Às vésperas da Copa do Mundo da Rússia, um grupo de pesquisadores brasileiros concluiu um estudo que avaliou o Ponto Cardiorrespiratório Ótimo (POC) – uma variável obtida no teste cardiopulmonar de exercício – em cerca de 200 jogadores da elite do futebol brasileiro. A conclusão é que o POC se consolida como uma informação potencialmente útil em atletas, podendo beneficiar inclusive exercitantes de provas muito longas (meias, maratonas, provas ciclísticas, triatlos).
O estudo foi realizado pelo grupo de pesquisa da Clínica de Medicina do Exercício – CLINIMEX, tendo como primeira autora a cardiologista Christina Grune de Souza e Silva, sob a coordenação do médico do exercício e do esporte Claudio Gil Soares de Araújo; como coautores o fisiologista Altamiro Bottino, o professor de medicina cardiovascular da Stanford University Jonathan Myers e os médicos João Felipe Franca e Claudia Lucia Castro, presidente do DERCAD-SOCERJ.
Durante 11 anos foram colhidos dados de 247 jogadores de futebol (goleiro, zagueiro, lateral, meio-campo e atacante) de um time da série A do Campeonato Brasileiro. Destes, foram selecionados 198 atletas que completaram um teste cardiopulmonar de exercício verdadeiramente máximo em esteira rolante.
Os autores encontraram POC (média ± desvio-padrão) de 18,2 ± 2,1, a uma velocidade 4,3 ± 1,4 km.h-1 menor do que a do LA. Enquanto o VO2 max (62,1 ± 6,2 mL.kg-1.min-1) tendeu a ser menor nos goleiros (p < 0,05), o POC não variou conforme a posição em campo (p = 0,41). Chamou atenção não ter havido associação entre POC e VO2 max (r = 0,032, p = 0,65) e nem com LA (r = -0,003, p = 0,96).
“O POC já se havia mostrado um bom preditor de mortalidade por todas as causas em indivíduos saudáveis e não saudáveis de mais de 50 anos de idade. Agora, o atual estudo mostra que praticamente todos os jogadores de futebol possuem valores baixos de POC (resultado favorável na fisiologia) e que não há variação entre as posições em campo, nem entre duas medidas obtidas com o intervalo de um ano. Também não há associações muito fortes com outros índices aeróbicos, como o consumo máximo de oxigênio ou o limiar anaeróbico. É possível que um POC baixo seja um fator importante para manter níveis adequados de performance ao longo dos noventa minutos de jogo”, explica Claudio Gil Soares de Araújo.
Para o médico, os resultados mostram que é importante ter um POC baixo para ser um bom jogador profissional de futebol, independentemente da posição em campo. “Em perspectiva futura, o POC poderá vir a se tornar a variável fisiológica mais importante a ser obtida no teste de esforço em outros tipos de atletas ou exercitantes, como os de provas longas - maratonas ou triatlos, nas quais, a intensidade do esforço é mantida em níveis submáximos por várias horas. E então, a economia de N litros de ar inspirado poderia ser muito relevante para reduzir ou retardar a fadiga”, conclui Araújo.