.
 
 
Violência x Álcool e Drogas
 
Notícias
 
     
   

Tamanho da fonte:


03/05/2011

Violência x Álcool e Drogas

Houve crescimento de 20% nos índices de agressões entre 1996 e 2006 em relação à década anterior

A VIOLÊNCIA RELACIONA-SE COM O USO E ABUSO DE ÁLCOOL E DROGAS? 

A violência, na contemporaneidade, é um problema mundial que também acomete ao Brasil e desperta o interesse da população em geral. O Mapa da Violência – 2008 (WAISELFISZ, 2008) revelou que houve um crescimento de 20% dos índices de violência entre 1996 e 2006 em relação à década anterior no Brasil.
 
Com tal informação, torna-se presente questões que podem estar desencadeando o aumento da violência. Especula-se, em meios informais ou da mídia, que o aumento da violência mundial possa estar relacionado ao uso e abuso de álcool e drogas entre outros aspectos. Contudo, faltam informações a respeito acessíveis à população. Os estudos científicos que possam trazer informações respectivas estão disponibilizados em sites de pesquisas restritos aos pesquisadores. Desse modo, os objetivos deste estudo são: verificar, através de pesquisas científicas, se existe relação entre o uso e abuso de álcool e drogas a violência; bem como disponibilizar informações à população a respeito.
 
Para cumprir com esses objetivos, buscamos pesquisas que estudassem a relação entre o uso e ao uso e abuso de álcool e drogas e a violência em base de dados científicos informatizados. Selecionamos estudos recentes, de 2008, que tratassem tanto dos atos violentos como da vitimização e de riscos associados; e que apresentassem significativas amostras (acima de 300 pessoas) de adultos e jovens. Pois, uma pesquisa para ter validez deve contar com um grupo de pessoas que represente o universo dos pesquisados. Uma descrição breve desses estudos e seus principais resultados, em relação ao assunto em questão, encontram-se na tabela anexa  (Ver Tabela - após abrir, clique sobre a tabela para expandi-la).
 
Das buscas que realizamos, encontramos 21 estudos dentro dos critérios estabelecidos. Observamos que essas pesquisas abrangeram 49.321 pessoas, ou seja, uma quantidade significativa de pessoas; permitindo-nos a algumas considerações sobre a relação entre o uso e ao uso e abuso de álcool e drogas e a violência.
 
Os artigos foram realizados nacional e internacionalmente, mostrando o interesse no estudo da questão em nível mundial. Muitos desses estudos, por serem realizados com grandes amostras, contaram com apoio governamental ou foram efetuados por órgão governamentais, revelando a importância da participação do Estado na geração do conhecimento do tema. Os Estados Unidos foi o país que mais apoiou a realização dessa linha de pesquisa, pois, apresenta uma dotação significativa de verbas para as pesquisas em geral.
  
Considerando o gênero, os homens foram os que realizaram mais atos agressivos (ALDERETE e BIANCHINI, 2008; DOSSI et al., 2008; ERNST et al., 2008; LIPSKY e CAETANO, 2008). De modo geral, eles cometeram mais agressões aos cônjuges, filhos e infrações ao trânsito. Esses comportamentos relacionaram-se diretamente ao uso e abuso de substâncias e mais especificamente ao álcool.
 
Referente às mulheres, estas apresentaram menor uso de substâncias no geral e, consequentemente, menos atos agressivos (ALDERETE e BIANCHINI, 2008; DOSSI et al., 2008; ERNST et al., 2008; LIPSKY e CAETANO, 2008; MARSHALL et al., 2008). Mas quando utilizaram algum tipo de substância, também efetuaram atos agressivos ou foram vitimas desses atos.
 
Observamos que a diferença de gênero, no tocante ao uso e abuso de álcool, ocorreu em relação a maior quantidade e freqüência por parte dos homens (ALDERETE e BIANCHINI, 2008; DOSSI et al., 2008; ERNST et al., 2008; LIPSKY e CAETANO, 2008; MARSHALL et al., 2008). Quando o consumo ocorreu tanto para os homens como para as mulheres, os atos agressivos foram similares para ambos.
 
O estudo Lysova e Hines (2008) revelou que as mulheres realizaram mais atos agressivos que os homens mediante ao uso e abuso de substâncias. Mas esse estudo foi realizado na Rússia e a maior freqüência de atos agressivos contra os parceiros poderia ser uma característica específica daquela população. Mesmo assim, esse estudo chama a atenção para o fato que o uso de substâncias coloca em risco os relacionamentos conjugais, pode-se imaginar igualmente a vitimização das crianças envolvidas.
 
