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Como as mídias sociais estão influenciando a relação entre médicos e pacientes
 
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06/11/2015

Como as mídias sociais estão influenciando a relação entre médicos e pacientes

Resolução publicada pelo CFM restringiu atuação dos profissionais na rede

A presença — e a interferência — cada vez maior de recursos virtuais e redes sociais nas relações levou o Conselho Federal de Medicina (CFM) a endurecer o regramento para os profissionais da categoria. Publicada no Diário Oficial da União no início de outubro, a resolução 2.126, norteando a propaganda e a divulgação de assuntos médicos na tentativa de prevenir o que é descrito como "sensacionalismo, autopromoção ou concorrência desleal", provocou alvoroço por conta de restrições à popular selfie (autorretrato). O texto também reforça orientações prévias, como a proibição da postagem de "antes e depois" de procedimentos.

De acordo com Emmanuel Fortes, coordenador de fiscalização e terceiro vice-presidente do CFM, a iniciativa busca dar conta da intensa e rápida evolução tecnológica observada desde a última resolução sobre o tema, datada de 2011.

— Houve uma transformação radical nas mídias sociais. Queríamos esclarecer o que é vetado e o que não é — explica Fortes.

As facilidades proporcionadas por aplicativos de bate-papo e fotos influenciam também outras esferas do relacionamento entre médico e paciente. Se há tempos o diálogo só era possível na consulta ou pelo telefone fixo do consultório, hoje as possibilidades são inúmeras. Mensagens por WhatsApp e Facebook driblam agendas lotadas e poupam tempo na hora de sanar dúvidas quanto a medicamentos. Mas, com espaço para poucas exceções, o CFM determina que é vetado ao médico, no uso das redes sociais, "consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de comunicação de massa ou a distância".

— A consulta presencial é imperativa — salienta o coordenador.

Médico e paciente tendem a construir um vínculo a partir da primeira consulta. Com a rotina de encontros e conversas, o especialista passa a ter um conhecimento cada vez mais detalhado do histórico daquela pessoa. Certas especialidades, como a pediatria, exigem do profissional maior disponibilidade, uma vez que pais e mães podem ficar aflitos com os sintomas dos filhos durante a madrugada ou nos finais de semana. Em situações assim, são permitidos questionamentos simples a distância, sem que isso comprometa o tratamento — o que fazer diante de uma reação adversa após a ingestão de um remédio, por exemplo. Emmanuel Fortes, do Conselho Federal de Medicina (CFM), acrescenta que, dependendo do caso, o médico pode solicitar ao paciente que compareça para uma consulta de reavaliação.

— O que não pode é substituir a consulta presencial por esse tipo de informação ou iniciar um tratamento sem ver o paciente — destaca Fortes.

Diretor do Serviço de Telemedicina do Sistema de Saúde Mãe de Deus, o cirurgião Luciano Eifler demonstra com um episódio recente a praticidade que a tecnologia é capaz de introduzir no dia a dia. Um de seus pacientes, no período de recuperação após ter se submetido a uma cirurgia, enviou-lhe uma foto, por celular, do local onde fora feita a incisão — suspeitava que o tom avermelhado da pele estivesse indicando complicações. Como a revisão seria realizada apenas dias depois, Eifler pôde evitar, com a troca de mensagens, o deslocamento e o desgaste do paciente recém-operado.

— Isso vai depender sempre da relação que se estabelece, pautada pelo bom senso e pela ética — adverte o cirurgião.

Filho e neto de médicos, Eifler faz uma comparação com a realidade que o pai e o avô viveram décadas atrás, quando as consultas eram realizadas na casa das famílias e os profissionais podiam acompanhar os pacientes ao longo de diversas fases da vida, não raro desde o nascimento.

A telemedicina está proporcionando, de certa forma, a retomada desse contato mais próximo. As mídias sociais são importantes para a educação de certos grupos da população — como portadores de doenças raras ou crônicas e também adolescentes —, e conexões à internet via satélite permitem que médicos discutam casos distantes dos grandes centros, beneficiando moradores de áreas isoladas da Amazônia ou da África. Nos Estados Unidos, há aplicativos que permitem ao usuário consultar um médico ou receber uma segunda opinião pelo celular ou tablet, por videoconferência.

— Estamos voltando à raiz, ao que era antes. A tecnologia não está afastando, não é fria. Ela está aproximando médicos, para afinar o diagnóstico, e está aproximando médicos de pacientes — conclui Eifler.

