Bate-papo teve como tema Diversidade na docência: Arte e Educação LGBTQIA+ no RS e ainda está disponível para visualização

A tarde desta quinta-feira, 08 de julho, foi um momento de reflexão sobre pluralidade, respeito, representatividade e acolhimento nas escolas. Por meio do projeto nacional Ocup(A)ção Arte Educação, o Sesc/RS promoveu um debate sobre Diversidade na docência: Arte e Educação LGBTQIA+ no RS, com a professora e pesquisadora de artes visuais Marina Reidel e o ator e arte educador Gustavo Deon. Com a mediação feita pelo analista de Arte Educação do Sesc/RS, Diewerson Nascimento, os participantes puderam abordar sobre seus momentos de transição como pessoas trans e a importância dessas vivências na comunidade escolar. O bate-papo segue disponível no Youtube e pode ser conferido na íntegra no link www.youtube.com/watch?v=02Jq8O4j_yM. 

Marina relatou sua experiência ao assumir sua identidade de gênero enquanto lecionava em duas escolas. “Eu sofri mais preconceito pelo grupo de professores do que pelos alunos ou pelas famílias deles. Parece que há um pânico moral sobre essas questões”, conta ao mesmo tempo em que relembra como foi importante abrir espaço para debater o assunto com os estudantes. “Foi um momento de romper preconceitos e tabus presentes nesse ambiente porque começamos a trazer as discussões para dentro da escola”, diz. Deon lembrou da diferença na abordagem da temática, quando era aluno e agora enquanto professor. “Lembro de ver na aula de biologia sobre corpos femininos e masculinos e como teria sido mais fácil pra mim se eu tivesse visto ou ouvido falar sobre pessoas trans antes. Quando eu vejo meus alunos falando sobre isso eu vejo que as coisas estão mudando, que esse debate está chegando mais cedo”, reflete.

O bate-papo levou em consideração também como pensar em uma escola como um lugar mais plural. “Estar na escola e levantar o tema para os alunos não vai fazer com que eles sejam o que não são, vai fazer com que eles respeitem o próximo, os colegas, os professores, para que a escola seja um ambiente de aprendizado e coletividade. Penso nas crianças LGBTs que foram podadas na sua infância, o quanto da subjetividade foi cortada delas e o quanto elas poderiam ter feito mais. Isso causa uma ferida enorme em cada uma de traumas que vem da infância e que na vida adulta aparecem”, defende Deon. Já Marina acredita que é preciso pensar em instituições mais acolhedoras e humanizadas. “Eu não posso pensar em uma escola sem sentir que estou vivendo com humanos. A escola reproduz padrões heteronormativos que vão circular pela sociedade e é um campo de exclusão social. Por tanto, a primeira coisa é construir um plano pedagógico que contemple essas discussões, pois você não vai ensinar ninguém a ser nada, isso tem que ficar muito claro, a gente mostra que as experiências do cotidiano são reais, nós somos reais”, afirma. 

A série de debates Ocup(A)ção Arte Educação, promovido pelo Departamento Nacional do Sesc, segue com diálogos virtuais com educadores, artistas e pesquisadores de todo o país até o final do mês abordando práticas culturais que levam a reflexão de temas relevantes para a sociedade. As lives têm temáticas relacionadas à diversidade, acessibilidade, geracionalidade e territorialidade. Todas as atividades podem ser conferidas na playlist do Sesc no Youtube: www.youtube.com/playlist?list=PLY_QtDGHt8ShI3MXi-zXJxxTJvnC0o8dr.

Sobre os convidados do Sesc/RS

Marina Reidel

Possui graduação em Licenciatura em Educação Artística pela Feevale (2002), pós-graduação em Psicopedagogia pela UCB (2006) e mestrado em Educação pela UFRGS (2013). É professora da Fundarte e do Estado do Rio Grande do Sul. Atualmente, está cedida e ocupa o cargo de Diretora do Departamento de Promoção de Direitos LGBT do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Arte-Educação, Sexualidade e Relações de Gênero. Em sua dissertação de mestrado, intitulada A pedagogia do salto alto, busca fortalecer as histórias de professoras transexuais e travestis que durante suas trajetórias profissionais precisam, além de lidar com as dificuldades de sucateamento dos materiais educacionais, enfrentar o preconceito e a invisibilidade social dos corpos de educadores trans. Marina foi a primeira professora transexual a ingressar no mestrado da Faculdade de Educação da UFRGS.

Gustavo Deon

Licenciado em Teatro pela UERGS (2019), artista, ator, professor, diretor e poeta. É ativista pelo coletivo CATS (Coletivo de Artistas Transmasculines). Sua trajetória evidencia uma vasta representatividade sobre Arte e Educação, fortalecendo a produção artística e a visibilidade trans no interior do RS. Tem desenvolvido diversos projetos e ações educativas durante a pandemia buscando fortalecer o trabalho de artistas LGBTQIA+. Dentre os trabalhos mais recentes, destacam-se três projetos aprovados em editais de fomento à arte e cultura: Pra (a)colher: O autocuidado em poesia (2020 e 2021), no qual trabalhou com criação audiovisual e lives; E se: um diálogo sobre como seria (2021), em que desenvolveu e fez a curadoria de uma exposição de arte virtual; e Intransitivo: um documentário sobre narrativas trans, último projeto aprovado pela Secretaria de Cultura do Estado do RS em parceria com a Fundação Marcopolo. Desenvolve em suas redes sociais, com foco educativo e representativo, o projeto pessoal Dentro de Nós (2020-2021), falando sobre gênero, sexualidade, transição, violência e LGBTfobia aos corpos trans.

Ocup(A)ção Arte Educação 

O QUE É: Espaço de compartilhamento de experiências e escuta expandida sobre o que o Brasil tem realizado no campo da mediação cultural. De norte a sul, do nordeste ao centro oeste e com o sudeste nesta geografia das práticas educativo-culturais, a partir de eixos conceituais, tais como: diversidade, acessibilidade, geracionalidade e territorialidade; educadores, artistas, pesquisadores e profissionais da cultura apresentarão suas dinâmicas, abordagens e metodologias, centradas na Arte Educação.

OBJETIVO: Democratizar o acesso a experiências mediadas pelas áreas de música, artes cênicas, audiovisual, arte educação, biblioteca, patrimônio, artes visuais e literatura, em suas variadas expressões. Por meio da Política Cultural do Sesc, que rege as intencionalidades e as diretrizes das ações de formação, fruição, difusão e fomento, promovidas pelo Programa Cultura em consonância com objetivos institucionais, direitos culturais e diversidade cultural, a equipe tem desenvolvido, por meio da arte, dinâmicas do âmbito da crítica, reflexão e da criação. A arte educação é um caminho de mediação de saberes, experiências e conhecimentos. De modo horizontal, o Sesc quer compreender como as pessoas se relacionam com a arte. Nesse percurso, o exercício dialógico se faz presente. O ponto principal desse trabalho é, portanto, exercitar a concepção de mediação como objeto de formação educativo-artístico-cultural.