A superação e a retomada das atividades profissionais como pastor após um grave acidente de trânsito. Esse foi o marco na vida do Coordenador da Pastoral Ecumênica e do Diálogo Inter-religioso do Hospital Moinhos de Vento, Pastor Ivo Lichtenfels.

Prestes a se aposentar do trabalho que deveria durar apenas três meses, mas que se estendeu por 32 anos, Ivo Lichtenfels emociona-se ao lembrar de sua trajetória na Instituição e das vivências com pacientes, familiares e funcionários da casa.

Nascido no interior de Santa Catarina, Ivo teve desde a infância uma intensa relação com a igreja e a comunidade local. Casado e pai de três filho/as, todos profissionais da área médica, Ivo Lichtenfels é teólogo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Durante 11 anos foi Pastor na cidade de Rio do Sul (SC), onde sobreviveu a um grave acidente automobilístico que lhe custou 168 dias de internação hospitalar, nove cirurgias, diversas queimaduras e fraturas, deixando-o diante de decisões cruéis como amputação de perna e braço.

Durante o período que esteve internado, Ivo recebia muitas visitas, que lhe faziam muito bem. Mas ressalta que por vezes recebia visitas que eram totalmente inconvenientes em suas conversas ou atitudes. A partir destes acontecimentos, o pastor percebeu a importância do acolhimento, da sensibilidade e da empatia enquanto ser humano doente. “Num hospital, uma palavra adequada pode ser suficiente no momento de dificuldade ou sofrimento. Quando você é atingido pela compreensão, pela empatia, pelo apoio, estes servem como uma força poderosa que projetam você para frente, renovando seu ânimo de continuar a viver. Foi num momento desses que decidi me especializar como teólogo para acompanhar pessoas em sofrimento na área hospitalar”, destaca.

Na década de 80, Ivo mudou-se com toda a família para a Alemanha para especializar-se em Clínica Pastoral (Clinical Pastoral Education and Training). Depois de três anos, formado como Supervisor, decidiu voltar ao Brasil fazendo contato com algumas instituições, entre elas o Hospital Moinhos de Vento. “A direção pediu para que eu viesse até o hospital para um estágio probatório de três meses, e esses três meses perduraram por 32 anos!”, revela.

Na Unidade de Gerência Básica (UGB) da pastoral Ecumênica, composta por seis irmãs, uma estagiária acadêmica de teologia e um pastor assistente, o trabalho é efetuado com visitas diárias aos pacientes internados. “Somos uma fatia do corpo assistencial, somos parte do grupo que assiste à beira do leito, que atende e acolhe o doente, a nossa meta é devolvê-lo para a sua casa com saúde e que saia de nossa casa, sobretudo, satisfeito”, revela o Pastor. Em 2005 a Unidade recebeu o prêmio Top Ser Humano, concedido pela ABRH, como reconhecimento pelo trabalho desenvolvido.

A vivência diária com pessoas muito doentes, apoio às famílias e o conforto na hora da morte firmaram uma convicção. “Segurar a mão, acariciar, enxugar o suor são ações que renovam o ânimo para continuar a vida e dão tranquilidade na hora da morte. Essa vivência trouxe duas grandes certezas: a primeira é que o ser humano não nasceu para morrer sozinho. Não é bom enfrentar a morte com solidão. A segunda é a sabedoria de Deus. Eu sei que Deus conduziu-me por caminhos tortuosos, mas cada evento da minha vida, por mais terrível que fosse, trouxe-me para o lugar em que eu deveria estar”, completa.

O Pastor Ivo Lichtenfels, que encerra suas atividades profissionais no Hospital Moinhos de Vento em 30 de dezembro, se diz muito feliz e realizado, agradecido pela vivência na Instituição, o carinho e a compreensão do corpo clínico, e dos colegas.” Acredito que um homem que realizou muito sabe que não se faz isto sozinho, o mérito é de todos que o ajudaram a se tornar o que é, família, amigos, colegas e professores”.

Além disso, ser pastor está na essência de Ivo e isso nunca terá um fim. “Eu vou deixar esta função, mas nunca vou deixar de ser pastor. Acredito que sempre surgirá uma oportunidade para eu exercer minha missão”, conclui sem dizer adeus.

Foto: Pastor Ivo Lichtenfels (esq.) juntamente com o Superintendente Executivo do Hospital Moinhos de Vento, Fernando Andreatta Torelly. Crédito: Divulgação.