
Navegamos em um mar de informação, mas filtramos a maioria das coisas que vemos e ouvimos. Uma nova meta-análise (revisão crítica) de dados de dezenas de estudos anteriores tenta entender como escolhemos o que queremos saber. O estudo mostra que as pessoas tendem a descartar informações que não dizem o que elas querem ouvir, levando a desconsiderar determinados pontos de vista diferentes dos delas.
A meta-análise, feita por pesquisadores da Universidade de Illinois e da Universidade da Flórida, ambas nos EUA, inclui dados de 91 estudos envolvendo mais de 8 mil participantes. Os resultados devem por um ponto final nas dúvidas do porque as pessoas evitam informações que contradizem com o que elas acreditam ou simplesmente ficam mais expostas a ideias que condizem com sua própria opinião, pois, ao que parece, a maioria das pessoas preferem estar cercada por seus iguais.
“Nós procuramos ver o que faz as pessoas procurarem algo verdadeiro ou ficar confortável com o que já sabe”, diz Dolores Albarracin, que coordenou o estudo junto com Willian Hart.
Os estudos revisitados e analisados normalmente perguntavam aos participantes sobre sua visão a respeito de determinado assunto, e então os deixavam livres para procurar ou ler informações que confirmassem seus pontos de vista ou que fossem antagônicos a estes.
Os pesquisadores descobriram que pessoas são duas vezes mais propensas a selecionar informação que confirmem seus pontos de vista (67%) do que considerar uma ideia oposta ao que acreditam (33% dos entrevistados). Certos indivíduos, menos maleáveis, eram ainda mais relutantes a se permitir ler algo que diferisse de suas opiniões. Estes indivíduos, diz Albarracin, optavam por ler ou procurar informações que corroborassem o que pensavam em mais de 75% das vezes.
Valores políticos, religiosos e éticos são os mais resistentes à críticas
Os pesquisadores também descobriram, que as pessoas são mais resistentes a novos pontos de vista quando suas ideias estão associada com valores políticos, religiosos ou éticos. “Se você é realmente compromissado com uma determinada postura – política digamos – você é mais propenso a procurar informações complementares que correpondem com a sua visão atual, isso em 70% das vezes”, explica Albarracin.
O mais supreendente é que as pessoas que têm pouca confiança em suas próprias crenças são aquelas que menos se expõem a pontos de vista contrários ao que pensam.
Mas há também certos fatores que induzem as pessoas a procurarem algo que contraponha uma ideia. Aqueles que, de alguma maneira, se vêm obrigados a defender suas idéias em público, são os que mais aprendem sobre os pontos de vista contrários à sua posição (políticos por exemplo). Quanto mais se sabe sobre as críticas ao seu posicionamento, mais se aprende sobre as próprias ideias, diz a pesquisadora.
As pessoas também são mais relaxadas a se exporem a idéias novas quando isso é útil, de alguma forma. “Ao comprar uma casa, por exemplo. Por mais que você goste do que viu, vai procurar algo que possa inviabilizar o investimento, para somente depois se decidir. O caso de uma cirurgia, quase sempre as pessoas pedem uma segunda opinião, por melhor que o médico que indicou a cirurgia seja”.
Mas para a maioria das pessoas, ao que parece, focar nas próprias crenças e idéias é confortável e as permite viver do jeito que estão. “A boa notícia é que uma em cada três vezes, mais ou menos, as pessoas procuram ver o outro lado das coisas”, finaliza Albarracin.