Até que ponto o obstetra pode determinar o tipo de parto de uma gestante? Para a ginecologista e obstetra Bárbara Murayama esta decisão deve ser orientada pelo médico, que tem formação acadêmica para agir em qualquer tipo de situação. A grávida Adelir Goes, 29 anos, não queria abrir mão do parto normal, mesmo sabendo que ela e o bebê corriam risco de morrer. Por conta disso, a médica que atendeu a paciente em Torres, a 200 km de Porto Alegre, recorreu a Justiça gaúcha, que determinou que a gestante fosse submetida a uma cesariana.
— A gente tem conhecimento técnico diferenciado, senão não precisaria de médico. Não precisa correr este risco nos dias de hoje com todas as ferramentas nos hospitais que a gente tem, mas a gente não pode obrigar ninguém. Este não é nosso papel e nem nosso interesse.
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De acordo com o protocolo da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia), as condições clínicas da mãe indicavam o procedimento cirúrgico porque o bebê estava sentado. Nesta situação, o corpo pode até sair, mas a cabeça da criança fica “entalada” no colo do útero da mãe. Além disso, a Adelir já havia feito duas cesarianas anteriores e, com as contrações do parto normal, a cicatriz do procedimento poderia abrir e levá-la a uma hemorragia fatal.
Neste caso, Bárbara reforça que apesar de o parto normal ser priorizado pela mãe, na prática não havia condições clínicas favoráveis para sua realização.
— Somos responsáveis por aquelas duas vidas. Então é complicado a gente saber o que é o certo e, de repente, não ter ferramentas para que o certo aconteça.
Enquanto a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que apenas 15% dos partos sejam feitos por cesariana, no SUS (Sistema Único de Saúde) o procedimento cirúrgico corresponde a 36,8% do total de nascimentos. Quando são levados em consideração os partos feitos com uso de planos de saúde particulares, a porcentagem chega a impressionantes 80%.
Foto: Grávida Adelir Goes, 29 anos, não queria abrir mão do parto normal. Crédito: Reprodução Record.
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