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Bebês de usuárias de crack podem nascer prematuros, com baixo peso e até sofrer com tremores
 
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11/11/2014

Bebês de usuárias de crack podem nascer prematuros, com baixo peso e até sofrer com tremores

Quanto mais perto do parto é o uso do crack, maior a chance da criança sofrer abstinência

Bebês de mães usuárias de crack correm maior risco de nascerem prematuros, com baixo peso para a idade gestacional e até de morrerem ainda no útero das mães. De acordo com a coordenadora da neonatologia do Amparo Maternal, Silvia Maia Holanda, após o nascimento, essas crianças são continuamente avaliadas pelos médicos, por pelo menos 48 horas, em busca de sinais e sintomas de abstinência.

— O bebê que sofre com abstinência geralmente é bastante irritado, sofre com tremores, tem choro estridente, pode esquecer de respirar [ter apneia], tem congestão e coriza nasal, se recusa a mamar, pode ter crises de vômitos, manchas na pele e até ter convulsões, nos casos mais graves.

Segundo a especialista, quanto mais perto do parto é o uso do crack, maior a chance da criança sofrer de abstinência. O perigo aumenta ainda mais quanto maior a quantidade e frequência da droga “que a mãe vem usando nos últimos tempos antes do parto”.

— A literatura médica mostra que até 80% dos filhos de mães usuárias de drogas que usaram o entorpecente nas últimas 24 horas antes do parto terão esses sintomas. No nosso trabalho diário com essas mulheres, temos visto menos casos: em torno de 40% dos nossos bebês sofreram de abstinência.

Mais comum no dia-a-dia da maternidade do Amparo Maternal que a abstinência é o nascimento prematuro e com baixo peso dos bebês de mães viciadas no crack, explica Silvia.

— O uso dessa droga na gestação, como da cocaína também, faz com que os vasos sanguíneos da placenta fiquem contraídos. Então, o sangue começa a chegar em quantidade menor para o bebê e vai faltando os nutrientes que a criança precisa. Por isso, o bebê nasce antes da hora ou com peso menor do que ele deveria nascer naquele momento. Quem nasce com menos peso tem mais chance de ter diabetes e pressão alta na vida adulta.

A médica ainda explica que, além das complicações imediatas, pode ser que a criança desenvolva problemas neurológicos em longo prazo, mas os estudos relacionados a isso ainda estão em andamento.

— O mais preocupante é que não sabemos o que a droga está fazendo na cabeça dessa criança. Como vou saber se o cérebro não foi alterado por uso dessa droga? O que sabemos é que o álcool e até o uso de alguns remédios controlados pode provocar dificuldades mentais e motoras, iniciadas já dentro do útero e que vão se manifestar ao nascimento ou com o passar dos anos.

Nesse aspecto, o professor de psiquiatria da Unicamp (Universidade de Campinas) Luís Fernando Tófoli afirma que um estudo americano recente não achou “qualquer alteração que pudesse ser atribuída ao uso de cocaína em si”.

— Comparado com outras drogas, como o álcool, por exemplo, o efeito do uso do crack no feto é menor do que se esperaria. O tema é controverso na literatura médica porque muitos estudos não levam em consideração fatores como desnutrição, falta de acesso a pré-natal ou uso de outras substâncias, por exemplo.

Tratamento

O tratamento para abstinência nos bebês é medicamentoso e depende do sintoma que a criança apresenta, segundo Silvia.

— Se a criança tem convulsão ou apneia, por exemplo, às vezes precisa intubar, para que o bebê respire com a ajuda de aparelhos. Mas usamos remédios em 100% do casos. Os sintomas geralmente cedem com o início do tratamento.

Quando as mães relatam aos médicos que fazem uso do crack fica mais fácil para os especialistas monitorarem a criança após o nascimento e evitar possíveis complicações, diz Silvia.

— Quando sabemos, fazemos exames no bebê até 48 horas de vida para garantimos que ele não terá abstinência [0% dos bebês que terão abstinência apresentam sintomas nas primeiras 24 horas de vida]. Mas muitas mães não admitem o uso de drogas. Nestes casos, nós dobramos a vigilância, principalmente porque estamos hoje em meio a uma epidemia de uso de drogas na população que atendemos. Então temos a obrigação de investigar, caso a mãe tenha alterações comportamentais e cognitivas sugestivas de uso recente de drogas.

Impacto da separação entre mãe e filho

Além dos impactos físicos no bebê, o professor de psiquiatria da Unicamp chama atenção para a possível separação que poderá ocorrer entre mãe e filho.

— Viver em uma situação de vulnerabilidade social é muito mais grave do que ter ou não uma mãe usuária. Dar condições para essa mãe sair de uma situação ruim dessas é muito importante. Quem trata usuárias problemáticas de drogas sabe que o momento em que elas engravidam ou dão à luz são grandes oportunidades para poder estabelecer um tratamento efetivo.

De acordo com Tófoli, nos Estados Unidos, a histeria sobre os 'bebês do crack' ('crack babies') levou a um número enorme de mães perderem a guarda de seus filhos, e depois se viu que o impacto da droga em si era menor que o da privação social.

— Cada caso precisa se avaliado em sua individualidade, mas é preciso pensar também que arrancar um bebê de sua mãe pode ser muito traumatizante do ponto de vista psicológico. Antes de perguntar se os efeitos da droga são irreversíveis, precisaríamos olhar para as políticas públicas de combate à miséria e de assistência integral aos usuários de drogas. Será que nos perguntamos se é reversível na vida e no cérebro destas crianças viver em situações sociais desfavoráveis? 


Autor: Vanessa Sulina
Fonte: R7 Saúde
Autor da Foto: Daia Oliver

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