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O efeito devastador do crack
 
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03/11/2009

O efeito devastador do crack

Droga é a mais usada entre usuários de até 21 anos em tratamento, diz pesquisa

Micropontos e balinhas.

Palavras aparentemente inofensivas que entraram para o cotidiano dos jovens da classe média, mas com um poder avassalador quando ligadas a nomes como LSD e ecstasy, da família das drogas sintéticas. O delegado Enrico Zambrotti Pinto, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal, vai além e afirma: há policiais que desconhecem o que é um microponto de LSD. Imagine os pais! As pedras de crack, lixo da cocaína, antes fumadas em cachimbos improvisados por moradores de rua, hoje engrossam essa lista.

Levantamento inédito feito pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Uerj, revela que, em 2005, dos 200 dependentes de cocaína e crack que procuraram atendimento na instituição, apenas um era viciado na última droga. Em 2008, o número de usuários de crack chegou a 57,3% dos mesmos 200 atendimentos, superando a quantidade de usuários em cocaína em tratamento. Segundo o psicólogo Bernardo da Gama Cruz, um dos coordenadores da pesquisa, o crack é hoje a droga mais usada pelos jovens de até 21 anos em tratamento na instituição.

O Nepad oferece atendimento gratuito a dependentes de qualquer camada social, mas é mais procurado por pessoas de baixa renda. O caso do músico Bruno Kligierman de Melo, de 26 anos, viciado em crack que, há 11 dias, matou a estudante Bárbara Calazans, de 18, no Flamengo, no entanto, é um exemplo de que a droga já se alastrou para a classe média.

Segundo a chefe do Setor de Dependência Química da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), Analice Gigliotti, 30% das pessoas que se internam em clínicas de classe média usam crack.

A pesquisa do Nepad, coordenada também pela psiquiatra Ana Paula Bravo, mostra que o aumento da oferta da droga é o principal motivo para a explosão do crack no Rio, segundo os pacientes. Esta droga era considerada pelos pesquisadores praticamente inexistente até 2006.

Vício já aos 14 anos

Estudante de colégios caros, com boas notas, desportista, nascido numa família bem estruturada, Y. começou com álcool e maconha aos 14 anos. Hoje, aos 23, sabe exatamente há quanto tempo está sem consumir drogas: dois anos, nove meses e 11 dias. O que começou com um "baseado" e um copo de cerveja avançou para drogas cada vez mais pesadas, como o crack. Tudo para ser aceito por um grupo de amigos.

- Meu uso de drogas foi aumentando, mas eu ainda tirava boas notas.

Minha família só descobriu quando eu tinha 16 anos. Com 17, passei para a faculdade e fui morar em república. Eu me droguei ainda mais. Perdi o emprego, passei a perder matérias, caí de moto, quase fui preso. O crack é um vício caro demais - conta Y., que frequenta um grupo de ajuda, trabalha numa estatal e está concluindo a faculdade.

Sua história coincide com o drama de G., de 35 anos, mas sem o final feliz. Preso por tráfico de drogas, ele também começou aos 14 anos com o álcool e a maconha.

- Comecei com um "baseado", que durava dois dias, e passei para 20 cigarros por dia. Não conseguia dormir sem a maconha - conta G., que trabalhava como guia turístico.

Ano passado, G. foi preso em flagrante no campus de uma universidade pública. Embora afirme que a maconha encontrada com ele era para uso próprio, foi autuado por tráfico e condenado a sete anos de prisão: - Falei para os policiais: sou maconheiro, sou maconheiro! Não tinha a quantidade que disseram que estava comigo. Divido cela com mais de 70 presos, minha saúde acabou, durmo numa cama de cimento. Perdi minha juventude, minha identidade, não quero voltar mais para cá.

Para o psiquiatra Randolph Arce, há uma "epidemia" de uso de drogas sintéticas. Ele ressalta que a dependência química é uma doença e não fraqueza de caráter: - É balela dizer que vai haver sociedade sem drogas, mas precisamos informar de maneira clara quais são as consequências do seu uso.

Maria Tereza de Aquino, diretora do Nepad, também chama atenção para um outro tipo de droga, mas lícita: o álcool. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Rio, começa-se a beber álcool por volta dos 12 anos: - Hoje, a bebida é consumida com energéticos. Com a cafeína, eles bebem o triplo, o quádruplo.

O produtor cultural Luiz Fernando Prôa, pai de Bruno Kligierman, também alerta para o uso do álcool, porta de entrada para drogas ilícitas: - O aliciamento dos jovens por meio da propaganda de cervejas e similares, sem nenhum controle, em nome do direito de informação, é um escândalo - diz ele, por carta, contando que estes últimos dias têm sido os piores de sua vida.

Professor de medicina da UFRJ e autor de livros sobre o uso do álcool, José Mauro de Lima condena as propagandas de bebida. Ele ressalta que, nos relatórios da OMS, o álcool aparece como a pior droga comparado à maconha.

- O álcool tem uma ação psicocomportamental e atua na parte do cérebro que dá desinibição. O jovem é bastante vulnerável a isso - explica o especialista, que coordena a Semana Brasileira de Alcoologia, que começa hoje na Câmara Municipal.

O gelinho rodando num copo de uísque seduziu Z., tijucana de classe média, ainda aos 12: - Achava chique. Aprendi a beber em festas. Aos 16, bebia cachaça todos os dias - conta Z., hoje com 22 anos e o fígado comprometido.

O fundo do poço, na opinião do delegado Enrico Zambrotti, é quando o jovem vira bandido. ResCustódio Coimbra ponsável pelas duas grandes operações da PF contra o tráfico, ele prendeu 112 pessoas, a maioria jovens de classe média alta.


Autor: Cláudio Motta e Vera Araújo
Fonte: O Globo

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