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Uma vacina definitiva contra a raiva?
 
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19/10/2009

Uma vacina definitiva contra a raiva?

Cientistas acreditam ter descoberto vacina que invalida a ação da raiva no cérebro e no organismo quando tomada antes da infecção

Uma vacina antirrábica capaz de reverter a doença em camundongos, após uma única dose, pode abrir caminho para uma prevenção eficaz e barata dessa doença fatal. Depois que uma pessoa é exposta à raiva - frequentemente transmitida pela mordida de um cão - ela deve iniciar rapidamente uma série de cinco doses de vacinas (por meio de injeções) durante o período de um mês para impedir a eclosão da doença.

Tal procedimento é eficaz, mas o custo e a logística das múltiplas doses tornam-no inacessível para muitos, nos países em desenvolvimento, onde ocorrem mais de 99% das 55 mil mortes por raiva a cada ano. Agora, uma equipe de imunologistas e especialistas em vírus dos Estados Unidos criou, por manipulação genética, uma nova cepa do vírus da raiva que induz uma resposta imunológica muito mais potente do que as atuais vacinas.

Em ratos já infectados com uma cepa de alto poder patogênico, uma única administração da nova vacina foi suficiente para eliminar o vírus do organismo, mesmo após o aparecimento dos primeiros sintomas da doença. As vacinas antirrábicas convencionais, aplicadas após a exposição ao vírus, são feitas com vírus inativos que não conseguem se desenvolver e não causam infecção, mas requerem várias aplicações para produzir uma reação imunológica. Vírus vivos que são "atenuados", ou enfraquecidos, provocam uma resposta imunológica muito mais forte do que os vírus inativos, mas são problemáticos, porque eles próprios podem desencadear a doença.

DISPARANDO O ALARME

O virólogo Bernard Dietzschold e sua equipe da Universidade Thomas Jefferson, da Filadélfia, na Pensilvânia, queriam tornar a nova linhagem de vírus tão segura quanto os vírus inativos, mas que fossem, também, capazes de provocar uma resposta imunológica que pudesse aniquilar o agente infeccioso o mais rápido possível.

Dietzschold percebeu que ele poderia alcançar ambos os objetivos manipulando experimentalmente uma proteína da superfície do vírus da raiva. Esta proteína - chamada de glicoproteína (G) - dispara um alarme dentro do sistema imunológico do corpo, mas é normalmente produzida em níveis tão baixos que as defesas do organismo dificilmente a assimilam. A equipe de Dietzschold achou que poderia "enganar" a resposta imunológica inserindo três cópias do gene, codificando a proteína dentro do genoma do vírus.

Os pesquisadores conseguiram, também, eliminar a toxidade da cepa mudando dois aminoácidos na sequência da proteína. "Quando você envia bastante glicoproteína, isso melhora o alcance do alvo, porque, afinal, ela é o alvo para o sistema imunológico", afirmou o coautor do trabalho, Craig Hooper, também da Universidade Thomas Jefferson. "Mas ela é também mais tóxica. Para o sistema imunológico essa é uma coisa boa: se as primeiras células que você infecta vão morrer, isso significa que você estimula uma resposta imunológica muito rapidamente e, dessa maneira, impede que o vírus de alastre."

Para certificar-se de que a cepa do vírus desenvolvida não causaria a doença, eles a injetaram diretamente no cérebro de camundongos saudáveis, mas muito jovens. Filhotes de apenas cinco dias de idade não mostraram nenhum sinal da raiva. "Isso significa que essa vacina é muito mais segura do que outras, produzidas com vírus vivos atenuados, que circulam por aí", afirmou Hooper.

"Espera-se que ela abra caminho para a imunização de rotina de crianças antes que elas sejam expostas à raiva"

IMUNIZAÇÃO APÓS EXPOSIÇÃO?

Dietzschold e seus companheiros de trabalho a seguir infectaram ratos adultos com a cepa altamente infecciosa do vírus da raiva, injetando o patógeno ou dentro do músculo ou diretamente no cérebro, e descobriram que a sua nova vacina era capaz de impedir o aparecimento da doença se fosse administrada dentro de três dias após a exposição ao vírus.

"No momento, para os humanos, devemos iniciar o tratamento dentro de 20 horas após a exposição", afirmou Dietzschold. "Nós mostramos que podemos ser capazes de administrar a vacina depois, porque conseguimos eliminar o vírus até mesmo após o aparecimento dos primeiros sintomas". Por fim, o grupo demonstrou a eficácia da vacina para imunização antes da exposição ao vírus - que é como as vacinas antirrábicas são atualmente utilizadas em animais selvagens e cães.

Os camundongos que receberam a vacina até três semanas antes de serem infectados com o vírus, não desenvolveram a doença. "Se ela demonstrar ser tão segura quanto acreditamos que seja, poderá ser considerada como uma vacina em que uma só aplicação pode proteger por toda a vida", disse Hooper. Dietzschold espera que, num prazo muito curto, novos testes possam revelar o potencial da vacina para erradicar a doença em cães e fornecer uma alternativa mais fácil e mais barata às atuais vacinas para uso em humanos.

O clínico Rodney Willoughby da Faculdade de Medicina de Wisconsin, em Milwaukee, que trata pessoas portadoras de raiva e que não participou desse estudo, é cauteloso quanto ao potencial da nova vacina para tratar a doença depois que os sintomas surgiram. "No que diz respeito ao tratamento, esse estudo não apresenta nada de novo", ele afirmou. E a razão é que se a pessoa já foi infectada, a vacina poderia evocar uma reação imunológica agressiva no sistema nervoso central, que poderia ser prejudicial, e até mesmo fatal, acrescentou Willoughby.

No entanto, o clínico é mais otimista quanto ao benefício da vacina, se ela for administrada antes da exposição ao vírus. Ele espera que ela abra caminho para a imunização de rotina de crianças antes que elas sejam expostas à raiva, em locais onde a doença é muito disseminada, como certas regiões da Ásia e da África. A Organização Mundial da Saúde recomenda que os viajantes que se destinam a esses lugares tomem a vacina antes de se exporem. A segurança evidente da vacina e sua administração em dose única, ele complementou, "permitem que o aspecto econômico da vacinação dê um passo gigantesco à frente".


Autor: Lizzie Buchen, Tradução de Nilza Laiz Nascimento da Silva
Fonte: Portal Ciência & Vida

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