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As raízes evolutivas da depressão
 
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27/08/2009

As raízes evolutivas da depressão

Dois cientistas sugerem que a depressão não é um mau funcionamento, mas uma adaptação mental que traz certas vantagens cognitivas

A depressão parece estar sob um paradoxo evolutivo. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, junto de estimativas de outros países, revelaram que entre 30 e 50% das pessoas se encontram em consonância com os critérios diagnósticos psiquiátricos para transtornos de depressão maior, mesmo que em algum momento de suas vidas. Contudo, o cérebro desenvolve papéis cruciais para promover a sobrevivência e a reprodução das espécies, assim, as pressões da evolução deveriam ter deixado nossos cérebros resistentes para tais taxas de “mau funcionamento”. Os transtornos mentais, geralmente, deveriam ser raros – mas por que a depressão não é?

Esse paradoxo poderia ser solucionado se a depressão fosse um problema do envelhecimento. O funcionamento de todos os sistemas corpóreos e órgãos, inclusive o cérebro, tende a se deteriorar com idade. Essa não é uma explicação satisfatória para a depressão, pois as pessoas tendem a experimentar o primeiro ciclo depressivo já na fase da adolescência e na adultez jovem.

Talvez a depressão possa estar associada à obesidade, afirmam alguns especialistas - um problema que surge porque as condições modernas são muito diferentes das quais nós evoluímos. O Homo Sapiens não evoluiu com biscoitos e refrigerante facilmente disponíveis. Contudo, essa ainda não é uma explicação satisfatória. Foram verificados sintomas de depressão em todas as culturas examinadas cuidadosamente, incluindo as sociedades de pequena escala, como a Ache, no Paraguai, e a do Kung, na África sulista - sociedades nas quais se acredita que as pessoas vivem em ambientes semelhantes às de nosso passado evolutivo.

Há outra possibilidade: que, na maioria dos exemplos, a depressão não deveria ser pensada como um transtorno. Em um artigo recentemente publicado na revista Psychological Review, foi discutido que a depressão é na realidade uma adaptação, um estado mental que traz reais custos, mas também traz reais benefícios.

Uma razão para suspeitar que a depressão é uma forma de adaptação, e não um mau funcionamento, baseia-se na pesquisa a respeito de uma molécula no cérebro, conhecida como receptor 5HT1A. O receptor 5HT1A liga-se a serotonina, outra molécula do cérebro que é altamente implicada na depressão, base de ação da maioria dos antidepressivos atuais. Em estudos com ratos, identificou-se que nos quais faltou esse receptor, houve menos sintomas da depressão em resposta ao estresse, o que sugere que esse receptor é, de alguma forma, envolvido na promoção da depressão.

Indústrias farmacêuticas estão projetando a próxima geração de medicamentos antidepressivos com o foco no receptor 5HTT1A. Quando os cientistas compararam a composição da parte funcional do receptor 5HT1A de ratos rato em relação aos humanos, este é 99% semelhante, o que sugere que tal fato é tão importante que a seleção natural preservou tal condição. A habilidade de ativar a depressão parece ser importante aos seres vivos - logo, não se trata de um mau funcionamento ou de um acidente evolutivo.

O que não representa dizer que a depressão não é um problema. Pessoas deprimidas apresentam, freqüentemente, dificuldades para executar atividades cotidianas; bem como dificuldades em se concentrar no trabalho; tendem a se isolar socialmente; são letárgicas e perdem freqüentemente a habilidade para ter prazer em atividades como alimentar-se e até mesmo sexo. Algumas podem mergulhar em ciclos de depressão severos, prolongados e até ameaçadores à vida.

Assim, o que poderia ser tão útil sobre a depressão? Pessoas deprimidas pensam freqüentemente e intensamente em seus problemas. Esses pensamentos são chamados de ruminações; tais pensamentos são persistentes e as pessoas deprimidas têm dificuldade de pensar em qualquer outra coisa. Numerosos estudos também mostraram que esse estilo de pensamento é com frequencia altamente analítico. Essas pessoas enfatizam um problema complexo, desmembrando em componentes menores que são considerados pela pessoa um de cada vez.

Tradução: Equipe SIS.Saúde
 


Autor: Paul W. Andrews e J. Anderson Thomson Jr.
Fonte: Scientific American

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