Quando Ontário, província canadense, começou a oferecer, em 2000, vacinações gratuitas contra a gripe para toda sua população, houve uma grande redução no número de prescrições de antibióticos para casos de influenza.

Em um estudo publicado na Clinical Infectious Diseases, Dr. Fawziah Marra, da University of British Columbia, em Vancouver, e colaboradores analisaram taxas de prescrições de antibióticos nos casos de gripe em Ontário antes e após a vacinação gratuita tornar-se disponível. Os resultados foram comparados a dados de outras províncias, onde os programas de vacinação continuaram a se dirigir a grupos de alto risco e seus contatos.

Segundo o artigo, os dados de vacinação foram obtidos do National Population Health Survey e do Canadian Community Health Survey. Os dados de prescrições de penicilinas, cefalosporinas, macrolídeos de largo espectro e quinolonas foram obtidos de um sistema canadense de auditoria que rastreia prescrições em uma amostra significativa de farmácias. Os relatos semanais sobre o vírus influenza A e B e o vírus sincicial respiratório apresentados por laboratórios sentinelas à Agência de Saúde Pública do Canadá foram agregados para cada província.

Os pesquisadores informam que, do início até o final do período do estudo (1997 - 2007), a administração total de vacinas aumentou de 18% para 38% em Ontário e de 13% para 24% em outras províncias.

Eles também observam que, ao longo do território canadense, as taxas de prescrições de antibióticos para via respiratória, no geral, caíram após o ano 2000, com redução no uso de penicilinas e cefalosporinas e aumento na utilização de quinolonas.

Contudo, após o início da imunização universal contra a gripe em Ontário, a taxa de prescrição de antibióticos relacionada à doença na província diminuiu de 17,9 para 6,4 por 1000 indivíduos (taxa relativa = 0,36), comparada a uma redução de 8,3 para 8,2 por 1000 indivíduos em outras províncias (taxa relativa = 0,99).

“Esta redução relativa de 64% equivale a uma prevenção aproximada de 144.000 prescrições de antibióticos de via respiratória” a cada ano através do programa universal de vacinação, reforçam os pesquisadores.

Antes de 2000, a prescrição de antibióticos em quadros de gripe era responsável por 2,7% de cerca de 22,8 milhões do total anual de prescrições de antibióticos para via respiratória em Ontário, enquanto que, depois de 2000, elas passaram a representar apenas 1,1% de aproximadamente 50,2 milhões de antibióticos prescritos. Contudo, em outras províncias combinadas, as porcentagens correspondentes permaneceram inalteradas (1,4% de 34 milhões de prescrições antes de 2000 e 1,5% de 76 milhões de prescrições após este ano).

Os pesquisadores concluíram que, apesar do impacto potencial de um programa como o da província de Ontário sobre o surgimento de resistência aos antibióticos seja incerto, seus resultados “apresentam relevância clínica e para a saúde pública, indicando o potencial para a redução na utilização de antibióticos em casos de gripe”.