Um novo estudo de imagem do cérebro sugere que pacientes com psoríase desfigurante parecem apresentar respostas alteradas à aversão, permitindo que eles consigam lidar com o estigma social da doença “ocultando” expressões faciais de outras pessoas.
Em um estudo publicado no Journal of Investigative Dermatology, pesquisadores utilizaram a imagem de ressonância magnética funcional para demonstrar que pacientes com psoríase que visualizaram imagens de expressões faciais de aversão responderam com uma atividade menor do que a normal do córtex insular, uma área do cérebro associada tanto à sensação quanto à observação de repulsa.
Os pacientes também apresentavam menor capacidade de reconhecer de forma clara diferentes intensidades de aversão, avaliadas pelo facial expression recognition task (FERT).
A autora principal Dra. C. Elise Kleyn, que é consultora honorária de dermatologia e pesquisadora clinica da University of Manchester, no Reino Unido, contou a Medscape Psychiatry que os resultados mais importantes deste estudo foram o embotamento de respostas bilaterais do córtex insular, a incapacidade de identificar intensidades de aversão e o fato de que a diferença observada entre pacientes e controles foi específica para aversão. Não houve diferenças entre os grupos em termos de processamento do medo.
Os pesquisadores suspeitam que eles podem ter identificado a base neural do mecanismo adquirido da resiliência.
“Nossos resultados refletem o impacto profundo que uma doença cutânea estigmatizante pode ter em um indivíduo. O estudo enfatiza a associação entre cérebro e pele – o eixo cérebro-cutâneo – e a importância em tratar o paciente como um todo, e não exclusivamente a pele”, disse Dra. Kleyn.
Os pesquisadores compararam a imagem de ressonância magnética funcional e as respostas do FERT de 13 adultos destros, do sexo masculino, com psoríase e 13 controles com idade e sexo comparáveis. Dra. Kleyn disse que o estudo ainda não foi reproduzido em mulheres.
Respostas semelhantes ao medo
Os resultados mostram que pacientes com psoríase apresentaram respostas sinalizadoras, no córtex insular bilateral, a faces que despertam aversão, significativamente menores, comparados aos controles. Este não foi um efeito de embotamento geral ou de empatia prejudicada; pacientes e controles apresentaram respostas semelhantes ao medo.
Pacientes com psoríase também apresentaram respostas normais tanto à aversão quanto ao medo no giro frontal inferior, giro temporal e amígdala.
“Uma explicação possível para isto é que pacientes com psoríase desenvolvem um mecanismo de resiliência para protegê-los de respostas emocionais estressantes, bloqueando o processo de expressões faciais de aversão encontradas em outros indivíduos”, escrevem os autores.
A especialista em percepção visual e cognição Fatima Felisberti, PhD, da Kingston University, em Londres, Reino Unido, contou a Medscape Psychiatry que esta explicação “parece muito lógica”, mas não significa dizer que os pesquisadores encontraram o mecanismo neurológico que ajuda as pessoas a bloquearem a negatividade.
“Isto simplesmente indica que indivíduos do sexo masculino com psoríase aprendem a lidar com o seu ambiente, o que pode levar alguns anos (a média de idade dos participantes foi de 35,8 anos). Os pesquisadores demonstraram uma atividade diferente na ínsula de pessoas com psoríase, mas ainda não sabemos sobre a relação causa-conseqüência”, disse Dra. Felisberti.
Os pesquisadores não declararam relações financeiras relevantes.