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Motoboys sofrem com problemas psicológicos, segundo pesquisa da UFRGS
 
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24/03/2010

Motoboys sofrem com problemas psicológicos, segundo pesquisa da UFRGS

Estudo coordenado pela universidade mostra que 75% dos 101 motociclistas entrevistados apresentam algum distúrbio

Ao avaliar as condições de saúde mental de uma centena de motoboys em atividade nas ruas e avenidas da capital gaúcha, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desvelaram um cenário preocupante. Dos 101 entrevistados, 75% tinham ao menos um diagnóstico de doença psiquiátrica – de crises de ansiedade, mudanças bruscas de humor até transtornos de personalidade, incluindo uso abusivo de álcool e drogas.

Os profissionais foram recrutados junto a empresas de tele-entrega, a um estacionamento na Capital e ao Hospital de Pronto Socorro (HPS). No HPS, os investigadores obtiveram uma relação dos motoboys que haviam se acidentado entre 2006 e 2008 e entraram em contato com cada um deles para convidá-los a participar do levantamento – cujos resultados fazem parte de um trabalho lançado na segunda-feira, em Brasília, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trânsito e Álcool (Nepta) da UFRGS, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e com a equipe do professor Luis Augusto Rohde.

Os voluntários tiveram de responder a um questionário e passar por uma bateria de entrevistas e de avaliações psiquiátricas. Os resultados mostraram que mais da metade deles sofria de algum distúrbio psicológico e que 54% apresentaram dois ou mais diagnósticos. Entre os problemas mais comuns, estavam o abuso de drogas – com destaque para o álcool (43,6%), a maconha (39,6%) e a cocaína (32,7%) – e os transtornos de humor e de conduta, que aparecem em 60,4% dos casos.

Especialista propõe mais rigor na prevenção

Apesar de preocupantes, os resultados não chegam a surpreender o presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Estado, Valter Ferreira. Para o sindicalista, o estudo mostra a realidade de muitos dos 15 mil motoboys em atividade na Capital, submetidos diariamente a situações de estresse extremo no trânsito:

– Essa pesquisa é importante, porque mostra que esses profissionais precisam de mais atenção. Muitos sofrem com más condições do trabalho.

A opinião encontra respaldo na pesquisa. Dos 101 participantes, 37 não tinham carteira de trabalho assinada, e a maioria circulava, em média, 9,8 horas por dia. Ainda segundo o estudo, 23 motoboys disseram trabalhar durante os sete dias da semana.

– A combinação entre esse tipo de atividade, o trânsito, patologias psiquiátricas e o uso de substâncias transforma o motoboy em uma bomba – avalia o coordenador do Nepta, Flavio Pechansky.

A solução para o problema, segundo o especialista, passa por um reforço na repressão aos infratores e por uma atuação mais eficaz dos Centros de Formação de Condutores (CFCs). Para a secretária nacional adjunta de Políticas sobre Drogas, Paulina Vieira Duarte, também poderá ser necessário desenvolver programas de apoio voltados especificamente para esse segmento.

Entrevista: “Rezo para voltar inteiro”

Um motociclista que trabalha 17 horas por dia admite que já teve problemas com álcool e afirma ser comum, entre colegas, o uso de drogas. A seguir, trechos da entrevista:

Zero Hora – Como é a sua rotina de trabalho?

Motoboy –
Trabalho das 8h às 18h numa associação e das 18h30min à meia-noite como entregador de uma lancheria. Aos sábados, trabalho das 11h às 14h30min para uma galeteria e das 18h30min à 1h para a lancheria. Também trabalho no domingo das 11h às 15h, mas quero mudar isso.

ZH – Você já sofreu acidentes?

Motoboy –
Entre quedas e batidas, acho que já sofri uns 10 ou 12 acidentes. Em 50%, a culpa foi minha. Por imprudência ou imperícia.

ZH – Você usa algum tipo de droga?

Motoboy –
Tive problemas com álcool. Isso inclusive foi a causa de muitos desses acidentes que sofri.

ZH – Você sofre com estresse?

Motoboy –
É como se fosse uma guerra. As ruas são um campo minado. Tem pedestre imprudente, motorista imprudente. Eu rezo todos os dias para voltar inteiro para casa.

Por que a Lei Seca patina

Consideradas fundamentais para o êxito da Lei Seca, as barreiras de fiscalização estão no centro de uma polêmica no Estado. Enquanto pesquisadores atribuem a agonia da nova legislação ao enfraquecimento das ações policiais, autoridades da segurança pública afirmam que as blitze não sofreram mudanças.

A controvérsia veio à tona a partir da repercussão de uma pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trânsito e Álcool (Nepta), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), divulgada ontem em Zero Hora. Conforme o levantamento, mais da metade dos motoristas que bebem e frequentam bares em Porto Alegre admitem voltar para casa dirigindo. Em contrapartida, 63% deles garantiram ser favoráveis à Lei Seca, lançada em 2008.

Para os pesquisadores, a explicação para a incongruência estaria na fiscalização deficiente. Tanto que apenas 9,2% dos 1.070 entrevistados pela equipe do psiquiatra Flavio Pechansky relataram ter sido parados para fazer bafômetro.

Secretário Estadual da Segurança Pública à época do lançamento das novas regras, José Francisco Mallmann também lamentou os rumos da lei de tolerância zero ao álcool no Estado. De Brasília, onde atua na Secretaria Nacional de Justiça, Mallmann alfinetou o governo gaúcho:

– A luta contra o álcool era minha bandeira pessoal. Quando saí da Secretaria, as operações pararam.

A crítica incomodou o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Jones Calixtrato dos Santos. Contrariado, o militar disse que as operações criadas por Mallmann continuam ocorrendo.

– A diferença é que agora a mídia não tem mais interesse, então as pessoas acham que as ações pararam.


Autor: Juliana Bublitz
Fonte: Jornal Zero Hora

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