A verdadeira epidemia de acidentes que afeta o Brasil inteiro durante o Carnaval, pelo não uso do cinto de segurança e pelo binômio álcool-direção, levou a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - SBOT a lançar a campanha ‘Carnaval sem Traumas’, a ser promovida pelas secções estaduais da SBOT em todo o Brasil. Dezenas de milhares de ‘folders’ serão distribuídos nos pedágios, para alertar sobre a necessidade do uso do cinto, mesmo no banco de trás e, principalmente, nas estradas.
Segundo o presidente da SBOT, Marco Antonio Percope, para o leigo os números da notícia que se repete todo ano, como no ano passado ‘144 mortos e 1.823 feridos nas rodovias federais no Carnaval’, representa só um número a ser esquecido. Para o ortopedista, entretanto, um ferido significa horas de trabalho na mesa cirúrgica, meses de tratamento para reabilitação, no caso de uma fratura de fêmur, de braço e pior ainda, quando na coluna e problemas correlatos.
“O médico vivencia o problema de famílias cujo provedor fica sem trabalhar por meses até por um ano, por causa de um acidente que poderia ter sido evitado se o cinto de segurança estivesse afivelado”. O especialista diz que não é raro comprovar que um acidente de trânsito afete tanto as finanças de uma família, que um jovem precisa interromper os estudos e sacrificar o futuro, para trabalhar no lugar do pai, acidentado.
Peso de um elefante
Os ortopedistas explicam que quando um carro se choca com outro mesmo a velocidade reduzida, 50 quilômetros por hora, um adulto de 60 quilos sentado sem cinto no banco de trás é lançado contra o passageiro do banco da frente com tanta força, que o impacto corresponde a mais de mil quilos, o peso de um elefante pequeno. No caso de uma criança de 20 quilos sem cinto, o impacto que seu corpo causa contra o motorista é de 300 quilos e quanto à criança, se sobreviver, certamente terá ossos quebrados e possivelmente sequelas.
Para comprovar que o risco existe e é real, a SBOT usou uma equipe de estudantes de Medicina para fazer um levantamento no Rio de Janeiro, onde foram pesquisados 5.728 veículos e em São Paulo, 5.082 veículos.
A conclusão é que 87% dos motoristas usavam o cinto, mas no banco de trás 97% dos passageiros entrevistados não usavam e as crianças sem cinto correspondiam a 86% do total. Já em São Paulo, os motoristas com cinto eram mais numerosos, 96,5%, mas só 3% dos passageiros do banco de trás se valiam do cinco de segurança, o mesmo índice registrado entre os cariocas. Quanto às crianças, o resultado igual ao do Rio, 86% estavam sem cinto.
Risco representado pelo ‘outro’
“Nossa campanha visa mostrar que um cuidado simples, como o uso do cinto, pode evitar e efetivamente sequelas de acidentes que representam muita dor, prejuízo e também arrependimento”, diz o diretor de campanhas temáticas da SBOT, Wagner Nogueira da Silva.
O diretor lembra que muita gente pensa que basta ser cuidadoso, esquecendo o risco representado pelo ‘outro’, o que foi comprovado por outra pesquisa, igualmente feita no Rio e em São Paulo.
“Dos pedestres, 89% andam com celular, 66% confirmam que não param de usar o aparelho mesmo ao atravessar a rua e 74% costumam atravessar fora da faixa”, diz ele, citando o trabalho.
Também as causas de distração do motorista, que acabam em acidentes, foram levantadas pela SBOT. Dos motoristas entrevistados, 30% dizem que comem ou tomam água ou refrigerante enquanto dirigem, 43% deixam de olhar a rua enquanto trocam um CD ou a estação do rádio, 53% se distraem ao conversar com passageiros e um total de 84% confessa que dirige falando ao celular, embora isso constitua em infração punida pelo Código Nacional de Trânsito.
O ortopedista conclui que mesmo guiando devagar e com cuidado, o carro de uma pessoa pode ser abalroado por outro veículo cujo motorista se distraiu no celular ou trocando um CD. E exemplifica: há algum tempo, um ônibus que caiu num barranco em Uberlândia, matando 14 dos 41 passageiros (todos sem cinto), acidentou-se porque o motorista se distraiu ao trocar o CD.