Selfie pode. Autopromoção, não

A publicação da nova resolução do CFM vem alterando os hábitos de médicos nas redes sociais. Com a proibição para "autorretrato (selfie), imagens e/ou áudios que caracterizem sensacionalismo, autopromoção ou concorrência desleal", o cirurgião plástico Denis Valente, de Porto Alegre, admitindo dúvidas em relação à interpretação do texto, decidiu evitar problemas. O médico optou por cadear o perfil com mais de 32 mil seguidores que mantém no Instagram, para ter maior controle dos usuários que o acessam, e parar de replicar postagens de pacientes que o mencionam ou pedem para serem fotografados a seu lado, prática comum até semanas atrás.

Atuando em uma especialidade intimamente ligada à vaidade, Valente afirma se sentir censurado. A restrição, segundo ele, tolhe os direitos de toda a classe por conta das más práticas da minoria e está na contramão do que se verifica em outros países — nos Estados Unidos, cita ele, é comum celebridades se fotografarem durante uma aplicação de toxina botulínica ou preenchimento facial.

— Os pacientes gostam de mostrar que estão cuidando de si, têm orgulho de mostrar o seu médico. Para alguns, cirurgia plástica é atingir um sonho, sinal de status, uma conquista. Para mim, existe uma grande diferença entre a pessoa que está doente e a pessoa que está fazendo um tratamento estético — salienta o cirurgião.

Coordenador de fiscalização do CFM, Emmanuel Fortes afirma que caberá aos conselhos regionais determinar se as publicações estão incorrendo em infrações. Nos últimos tempos, alguns casos inadequados divulgados em redes sociais alarmaram a entidade: uma equipe médica posando para a foto na sala de cirurgia, com o paciente ao fundo, e uma parturiente ainda em posição ginecológica, instantes após o nascimento do bebê. Imagens mais corriqueiras, como a de médicos vestindo jaleco, podem continuar sendo postadas, desde que o retrato não configure uma das violações previstas na resolução.

— A avaliação é subjetiva — reconhece Fortes.

Fotografias de antes e depois — comparação que pode evidenciar os benefícios de um implante de próteses de silicone ou de uma rinoplastia — estavam vetadas desde uma resolução anterior, de 2011, ainda que esse recurso continue sendo utilizado por alguns profissionais. Segundo Fortes, já houve cassação de registros por conta de iniciativas assim. De acordo com a resolução 2.126/2015, pacientes podem postar fotos de antes e depois, desde que não de modo reiterado e sistemático. A tentativa do conselho é evitar que médicos tentem burlar as regras, orientando seus pacientes a divulgar as fotos que os profissionais não podem mais postar.

Me adiciona, doutor?

Na terapia, situação que envolve um conhecimento profundo da intimidade do paciente, o ideal é preservar ao máximo o tratamento. Cabe ao analista lidar com a situação que se apresentar, como aceitar ou não o convite de amizade virtual enviado por um paciente em uma rede social. Para o psicanalista Robson de Freitas Pereira, é natural que surja um interesse mútuo entre as partes por se tratar de uma relação próxima, mas certas publicações e informações sobre a vida privada têm o potencial de interferir nas conversas estabelecidas no consultório.

— É óbvio que o terapeuta está muito interessado no que o paciente tem a dizer, mas é o paciente que tem de trazer. O recomendado é não se deixar engolir pelo fascínio, não ficar investigando — adverte Pereira.

Para o psicanalista, não há uma fórmula a ditar a postura do analista. Diferentes relações se estabelecem entre os profissionais e seus pacientes. As experiências do terapeuta não precisam ser secretas, e ele pode, quando for adequado, fazer referência a elas.

Muito debatido há alguns anos, o uso de programas de videoconferência para consultas tem de obedecer a uma série de regras. Orientações via Skype com um objetivo bem definido — vocacional ou para tratar uma dificuldade de aprendizagem, por exemplo — são permitidas. A psicoterapia pode ser realizada como pesquisa, desde que aprovada em comitê de ética, sem remuneração e com autorização do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

De acordo com a psicóloga Letícia Giannechini, coordenadora da área técnica do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-RS), é possível que o paciente seja atendido em trânsito, via Skype, em determinadas situações — um jovem que viaja para um intercâmbio em outro país e enfrenta dificuldades de adaptação, por exemplo, pode dispor do limite de até 20 sessões. A alguém que já esteja em tratamento e precise se deslocar a trabalho também é permitido contatar o terapeuta caso não esteja se sentindo bem e necessite de auxílio. O Conselho Federal de Medicina proíbe contatos com psiquiatra via Skype.


Autor: Larissa Roso
Fonte: Zero Hora

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