O tipo de vitimização entre homens e mulheres consumidores de substância apareceu como diferenciado. As mulheres foram mais atacadas por conhecidos, cônjuges e clientes do comércio do sexo; enquanto os homens foram mais prováveis de experimentarem violência de estranhos e da polícia, conforme estudo de Marshall et al. (2008). Contudo, o uso de substâncias colocou homens e mulheres com possibilidades de vitimização, seja dos cônjuges, de pessoas estranhas, da polícia, em assaltos, etc. (ALDERETE e BIANCHINI, 2008; DOSSI et al., 2008; ERNST et al., 2008; LIPSKY e CAETANO, 2008; MARSHALL et al., 2008; SHEPPARD et al., 2008).
 
Relativo aos jovens, estes se revelaram mais vulneráveis ao uso e abuso de álcool e drogas que outras populações (EATON et al., 2008; HEEB et al., 2008). O padrão de consumo dos jovens foi, principalmente, do uso intenso aos finais de semana (HEEB et al., 2008). Destaca-se que, para esse grupo, houve a associação entre as bebidas energéticas e uso indiscriminado de variadas substâncias (MILLER, 2008). Ademais, houve clara relação entre comportamentos agressivos, em jovens, e o uso e abuso de álcool e drogas, que compreenderam: riscos sexuais, brigas, omissão do uso do cinto de segurança, comportamentos desafiantes, agressões em relacionamentos íntimos e não íntimos (EATON et al., 2008; MILLER, 2008; SKARA et al., 2008). 
 
Uma questão importante que pode ser observada no estudo de SKARA et al. (2008) é que os comportamentos agressivos, em relacionamentos íntimos e não íntimos, predisseram um ano de uso e abuso de substâncias para os jovens. O álcool predisse a agressão física para os homens e a maconha associada ao cigarro para as mulheres, bem como qualquer tipo de substâncias predisse a agressão relacional (psicológica e danos em geral). O que nos permite levantar a hipótese de que o consumo freqüente e intenso por um ano começa a gerar modificações nos comportamentos dos jovens no sentido da agressividade. Esse aspecto pode ser um alerta a pais e educadores na medida em que possam observar um incremento de atitudes agressivas em jovens.
 
Além do uso e abuso de substâncias ter ocorrido mais aos finais de semana, foi nesse período que houve uma maior incidência de assaltos, principalmente para as pessoas que saíram para bares noturnos a fim do consumo de álcool (HEEB et al., 2008; LIVINGSTON, 2008). Assim, o uso e abuso de álcool e drogas colocou as pessoas tanto em papel de agressores como de vítima das agressões, em especial, aos finais de semana. O estudo de Marshall et al. (2008) sobre a vitimização de pessoas usuárias de drogas injetáveis corrobora com essa questão, mostrando que o usuário de drogas pode estar vulnerável a agressividade de outras pessoas.
 
Não obstante, o estudo de Hubicka et al. (2008) revelou que as re-incidências em infrações de trânsito se relacionaram ao uso e abuso de álcool. Assim, essa substância associou-se à violência no trânsito, colocando em questão o possível risco a uma série de outros motoristas que possam ser vítimas desses motoristas em abuso de álcool. 
 
Desse modo, os tipos de agressões associadas ao uso e abuso de álcool e drogas foram: agressões psicológicas, físicas, danos em geral, atos desafiadores e infrativos (CHERMACK et al., 2008; DOSSI et al., 2008; ERNST et al., 2008; HUBICKA et al., 2008; MARSHALL et al., 2008; LIPSKY e CAETANO, 2008). Provavelmente esses tipos de agressões ocorreram em decorrência de sentimentos de raiva desencadeados (NICHOLS et al., 2008), indicando que o uso e abuso de substâncias altera a cognição e o comportamento dos usuários de uma maneira prejudicial aos relacionamentos sociais, sejam estes íntimos ou não.
 
