Diz a sabedoria popular que as pessoas só têm uma vida completa, com todas as missões cumpridas, quando plantam uma árvore, escrevem um livro e tem um filho. O médico Antonio Márcio Junqueira Lisbôa é uma dessas: plantou 40 árvores, publicou 13 livros e teve cinco filhos. Além disso, escreveu 75 trabalhos científicos, publicou 388 artigos na imprensa leiga e apresentou 342 trabalhos em reuniões científicas. Especialista em pediatria, Lisbôa foi indicado pela Academia de Medicina de Brasília (AMeB) para o Prêmio Saúde Brasília, programa do Jornal de Brasília em parceria com a Associação Médica de Brasília (AMBr). Concorrendo na modalidade Qualidade de Vida da População, o médico fez um estudo com o título A Primeira Infância e as Raízes da Violência, que o fez merecedor da homenagem.
AÇÕES
O trabalho científico proposto por Lisbôa sugere medidas para a redução da violência. Ele defende que a personalidade da grande maioria de pessoas violentas, como traficantes, homicidas, assaltantes, estupradores e corruptos, é formada logo na infância, até os seis anos.
A ideia do trabalho surgiu em 1985, quando Lisbôa leu um livro -escrito em 1914 por Franco Vaz -pertencente ao pai, que também era médico. O livro "Problema da Pro-teção à Infância" descreve a situação de menores abandonados no Rio de Janeiro, critica ações governamentais e propôe medidas corretivas. "Quando peguei o livro e o li achei estranho porque ele retratava exatamente o que existia em 1985, como ainda existe hoje em escala maior. Nenhuma dessas medidas foram implantadas nem na época e nem hoje."
TRABALHO
"Tudo que o livro indicava de melhoria, não foi feito, e o que dizia que não era para ser feito, foi colocado em prática", explica Lisbôa. Com isso ele resolveu fazer o trabalho, que virou livro e foi dis-tribuido para figuras políticas e ministros, para que o governo aplique nas famílias, con-cientizando-as de como criar crianças com um futuro melhor.
"Quero que com isso em prática, os problemas com a violência sejam resolvidos, e que o País crie cidadãos de bem, com caráter, valores e auto-estima elevaeda", deseja.
PERFIL
Antonio Lisbôa nasceu em 6 de janeiro de 1927, na cidade de Leopoldina, em Minas Gerais. Vem de uma família de médicos. O avô, pai e tio foram médicos em Minas Gerais. Escreveu durante cinco anos uma coluna sobre crianças em um veículo de comunicação. Atualmente tem uma coluna no jornal O Leopoldinense.
Quando criança, Lisbôa diz que costumava afirmar que trabalharia em qualquer área, menos medicina. Mas por motivações dos familiares resolveu estudar medicina. Com isso, o amor pelas crianças fizeram dele um pediatra.
Implantação de medidas
O pediatra Antonio Márcio Junqueira Lisbôa será um dos homenageados no 'Saúde Brasília', programa do Jornal de Brasília em parceria com a Associação Médica de Brasília. No trabalho entitulado A Primeira Infância e as Raízes da Violência, o médico destaca diversos programas que devem ser implantados para a promoção de crianças para que não se tornem infratores.
As medidas, de acordo com o médico, devem ser aplicadas e ensinadas logo no maternal e creches. Ele explica que aplicar dinheiro na adolescência para melhor o jovem de nada adianta. "Mas infelizmente é o que fazem. O jovem começa a apontar o dedo para os professores, desrespeitar os pais e num futuro vira um marginal. E o governo não tem nenhuma política para prevenir que isso aconteça", destaca Lisbôa.
Segundo ele, prender o jovem infrator no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) só o torna pior. Ele destaca que deveriam ser criados Centros Educacionais para infratores com desvios leves de conduta, onde não existiriam grades e sim professores, psicólogos, psiquiatras, pediatras, entre outros especialistas. No caso de graves desvios de conduta, eles seriam encaminhados para UTI Social, para indivíduos que estupram, traficam e homicidas. Lá contariam também com médicos, educadores, psicólogos, praxiterapeutas e muitos outros.
Em casos de violência doméstica, a criança deve ser afastada da família e ser levada para lares substitutos. As que são abandonada pela família, caberia ao governo acelerar o processo para que todas sejam ado-tadas. "Neste caso, uma assistente social iria toda semana nos lares de adoção sem avisar, para saber como estão essas crianças e se foram adotadas", explica.
O que frustra Lisbôa é o fato de que entregou a proposta para o governo e que eles têm a ideia, mas não a colocam em prática. "Continuam criando postos policiais em todos os bairros. Com isso, os bandidos não podem assaltar mais, mas roubam bancos pela a internet, dentro de casa. Estamos formando pessoas sem caráter". Ele ainda ressalta o fato de que não importa a classe que ela pertence, tudo depende da educação que recebeu quando criança, até os seis anos de idade. "Não importa se é rica ou pobre, a educação vem do berço", completa.