Enfrentar o diagnóstico de câncer não é tarefa fácil. No caso das mulheres, encarar a quimioterapia sem associar seus efeitos colaterais com a queda de cabelo, as alterações da tenacidade da pele e a perda dos pelos do corpo é ainda mais complicado. No Dia Mundial de Luta contra o Câncer, celebrado na última terça-feira (8), a psicóloga Juliana Ono Tonaki, do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), explica que “a vida não precisa ser 100% o tratamento”.
— A mulher precisa ter vida pessoal, social e profissional. O tratamento não impede a paciente de sentir prazer em se arrumar. Ela pode tratar o câncer e se preocupar com a roupa que vai vestir, a maquiagem e seus desejos pessoais.
Segundo Juliana, durante este processo, é natural a pessoa sentir desânimo, falta de energia e tristeza.
— O problema é quando estes sentimentos se tornam persistentes. Neste caso, é preciso intervir para não evoluir e virar uma depressão. Ninguém precisa ser 100% alegria, é comum termos momentos mais tristes.
Um dos momentos mais difíceis para as mulheres que lutam contra o câncer é ficar careca. Este é o caso da corretora de imóveis Gislaine Aparecida Alves, 43 anos. Em fevereiro, ela foi submetida à mastectomia dupla (retirada total das mamas) e agora está no tratamento quimioterápico.
— Preferi raspar o cabelo para sofrer menos, mas confesso que ficar careca foi o que mais me abalou até agora.
Segundo a psicóloga, “as mulheres têm receio de que a própria imagem as transforme em uma referência negativa socialmente”.
— Além disso, há os questionamentos sobre o parceiro, o que é natural. Neste caso, intimidade e companheirismo do casal aliado a bastante diálogo são fundamentais para enfrentar este processo de forma otimista.
E se mesmo assim a mulher se sentir desconfortável em exibir a careca, há algumas alternativas para driblar a queda dos fios. É neste momento que lenços, chapéus e perucas entram em cena. Gislaine optou pela peruca preta de fios sintéticos.
— Eu queria comprar a peruca natural igual a da Hebe [Camargo], mas custa quase R$ 3.500. Aí, soube que o Icesp fornecia peruca gratuitamente e escolhi uma de cabelo preto. Comecei a usá-la ontem [segunda-feira, 7] porque voltei a trabalhar e já ganhei o apelido de Cleópatra.
O Icesp, por meio da Associação dos Voluntários do Hospital das Clínicas, oferece cerca de 50 perucas por mês às pacientes que se tratam no hospital. Além dos fios sintéticos, recentemente a instituição começou a receber doação de cabelo natural e envia para um cabeleireiro confeccionar as perucas, conforme explica Oli Minutti, coordenadora das voluntárias do Icesp.
— Já arrecadamos um saco de 50 litros de cabelo que recebemos em forma de doação e até o momento revertemos em seis perucas naturais. Como ainda são poucas, optamos por doá-las às mulheres que estão com a autoestima baixa e emocionalmente mais abaladas.
Oli trabalha como voluntária no Icesp há quase seis anos e coordena um grupo de 52 pessoas que ajudam os pacientes e seus familiares a enfrentar a doença. Durante este tempo, ela teve um caso de câncer na família e garante que este trabalho a fortaleceu e deu esperança para encarar esta batalha.
— Viver os dois lados é completamente diferente. Há dois anos minha filha, hoje com 34 anos, diagnosticou câncer de tireoide. Acho que o meu trabalho voluntário foi uma preparação para eu viver este momento e não me desesperar.
Aos 68 anos, Oli não mede esforços para ajudar o próximo. Ela faz questão de ir pessoalmente escolher as perucas de fios sintéticos a cada 15 dias e como recompensa ganha um sorriso emocionado das pacientes.
— É cansativo, fico estressada, mas acho importante na minha faixa etária ter uma ocupação. São desafios e não quero parar.
De acordo com a psicóloga do Icesp, lidar de forma positiva com a doença é uma das maneiras e obter sucesso no tratamento.
— O humor mais deprimido altera o sistema imunológico e pode influenciar no tratamento. É uma fase difícil e cada paciente reage de uma forma, mas é fundamental tentar encarar o problema com otimismo.
Locais que recebem doação de cabelo
Icesp
Endereço: avenida Dr. Arnaldo, 251, Cerqueira César, São Paulo (SP)
CEP: 01246-000
Cabelegria
Endereço: avenida Parada Pinto, 3.420, bloco 6, apto 33, Vila Nova Cachoeirinha (SP)
CEP: 02611-001
Hospital do Câncer de Uberlândia
Endereço: rua Ivaldo Alves do Nascimento, 645, Aparecida - Uberlândia (MG)
CEP: 38400-683
Hospital do Câncer de Barretos
Endereço: rua Paulo de Mattos Leandro, 1357, Paulo Prata, Barretos (SP)
CEP: 14784-379
Foto: Gislaine Alves optou pela peruca preta de fios sintéticos. Crédito: Daia Oliver / R7.