Outro aspecto a ser evidenciado é que não houve distinções claras do tipo de substância consumida e os atos agressivos ou vitimização. Todos os tipos de substâncias (álcool, maconha, crack, cocaína, injetáveis, etc.) relacionaram-se a esses aspectos. Porém, destacou-se, nos estudos, o uso e abuso do álcool, provavelmente por ser o mais consumido por todas as faixas etárias e gênero, ocasionando atos agressivos principalmente em homens (BORGES et al., 2008; CHERMACK et al., 2008; DOSSI et al., 2008; ERNST et al., 2008; HEEB et al., 2008; HUBICKA et al., 2008; MARSHALL et al., 2008; HUGHES et al., 2008; LIPSKY e CAETANO, 2008). Também, uma maior quantidade de consumo de álcool relacionou-se a uma maior possibilidade de atos agressivos (HUGHES et al., 2008), bem como o uso e abuso obteve um padrão mais acentuado aos finais de semana, expondo aos seus usuários aos riscos do uso intenso do álcool (HEEB et al., 2008).
  
Assim, os usuários de substâncias, no geral, apresentaram-se sujeitos tanto a cometerem atos agressivos como a serem suas vítimas. O que os levou a utilizarem mais os serviços de saúde - ou no pronto atendimento, ou para tratamento à dependência (ALDERETE e BIANCHINI, 2008; BORGES et al., 2008; MARSHALL et al., 2008; SHEPPARD et al., 2008). Portanto, o uso e o abuso de álcool e drogas é um problema de saúde e de segurança pública, envolvendo ambas as áreas, que normalmente atuam de forma isolada e com ações distintas no combate desses males sociais.
 
Dessa forma, evidencia-se a importância dos Estados sobre dois aspectos que se tornaram problemas mundiais e que esses estudos revelaram que estão associados. Acreditamos que para combater esses males de uma maneira contundente sejam necessárias ações conjuntas internacionais; como também ações sociais em geral, que Feliz Guattari (2000) denominou de “revoluções moleculares”, ou seja, pequenas ações sociais, mas com o poder de gradativamente alterar questões pertinentes às relações humanas. Também acreditamos que seja necessária a geração de mais informações às populações a respeito para que possam combater esses problemas no âmbito familiar, escolar, das instituições em geral. Lembramos que, se uma das causas do aumento da violência é o uso e o abuso de álcool e drogas, o combate à violência deverá priorizar o combate ao seu consumo.
 
Referências
 
ALDERETE, E.; BIANCHINI, P. Alcohol consumption in the emergency room. Medicina (B Aires), v. 68, n. 1, p. 31-36, jan. 2008.
 
AVEGNO, J.; MILLS, T. J.; MILLS, L. D. Sexual assault victims in the emergency department: analysis by demographic and event characteristics. Journal of Emergency Medicine, no prelo, p. 1-7, 2008.
 
BORGES, G.; OROZCO, R.; CREMONTE, M.; BUZI-FIGLIE, N.; CHERPITEL, C.; POZNYAK, V. Alcohol and violence in the emergency department: a regional report from the WHO collaborative study on alcohol and injuries. Salud Pública México, v. 50, suppl. 1, p. s6-s11, nov. 2008.
 
CHERMACK, S. T.; MURRAY, R. L.; WALTON, M. A.; BOOTH, B. A.; WRYOBECK, J.; BLOW, F. C. Partner aggression among men and women in substance use disorder treatment: Correlates of psychological and physical aggression and injury. Drug and Alcohol Dependence, v. 98, n. 1-2, p. 35-44, nov. 2008.
 
DOSSI, A. P.; SALIBA, O.; GARBIN, C. A.; GARBIN, A. J. Epidemiological profile of domestic violence: complaints of aggression filed in a city in São Paulo State, Brazil, from 2001 to 2005. Caderno de Saúde Pública, v. 24, n. 8, p. 1939-1952, ago. 2008.
 
EATON, D. K.; KANN, L.; KINCHEN, S.; SHANKLIN, S.; ROSS, J.; HAWKINS, J.; HARRIS, W. A.; LOWRY, R.; MCMANUS, T.; CHYEN, D.; LIM, C.; BRENER, N. D.; WECHSLER, H.; CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Youth risk behavior surveillance - United States, 2007. MMWR. Surveillance Summaries, v. 57, n. 4, p. 1-131, jun. 2008.
 
ERNST, A. A.; WEISS, S. J.; ENRIGHT-SMITH, S.; HILTON, E.; BYRD, E. C. Perpetrators of intimate partner violence use significantly more methamphetamine, cocaine, and alcohol than victims: a report by victims. The American Journal of Emergency Medicine, v. 26, n. 5, p. 592-596, jun. 2008.
 
GUATTARI, F. As Três Ecologias. São Paulo: Papirus, 2000.
 
