
No último dia 17, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) realizou um procedimento inédito no Brasil: o implante de uma válvula aórtica totalmente sem sutura. Indicada para os casos de estenose aórtica (quando a válvula aórtica não consegue abrir completamente devido ao acúmulo de cálcio e fósforo), a cirurgia traz como vantagens a redução do tempo cirúrgico e do tempo de internação em unidade de cuidados intensivos (UTI), a redução na taxa de transfusão sanguínea e excelentes resultados hemodinâmicos.
Cerca de 200 mil brasileiros acima de 75 anos têm o diagnóstico de estenose aórtica, doença cardíaca que se não for tratada e diagnosticada a tempo, pode levar à morte em poucos meses. O tratamento convencional para a doença é a cirurgia de peito aberto, na qual a válvula aórtica precisa ser substituída e a nova precisa ser suturada internamente. Para os pacientes que não podem passar por uma cirurgia tão invasiva, a segunda alternativa tem sido uma incisão na virilha, por onde o médico introduz um cateter que carrega a prótese valvar aórtica até o coração.
Esta terceira alternativa, com a prótese sem sutura Perceval, é uma novidade no país e foi utilizada em dois pacientes do HCPA, ambos do Sistema Único de Saúde (SUS). A válvula, por não necessitar de sutura interna e por ser muito próxima à biológica, garante aos pacientes maior qualidade de vida. Ao fazer um esforço físico, o paciente não sente desconforto, por exemplo. Outra vantagem da válvula é que ela não se degenera tão facilmente quanto as usuais.
Quem coordenou as cirurgias no Clínicas foi o professor de Cirurgia Cardiovascular, Eduardo Keller Saadi, sob orientação e supervisão do cirurgião austríaco Peter Oberwalder, um dos nomes mais reconhecidos, no mundo, para o implante de tais dispositivos. Os procedimentos aconteceram sem intercorrências, com excelentes resultados cirúrgicos e os pacientes passam bem.
O HCPA foi selecionado para realizar este procedimento por sua experiência adquirida no Implante de Válvula Aórtica Percutânea (Tavi) e por dispor, além de recursos humanos, de todas as condições técnicas para uma cirurgia cardíaca convencional contemporânea. Por ser uma tecnologia nova, o procedimento ainda não está disponível pelo SUS – os materiais foram doados pela empresa que fabrica a válvula.
As cirurgias contaram com a colaboração de profissionais dos serviços de Anestesia, Cirurgia Cardiovascular, Cardiologia, Ecocardiografia, Intensivismo e Perfusão.