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Cientistas questionam 'milagres' atribuídos à vitamina D
 
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05/02/2010

Cientistas questionam 'milagres' atribuídos à vitamina D

As pessoas que correm mais risco de uma deficiência de vitamina D tendem a ser mais velhas, pacientes de diabetes ou doenças renais, a não sair muito de casa ou a ter pele mais escura

Imaginem um tratamento capaz de reforçar os ossos, fortalecer o sistema imunológico e reduzir o risco de doenças como o diabetes e problemas cardíacos e renais, bem como pressão alta e câncer. Algumas pesquisas sugerem que esse tratamento maravilhoso já existe. Trata-se da vitamina D, um nutriente que o corpo produz com base na luz solar e que também é encontrado em peixes e no leite fortificado.

No entanto, a despeito do potencial de uso da vitamina D para a saúde, cerca de metade das crianças e adultos norte-americanos apresentam níveis inferiores ao ideal desse composto, de acordo com algumas estimativas, e até 10% das crianças apresentam sérias deficiências, de acordo com relatório publicado em 2008 pelo American Journal of Clinical Nutrition.

Como resultado, os médicos cada vez mais recorrem a testes quanto ao nível de vitamina D no organismo do paciente, e receitam suplementos de uso diário para elevá-los. De acordo com a Quest Diagnostics, uma rede de laboratórios de exames clínicos, os pedidos de testes de vitamina D subiram em mais de 50% no trimestre final de 2009, ante o mesmo período um ano antes. E em 2008 os consumidores norte-americanos adquiriram o equivalente a US$ 235 milhões em suplementos de vitamina D, ante US$ 40 milhões em 2001, de acordo com o Nutrition Business Journal.

Mas talvez ainda não seja hora de começar a devorar as pílulas de suplemento de vitamina D. O entusiasmo despertado pelo seu potencial de beneficiar a saúde ainda é muito maior do que a ciência justifica. Ainda que numerosos estudos tenham apresentado resultados promissores, não existem muitos dados de testes clínicos conduzidos com grupos de controle e seleção aleatória de integrantes. Pouco se sabe sobre qual seria o nível ideal de vitamina D no organismo e quanto aos possíveis efeitos colaterais de dosagens elevadas do produto.

"Correlação não significa necessariamente uma relação causal", disse a Dra. JoAnn Manson, professora da Universidade Harvard e diretora de medicina preventiva no Brigham and Women¿s Hospital, em Boston. "As pessoas podem apresentar níveis elevados de vitamina D porque se exercitam muito e recebem exposição à luz ultravioleta ao se exercitar ao Sol", disse Manson.

"Ou podem ter alto nível de vitamina D porque se preocupam com a saúde e usam suplementos. Mas elas também seguem uma dieta saudável, não fumam e fazem muitas outras coisas que ajudam a preservar a saúde".

Manson está dirigindo um grande estudo, com prazo previsto de cinco anos, que deve oferecer respostas a essas e a outras perguntas. O teste clínico de alcance nacional está recrutando 20 mil adultos mais velhos, incluindo homens com mais de 60 e mulheres com mais de 65 anos, para determinar se alta dosagem de vitamina D e de ácidos graxos omega 3 administrados por meio de suplementos à base de óleo de peixes propiciarão redução no risco de doenças cardíacas e câncer. (Se você quer saber mais sobre o estudo, ou se inscrever, vá ao site www.vitalstudy.org.)

Manson diz que os suplementos à base de óleo de peixes foram incluídos no estudo porque representam outro tratamento promissor que não está sendo testado clinicamente na escala requerida. Além disso, vitamina D e óleo de peixe são conhecidos por seus efeitos anti-inflamatórios, mas cada um deles funciona por meio de percurso diferente no organismo, o que significa que combiná-los pode propiciar benefícios adicionais de saúde.

Os participantes do estudo serão divididos em quatro grupos. Um receberá pílulas de vitamina D e de óleo de peixe; dois receberão ou a vitamina D ou o óleo de peixe, mas não ambos; e o último receberá duas pílulas de placebos.

A vitamina D é encontrada em diversas partes do corpo e age como mecanismo sinalizador para ativar e desativar células. No momento, a dosagem recomendada, computando todas as fontes, entre os quais os alimentos e a luz solar, é de 400 unidades internacionais por dia, mas a maioria dos especialistas concorda em que essa recomendação é provavelmente baixa demais. O Instituto de Medicina dos Estados Unidos está revisando suas normas quanto à vitamina D, e a expectativa é de que eleve a dose diária recomendada.

Os participantes do estudo receberão até duas mil unidades internacionais de vitamina D3, a variedade que se acredita possa ser usada mais facilmente pelo corpo. O estudo empregará doses de um grama de suplementos de óleo de peixe contendo omega 3, o que representa cerca de cinco a 10 vezes mais que a absorção média diária.