HEEB, J.; GMEL, G.; REHM, J.; MOHLER-KUO, M. Exploring daily variations of drinking in the Swiss general population. A growth curve analysis. International Journal of Methods in Psychiatric Research, v. 17, n. 1, p. 1-11, mar. 2008.
 
HUBICKA, B.; LAURELL, H.; BERGMAN, H. Criminal and alcohol problems among Swedish drunk drivers - Predictors of DUI relapse. International Journal of Law and Psychiatry, v. 31, n. 6, p. 471-478, dez. 2008.
 
HUGHES, K.; ANDERSON, Z.; MORLEO, M.; BELLIS, M. A. Alcohol, nightlife and violence: the relative contributions of drinking before and during nights out to negative health and criminal justice outcomes. Addiction, v. 103, n. 1, p. 60-65, jan. 2008.
 
LIPSKY, S; CAETANO, R. Intimate partner violence perpetration among men and emergency department use. The Journal of Emergency Medicine, no prelo, p. 1-8, nov. 2008.
 
LIVINGSTON, M. Alcohol outlet density and assault: a spatial analysis. Addiction, v. 103, n. 4, p. 619-628, abr. 2008.
 
LYSOVA, A. V.; HINES, D. A. Binge drinking and violence against intimate partners in Russia. Aggressive Behavior, v. 34, n. 4, p. 416-427, jul./ago. 2008.
 
MACDONALD, S.; ERICKSON, P.; WELLS, S.; HATHAWAY, A.; PAKULA, B. Predicting violence among cocaine, cannabis, and alcohol treatment clients. Addictive Behaviors, v. 33, n. 1, p. 201-205, jan. 2008.
 
MARSHALL, B. D.; FAIRBAIRN, N.; L. I, K.; WOOD, E.; KERR, T. Physical violence among a prospective cohort of injection drug users: a gender-focused approach. Drug and Alcohol Dependence, v. 97, n. 3, p. 237-246, out. 2008.
 
MERICLE, A. A.; HAVASSY, B. E. Characteristics of recent violence among entrants to acute mental health and substance abuse services. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, v. 43, n. 5, p. 392-402, mai. 2008.
 
MILLER, K. E. Energy drinks, race, and problem behaviors among college students. Journal of Adolescent Health, v. 43, n. 5, p. 490-497, nov. 2008.
 
MURRAY, R. L.; CHERMACK, S. T.; WALTON, M. A.; WINTERS, J.; BOOTH, B. M.; BLOW, F. C. Psychological aggression, physical aggression, and injury in non partner relationships among men and women in treatment for substance-use disorders. Journal of Studies on Alcohol and Drugs, n. 69, v. 6, p. 896-905, out. 2008.
 
NICHOLS, TRACY R.; MAHADEO, M.; BRYANT, K.; BOTVIN, G. J. Examining anger as a predictor of drug use among multiethnic middle school students. Journal of School Health, v. 78, n. 9, p. 480-486, set. 2008,
 
SHEPPARD, M. A.; SNOWDEN, C. B.; BAKER, S. P.; JONES, P. R. Estimating alcohol and drug involvement in hospitalized adolescents with assault injuries. Journal of Adolescent Health, v. 43, n. 2, p. 165-171, ago. 2008.
 
SKARA, S.; POKHREL, P.; WEINER, M. D.; SUN, P.; DENT, C. W.; SUSSMAN, S. Physical and relational aggression as predictors of drug use: gender differences among high school students. Addictive Behaviors, v. 33, n. 12, p. 1507-1515, dez. 2008.
 
WAISELFISZ, J. J. Mapa da violência dos municípios brasileiros - 2008. Brasília: Rede de Informação Tecnológica Latino Americana (RITLA)/Instituto Sangari/Ministério da Saúde/Ministério da Justiça, 2008.

 


Autor: Sis.Saúde
Fonte: Vide referências

Imprimir Enviar link

Solicite aqui um artigo ou algum assunto de seu interesse!

Confira Também as Últimas Notícias abaixo!

 
 
 
 
 
 
 
Facebook
 
     
 
 
 
 
 
Newsletter
 
     
 
Cadastre seu email.
 
 
 
 
Interatividade
 
     
 

                         

 
 
.

SIS.SAÚDE - Sistema de Informação em Saúde - Brasil
O SIS.Saúde tem o propósito de prestar informações em saúde, não é um hospital ou clínica.
Não atendemos pacientes e não fornecemos tratamentos.
Administração do site e-mail: mappel@sissaude.com.br. (51) 2160-6581