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Ciência corre atrás do tempo perdido para conter o maior surto de ebola da história
 
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21/11/2014

Ciência corre atrás do tempo perdido para conter o maior surto de ebola da história

Vírus que ficou esquecido por décadas enquanto atingia apenas a África ganha hoolofotes à medida que começa a se espalhar

Ele não precisou de pernas para caminhar, nem de asas para voar. Sorrateiro, o ebola pegou carona em carros e aviões, chegou nas capitais da África e desembarcou na Europa e nas Américas. Mas foi só ao ultrapassar as fronteiras do território africano – que já vivenciou mais de 10 surtos desde que o vírus foi descoberto, em 1976 – que ele colocou governos em alerta e a comunidade científica atrá de uma solução para esta que é a pior epidemia da doença na história.

O estado de pânico não é à toa. Desde março, já são contabilizados 15.145 infectados em nove países, 5.420 mortos, e um incontável número de dúvidas. De um lado, pesquisadores correm contra o tempo para desenvolver tratamentos ou vacinas que contenham o crescente número de mortes. De outro, cientistas tentam entender as origens do vírus e como ele se comporta.

– Ainda não temos respostas para grande parte das perguntas. Temos muito o que aprender sobre o vírus e como erradicar a doença – explica Esper Kallás, infectologista do Hospital Sírio Libanês e professor de Medicina na Universidade de São Paulo (USP).

 

Para o especialista, alguns fatores geográficos podem ajudar a explicar por que a epidemia cresceu tanto desta vez e já matou mais do que a soma de todas outras. O surto atual tem a particularidade de ter começado em uma zona rural da Guiné, na África Ocidental, região que nunca tinha registrado nenhum caso. E de ter se espalhado, pela primeira vez, por capitais africanas onde a densidade demográfica é maior, assim como o fluxo de entrada e saída de pessoas.

Soma-se a isso a demora para encontrar o paciente zero, ou seja, o primeiro a ser infectado e que começou a espalhar a doença. Conforme a Organização Mundial da Saúde, a epidemia teria se iniciado com uma criança de dois anos, que teria comido a carne de um morcego frutífero, possível hospedeiro do vírus. Na região, é comum o consumo deste animal. O problema é que o caso ocorreu em dezembro de 2013, e o surto só foi identificado em março de 2014. Ou seja, o vírus teve tempo suficiente para se espalhar livremente até que uma mobilização começasse.

Kallás destaca ainda fatores culturais que podem ter colaborado com a propagação da doença. São os ritos funerários típicos de povoados da África Ocidental, que envolvem contato físico com os corpos das vítimas. Acontece que, logo após a morte, o vírus ainda se mantém no corpo e pode infectar quem entra em contato com o cadáver.

– Além de tudo, durante muito tempo o ebola foi negligenciado, pois atingia somente zonas restritas de países pobres. Isso atraiu muito pouco investimento para estudar o vírus e formas de combatê-lo – sustenta o infectologista.

Desde o início do surto, o Brasil teve dois casos suspeitos, mas não confirmados. Conforme Fabiano Ramos, chefe do Serviço de Infectologia e Controle de Infecção do Hopital São Lucas, da PUCRS, a chance de a doença chegar ao país existe, mas é improvável.

Vírus ainda Desconhecido

De fato, não se sabe muito sobre o comportamento do ebola. Mas a esperança é de que grande parte das respostas esteja nos genes – tanto do microrganismo como dos homens. Por isso, os pesquisadores consideram fundamental entender se o vírus sofreu modificações significativas nos últimos anos.

Isso começou a ser respondido no início de junho. Amostras de sangue extraídas de 78 doentes africanos foram enviadas a um laboratório em Harvard. No teste, encontraram-se 395 diferentes mutações do vírus, um número que pode parecer grande, mas que não surpreendeu cientistas, pois o conjunto de genes mais importante do vírus – aquele que confere sua identidade – não foi alterado.

Estima-se que, desde o seu descobrimento, há quase 40 anos, apenas 1,5% da carga genética do ebola tenha variado. Uma boa notícia ao compará-lo com o HIV, por exemplo, que se altera tanto que impossibilita a criação de uma vacina.

Mas até as boas notícias são encaradas com cautela. Conforme os pesquisadores, é possível que o vírus esteja se replicando mais rapidamente do que no passado. Embora não comprovada, esta seria uma das explicações, além da questão geográfica, para o surto atual ser tão severo. Outra dúvida que paira no ar é o motivo para algumas pessoas morrem infectadas e outras sobrevivem. Com uma taxa de mortalidade que varia entre 50% e 90% – para fins de comparação, a varíola tem uma taxa de letalidade de 30% – o vírus tem um mecanismo capaz de enganar o o corpo e levar uma pessoa à morte em pouco tempo.

Por isso, o segredo pode estar nos que contraem e sobrevivem a uma infecção. Como não existe tratamento, a vitória pode depender de quão rapidamente o paciente recebe ajuda médica para aliviar os sintomas, mas também da forma como o corpo reage à contaminação. Um dos últimos estudos sobre o tema, publicado recentemente na revista Science, sugere que fatores genéticos podem estar envolvidos nessa resistência. Os pesquisadores infectaram ratos que possuíam uma diversidade genética e repararam que eles apresentaram os mesmos quadros dos humanos: alguns resistiram, outros adoeceram e se recuperaram, outros morreram. Resta saber quais fatores genéticos salvaram uma parte dos animais.

Enquanto não encontra respostas, a comunidade médica está apostando em novos fármacos que serão testados a partir de dezembro nos centros dirigidos pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Centenas de pacientes serão testados com dois antivirais – drogas que inibem a replicação de diversos tipos de vírus. Além disso, também será avaliado o emprego de plasma sanguíneo de sobreviventes em pacientes infectados. Os anticorpos de um poderiam ser efetivos no outro.

Outra frente de pesquisadores está trabalhando, em diferentes países, para desenvolver vacinas. Otimista, o infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Eduardo Sprinz acredita que elas poderão estar disponíveis no início do próximo ano e têm grandes chances de apresentar bons resultados.


Autor: Jaqueline Sordi
Fonte: Zero Hora
Autor da Foto: Reprodução Google

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