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Porque ela persiste
 
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01/03/2010

Porque ela persiste

Fibras misteriosas nos caminhos da dor dentro do cérebro acabam de ter seus segredos revelados em pesquisa que estuda a cura da dor crônica

Um trajeto neural, que no passado era considerado misterioso, pode desempenhar papel fundamental ao tornar excessivamente sensíveis ao toque áreas lesionadas, sugere estudo realizado com ratos de laboratório.

Quando uma pessoa sofre qualquer tipo de ferimento - uma canela quebrada, por exemplo, ou uma queimadura de sol - o sistema responsável pela dor torna-se hipersensível, e passa a reagir até às sensações habitualmente indolores como aquelas causadas por uma caminhada ou uma massagem suave.

Normalmente, essa sensibilidade exacerbada tem a função de proteger o tecido vulnerável durante o processo de cura. Mas, às vezes, a dor pode perdurar além do seu período de utilidade e tornar-se crônica, como acontece com doenças como a artrite. Agora, os neurocientistas Robert Edwards e Allan Basbaum, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, e alguns colegas descobriram que um pequeno subconjunto de fibras nervosas poderiam ser responsáveis por enviar sensações táteis, em geral inócuas, ao circuito da dor, depois de uma lesão.

Essas fibras foram descobertas há décadas, mas sua função permaneceu um mistério desde então. "Surpresa seria uma palavra branda demais", afirmou Basbaum, ao se referir à sua reação a esses achados. "Ninguém sabia nada a respeito da função dessas fibras". As descobertas da equipe de pesquisadores foram publicadas pela revista científica Nature.

HIPERSENSIBILIDADE

Os pesquisadores descobriram que as fibras, chamadas mecanorreceptores não mielinizados de baixo limiar (C-LTMR, em inglês) precisam apenas de um estímulo mínimo para dispararem uma resposta, ao contrário das fibras clássicas da dor, que só respondem quando a sensação é intensa. Mas, como as C-LTMR geralmente não são usadas para detectar toques suaves - isso cabe a um outro grande grupo de neurônios sensoriais - seu papel não era claro. Essa pequena população de células constituía um enigma até hoje porque elas eram difíceis de serem atingidas especificamente. Os autores do estudo conseguiram eliminar tal obstáculo ao descobrir que essas fibras expressam a VGLUT3, proteína necessária para que as células enviem sinais a outros neurônios.

Devido ao fato de todos os outros neurônios sensoriais que chegam à medula espinhal usarem uma proteína diferente - VGLUT1 ou VGLUT2 - os pesquisadores puderam então modificar geneticamente os ratos para que não tivessem VGLUT3 e assim silenciar as C-LTMR.( fibras C - mecanorreceptores não mielinizados de baixo limiar).

Os ratos que não possuíam as C-LTMR funcionais responderam exatamente da mesma forma que os ratos normais quando expostos a um toque suave e à maioria dos estímulos dolorosos - como frio ou calor intensos ou cutucões nas patas com arames finos. A seguir, os autores testaram a resposta dos ratos após sofrerem lesão de três outras maneiras: por uma substância química que causa inflamação, o que ocorre em situações que variam de lesões musculares a torções na coluna; uma incisão para simular a dor de um pós- -operatório; e danos nos nervos.

Em todos os três tipos de lesão, os ratos normais tornaram-se muito mais sensíveis aos cutucões nas patas, afastando-os rapidamente. Mas os camundongos que tinham as C-LTMR silenciosas mostraram respostas iguais às de antes da lesão. Todos os animais, no entanto, tornaramse mais sensíveis ao calor, sugerindo que as C-LTMR estavam hipersensibilizando os animais ao toque, mas não à temperatura.

Havia um tipo de dor que, sem lesão, os ratos geneticamente modifi- cados eram menos sensíveis do que os ratos normais: a dor intensa e persistente, como aquela causada por um prendedor comprimindo a cauda. A descoberta parece contraditória porque as C-LTMR são facilmente estimuláveis. "Uma possível explicação seria de que uma pequena minoria de neurônios com VGLUT3 respondem à dor", afirmou Basbaum.

CAMINHOS PARA A DOR

Antes desse estudo, os pesquisadores haviam demonstrado duas maneiras de os animais se tornarem hipersensíveis após uma lesão. Na primeira, as fibras sensoriais poderiam se tornar mais sensíveis à estimulação, e isso levaria a apresentar hipersensibilidade à temperatura, como ocorre quando uma queimadura de sol faz um banho morno parecer torturantemente quente. A segunda maneira envolvia um outro conjunto de fibras que, como as C-LTMR, apresentam um baixo limiar à dor e são importantes na detecção de toques suaves.

Acredita- se que essas fibras se integrem ao circuito da dor na medula espinhal - dessa maneira, qualquer sensação que elas transmitam é percebida como dolorosa. "Esse trabalho, no entanto, diz: espere aí, há toda uma outra população; e um outro circuito, um alvo potencial do ponto de vista clínico", afirmou Basbaum. Ele acredita que as lesões também façam com que essas fibras sejam recrutadas para o circuito da dor; elas podem trabalhar com outras fibras de toque de baixo limiar à dor ou ser importantes para a hipersensibilidade a diferentes estímulos.

"Sabíamos que essas fibras existiam, mas sua função até agora não era clara", disse o neurocientista Cliff ord Woolf, da Escola de Medicina da Harvard University, em Boston. "Os dados mostram que o recrutamento dessas fibras é uma nova maneira de produzir hipersensibilidade mecânica. É um exemplo muito interessante das funções específicas de diferentes conjuntos de neurônios sensoriais", ele acrescentou.


Autor: Lizzie Buchen Tradução: Nilza Laiz Nascimento da Silva
Fonte: Revista Psique

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