Os homens ainda são a minoria dos pacientes que buscam por consultas preventivas para cuidar da saúde. Seja por falta de conscientização ou por tempo, os exames de rotina acabam ficando para depois.

Para incentivar a ida ao médico, o Novembro Azul foi o mês escolhido para intensificar campanhas e orientar o sexo masculino quanto à importância dos exames de prevenção, principalmente contra o câncer de próstata, o mais temido segundo os médicos.

Quebrando tabus e preconceitos, o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí resolveu, há três anos, fazer ações para divulgar a importância da consulta com um urologista, médico que lida com o trato urinário de homens e mulheres e do sistema reprodutor dos homens. Acostumados a brincadeiras em relação ao exame de toque, os trabalhadores estão sendo provocados a levar a necessidade da consulta a sério. Durante todo o mês, o sindicato entrega panfletos educativos em grande parte das mais de 200 empresas da região, e incentiva os cerca de 14 mil trabalhadores.

Na ação realizada na empresa Carbe, de Gravataí, nesta semana, todos os funcionários deram risada quando foi abordada a importância do exame de toque. Segundos depois, quando perguntados quem deles já havia começado a rotina anual de prevenção, todos ficaram quietos. Mas, aos poucos, as mãos foram subindo.

Um dos corajosos a admitir é Manoel Nelson da Silva, 66 anos, que trabalha como montador. Desde seus 50 anos, ele realiza os exames rotineiros, incluindo os exames de sangue (PSA) e toque.

— Eu faço um checkup mais ou menos a cada dois anos. O exame de próstata já virou normal para mim. Ele é muito simples e tranquilo de ser feito, sem problema nenhum _ garante Manoel.

Prevenção

Já o torneiro Gelson Gomes Pereira, 48 anos, ainda não consultou.

— Já ouvi falar nesse exame, acho que é bem importante. Ainda não surgiu a oportunidade de ir, mas, se precisar, eu vou — conta.

Para o diretor do Sindicato, Edson Dorneles, 51 anos, que realiza os exames há três, a ideia da ação surgiu para informar os trabalhadores.

— Temos a noção de que o sindicato tem uma base muito grande de associados. Precisamos conscientizar os homens sobre a importância da prevenção, pois pode salvar muitas vidas — comenta.

Apesar de ainda não estar na idade de risco, Noeldi Leal Trindade, 43 anos, conta que já foi ao urologista por vontade própria.

— Acredito que não podemos apenas esperar por indicação de um médico clínico-geral, por exemplo. A iniciativa deve partir de nós mesmos, as principais pessoas interessadas em nossa saúde — defende.

Um novo caso a cada sete minutos

- Próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino, que produz e armazena parte do fluido seminal.
- O câncer de próstata é o sexto tipo mais comum no mundo segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A cada seis homens, um é portador da doença. A estimativa é de que, por ano, 69 mil novos casos sejam diagnosticados no Brasil, um caso a cada 7,6 minutos. /// Os exames consistem na coleta de sangue (PSA) e no exame de toque retal, que é complementar, pois cerca de 20% dos casos não são detectados pelo PSA.
- Homens acima de 50 anos devem fazer o exame de sangue e de toque, salvo se há caso de câncer de próstata na família. Daí, é recomendado que os exames sejam feitos mais cedo.
- Grupos como negros, diabéticos, hipertensos, obesos, cardiopatas, idosos e homens com sintomas urinários ou disfunção erétil devem procurar atendimento aos 45 anos.
- Para quem busca atendimento na rede pública, é necessário ir à sua unidade de saúde, marcar consulta com um médico clinico-geral ou da saúde da família para uma avaliação. Dependendo dos critérios clínicos ou indicação, o paciente é encaminhado ao urologista.

A primeira é a mais difícil

De acordo com a urologista Nancy Denicol, presidente da Sociedade Brasileira de Urologista no Rio Grande do Sul, o Novembro Azul é uma campanha ampliada, uma "tentativa de trazer o homem para a consulta". Segundo ela, apenas 50% dos homens vão ao médico para exames de rotina no Estado. Dos que vão, 70% são levados por insistência da filha ou esposa.

— A procura espontânea pelos exames vem crescendo, mais ainda é preciso mais. Acredito que ainda exista preconceito, mas a barreira entre a medicina e a população diminuiu. A primeira consulta é a mais difícil, mas depois que os homens se sentem cuidados, isso se torna um hábito — conta.

Os exames são feitos, em média, uma vez por ano e, segundo a médica, não há nenhuma sequela no procedimento de avaliação.

— Quando o câncer é descoberto cedo, as chances de cura são de 70%. A consulta é de extrema importância, pois os sintomas do câncer de próstata ou crescimento benigno da próstata são parecidos, como a dificuldade de urinar — explica Nancy.