A dosagem de vitamina D em uso no novo teste será muito mais alta do que a adotada em estudos precedentes. O conhecido estudo da Iniciativa de Saúde Feminina, por exemplo, acompanhou mulheres que recebiam doses de 400 unidades internacionais de vitamina D e mil miligramas de cálcio, e não identificou benefícios especiais dos suplementos, embora as mulheres que consumiam as pílulas regularmente apresentassem menor incidência de fraturas de bacia.

Ainda assim, a maioria dos especialistas acredita que uma dosagem de 400 unidades internacionais é baixa demais para oferecer benefícios de saúde adicionais.

Outro estudo, envolvendo 1,2 mil mulheres, estudava os efeitos de 1,5 mil miligramas de cálcio e de mil unidades internacionais diárias de vitamina D. As mulheres que receberam ambos os suplementos apresentaram risco menor de câncer de mama, nos quatro anos seguintes, mas o número de casos concretos - sete no grupo que usou o placebo e quatro no grupo que recebeu o suplemento - era pequeno demais para permitir comparação estatística significativa.

Ainda que os consumidores possam se sentir tentados a correr e começar a usar duas mil unidades internacionais diárias de vitamina D, médicos advertem que isso é perigoso. Diversos estudos recentes sobre nutrientes, entre os quais as vitaminas E e B, selênio e beta caroteno, se provaram decepcionantes - e alguns resultados chegaram a sugerir que a dosagem elevada faz mais mal do que bem, elevando o risco de problemas cardíacos, diabetes e câncer, a depender do suplemento envolvido.

A despeito dos resultados promissores apresentados pela vitamina D em diversos estudos de observação, as pesquisas realizadas quanto a outros suplementos demonstram que é difícil documentar os benefícios desse tipo de regime para pessoas que já sejam saudáveis, e que prever os potenciais danos é virtualmente impossível, apontou o Dr. Eric Klein, presidente do Instituto Glickman de Urologia e Medicina Renal, parte da Cleveland Clinic.

Klein recentemente trabalhou como coordenador nacional do Select, um estudo conduzido em escala nacional nos Estados Unidos sobre os benefícios da vitamina E e do selênio para os pacientes de câncer de próstata. O estudo parecia promissor, inicialmente, mas no final não conseguiu demonstrar benefícios no que tange ao uso de suplementos, e apresentou risco substancialmente mais alto de diabetes entre os usuários de selênio.

"Minha sensação é a de que a lição aprendida com os grandes testes clínicos sobre outros suplementos vitamínicos, entre os quais o Select, é a de que não existe benefício comprovado de saúde ou em termos preventivos, no que tange ao uso de suplementos dietéticos por populações de bom nível nutricional - as quais respondem pela maioria absoluta das pessoas que se inscrevem para esse tipo de teste clínico", disse Klein. "Para mim, faria muito mais sentido estudar os efeitos dos suplementes dietéticos ou vitamínicos sobre populações que apresentam deficiências nutricionais".

As pessoas que correm mais risco de uma deficiência de vitamina D tendem a ser mais velhas, pacientes de diabetes ou doenças renais, a não sair muito de casa ou a ter pele mais escura. Os adolescentes negros dos Estados Unidos sofrem risco especialmente elevado nesse sentido, talvez porque além da pele mais escura eles bebam menos leite ou brinquem menos na rua do que as pessoas de outras etnias, na adolescência.

A comunidade científica continua a debater qual seria o nível ideal de vitamina D para o organismo. As pessoas em geral são classificadas como deficientes caso a presença do composto no sangue seja inferior a entre 15 e 20 nanogramas por mililitro. Mas muitos médicos acreditam agora que o nível ideal de vitamina D deveria ser superior a 30 nanogramas por mililitro. Não se conhece o nível ideal, e tampouco é sabido o que constituiria uma dose excessiva de vitamina D, o que poderia causar pedras nos rins, calcificação de vasos sanguíneos e outros problemas de saúde.

O nível de vitamina D no organismo das pessoas é influenciado pela cor de sua pele, pelo local de moradia, pelo tempo que passam ao ar livre e pelo seu nível de consumo de peixe e leite. Para elevar a presença de vitamina D sem recorrer a suplementos, uma pessoa poderia estender sua exposição ao Sol em 10 ou 15 minutos por dia. Comer mais peixe ajuda - uma porção de 100 gramas de salmão fresco oferece entre 600 e mil unidades internacionais de vitamina D -, mas para conseguir a dose recomendada do produto usando o leite seria necessário beber um litro de leite ao dia.

"O que sabemos é que existe muita gente que apresenta deficiências em seus níveis de vitamina D com base nas estimativas obtidas por pesquisas nacionais", disse o Dr. Michal Melamed, professor assistente de medicina no Albert Einstein College of Medicine. Em Nova York. "Mas não sabemos o que acontece quando a curva se volta ao lado oposto. Provavelmente existe um risco associado à presença excessiva de vitamina D no sistema".

 

 


Autor: The New York Times
Fonte: Terra Notícias

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