Com o objetivo de melhorar as práticas clínicas utilizadas em cirurgias de revascularização do miocárdio – ponte de safena - realizadas no Hospital, o Beneficência Portuguesa de São Paulo está desenvolvendo um estudo observacional transversal, do tipo registro, que documentará a prática clínica das cirurgias de ponte de safena e identificará as variáveis associadas com mortalidade, sobrevida e complicações. Este estudo será o maior registro latino americano de cirurgias cardíacas e o primeiro protocolo clínico-cirúrgico específico para revascularização do miocárdio no mundo, com potencial impacto em termos de mortalidade.

O Beneficência Portuguesa de São Paulo é um centro de referência em cardiologia, sendo o Hospital com o maior número de cirurgias cardíacas do País e um dos maiores do mundo, chegando a realizar diariamente mais de 30 cirurgias cardíacas. A Instituição é responsável por 19% do total de cirurgias de revascularização do miocárdio no Brasil e 56% dos procedimentos realizados no Estado de São Paulo. E esses números representam apenas as cirurgias feitas por meio do Sistema Único de Saúde.

E é por ser referência que o Centro de Pesquisa do Hospital está desenvolvendo esse estudo. “São mais de 3 mil cirurgias de revascularização em análise, onde dados demográficos pré-operatórios e pós-operatórios serão coletados, como por exemplo, quais e como estão sendo administradas as medicações, quais são os procedimentos feitos durante a cirurgia, qual o tempo de internação dos pacientes, dentre outras questões. Com esses dados, será criado em 2010 um protocolo assistencial com indicadores de qualidade que padronizará o atendimento e os procedimentos de revascularização do miocárdio do Beneficência Portuguesa de São Paulo, com o objetivo principal de diminuir a taxa de mortalidade e os riscos de complicações no pós cirúrgico.” explica a Coordenadora do Centro de Pesquisa do Hospital, Dra. Raquel Ferrari Piotto.

A importância da criação desses protocolos clínicos baseados em evidências, pode ser comprovada por um estudo publicado na “Jama”, revista da Associação Médica Americana que revelou que poucas diretrizes médicas orientadas pela American College of Cardiology e pela American Heart Association se enquadram em evidências sólidas e, apesar disso, esses protocolos americanos orientam a prática de cardiologistas no mundo todo, inclusive no Brasil. O estudo do médico Pirluigi Tricoli avaliou 53 diretrizes publicadas entre 1984 e 2008, em um total de 7.196 recomendações, sendo que quase 50% das que ainda estão em vigor têm nível C de evidência científica, ou seja, não possuem forte comprovação de que os procedimentos ou medicamentos recomendados sejam realmente eficazes. São itens como o uso generalizado de oxigênio para tratar infartados, algo que, segundo as evidências disponíveis, deveria ficar reservado para quem chega ao hospital com baixa oxigenação. A seleção dos itens a serem implementados no protocolo de revascularização será baseado em níveis sólidos de evidências científicas.

“Existe uma ciência por trás da correção do atraso da implementação de intervenções com evidência sólida, e da limitação de medidas desnecessárias e até mesmo perigosas. Focado no controle das medidas efetivamente ligadas a um bom desfecho em termos de saúde (indicadores de qualidade) e a utilização de protocolos clínicos, baseados em evidências, podemos eficazmente reduzir o espaço de tempo entre o conhecimento disponível e sua implementação. Estas ações estão sendo utilizadas em alguns países e os resultados têm sido comprovadamente benéficos para os pacientes”, explica o médico pesquisador do Centro de Pesquisa do Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Alexandre Gonçalves.