer e dois são relacionados ao aparecimento de verrugas.
— Sabidamente são os mais relacionados ao câncer do colo uterino, mas ela não cobre outros que podem gerar infecção na mucosa vaginal, na vulva e no parceiro sexual — diz Sérgio Galbinski, ginecologista do setor de reprodução humana do Hospital Fêmina.
Desta forma, as consultas ginecológicas anuais, assim como os exames e o uso do preservativo, devem continuar sendo feitos, independentemente da idade sexual, pois previnem contra outras infecções ou doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como clamídia, sífilis, gonorreia, hepatite B e HIV.
— O risco que a pessoa tem de adquirir o HPV é o mesmo que tem de adquirir qualquer outro tipo de infecção por transmissão sexual — explica o professor de ginecologia da Faculdade de Medicina da UFRGS Paulo Naud, consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A clamídia, por exemplo, é uma DST que não traz sintomas, mas ataca o colo do útero e pode levar à infertilidade (quando a mulher não consegue engravidar pelos métodos tradicionais) ou à esterilidade (quando perde a capacidade total de ser fértil).
Diferentemente da vacinação contra o HPV, que tende a começar cedo, os exames podem começar a ser feitos após a primeira relação sexual, quando há maior exposição à transmissão de DSTs. A periodicidade deve ser pelo menos anual, como uma forma de prevenção, e para que o tratamento, no caso de detecção de doenças, seja mais eficaz.
— Pelo tratamento precoce das infecções, tanto por HPV quanto por outras bactérias e vírus, é possível prevenir o câncer e os danos à capacidade reprodutiva — afirma Galbinski.
Papanicolau é o teste que nunca pode ser esquecido
Os especialistas ressaltam que o teste que não deve deixar de ser feito é o Papanicolau, exame que detecta células indicativas do HPV, assim como lesões pré-malignas ou malignas no colo uterino. A orientação do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de que deva ser feito dos 25 aos 64 anos, pois mesmo quando a contaminação ocorre na adolescência, os sintomas do papilomavirus irão aparecer na segunda década de vida, aponta Naud. O professor também afirma que qualquer exame é apenas complementar à consulta médica.
A campanha
- Neste ano, a população-alvo da vacinação serão adolescentes do sexo feminino de 11 a 13 anos. Em 2015, serão vacinadas as meninas na faixa de nove a 11 anos e, a partir de 2016, de nove anos.
- Cada adolescente deverá tomar três doses, sendo a segunda seis meses depois da primeira, e a terceira, cinco anos após a primeira dose.
- Há vacinação nas escolas e em postos de saúde.
Checkup
Exames que devem ser feitos pelas mulheres, mesmo que tenham sido vacinadas contra o HPV
Consulta ginecológica - anual
- Médico verifica se há alterações ginecológicas visíveis, secreções, entre outras. Após a primeira menstruação, a dica é que se procure um médico quando o ciclo é irregular ou haja complicações. O mais indicado é que seja após a primeira relação sexual.
Papanicolau, preventivo ou citopatológico - anual
- Mostra células que podem ser indicativas do próprio HPV, pré-malignas ou malignas. Também é possível ver as características bacteriológicas genitais (na prevenção de infecções). A partir dos 25 anos, ou quando houver indicação.
Exame direto - anual
- Pela observação da secreção, o médico verifica se há infecção por fungos, como a gardnerella, por candida albicans, trichomonas vaginalis (doenças vaginais, sexualmente transmissíveis), e outras inflamações.
Coldoscopia - anual
- Verifica alterações no colo do útero, decorrentes de infecções, como o HPV, e direciona para a realização de biópsias. Dependendo da indicação médica, pode ser feito anualmente ou apenas quando houver lesões. Nesse caso, a indicação para realizá-lo pode ser trimestral ou semestralmente durante dois anos.