Pesquisas publicadas recentemente mostraram que alguns pacientes com câncer de mama, usuários de tamoxifeno, podem não estar recebendo os benefícios do seu tratamento porque também são medicados com inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs – sigla em inglês), medicamentos que inibem o efeito de uma enzima importante. Agora, os pesquisadores desenvolveram uma estratégia para superar esse problema. Na sétima Europeia Breast Cancer Conference (EBCC7), em Barcelona, Dr. Sean Hopkins, especialista em farmácia clínica em câncer de mama no Hospital Regional Cancer Centre de Ottawa, Ottawa, Canadá, apresentou sua pesquisa que mostra que a mudança da terapia medicamentosa numa fase precoce pode ajudar os pacientes a obter o pleno benefício do tamoxifeno e da eficácia do seu tratamento.
O tamoxifeno é usado tanto para prevenir o desenvolvimento de câncer receptor estrogênico como terapia para impedir a sua volta. Tomar medicamentos para a depressão, como a fluoxetina (Prozac) e bupropiona (Zyban) para a cessação tabágica, pode inibir a ação da CYP2D6, uma enzima que está relacionada ao metabolismo de medicações e à resposta ao tratamento, e que é crucial para o metabolismo do tamoxifeno no tratamento do câncer de mama.
Dr. Hopkins e sua equipe começaram a investigar pacientes que tomavam a terapia hormonal para câncer de mama e que também receberam a prescrição de inibidores da CYP2D6. A pesquisa mostrou que até 25% dos pacientes com câncer de mama têm transtornos depressivos, e para muitos deles são prescritos SSRIs. Além disso, muitos pacientes com câncer tentam parar de fumar e podem utilizar terapias para tanto, tais como a bupropiona.
"O estudo, publicado recentemente pelo grupo de Toronto, verificou como os resultados foram relacionados aos tratamentos que os pacientes estavam tomando simultaneamente", diz Hopkins. "Nosso estudo difere, pois temos sido capazes de agir tão logo descobrimos que um paciente está tomando medicamentos que possam interagir entre si e entramos em contato com o médico que realizou a prescrição a fim de levá-lo a mudar a medicação, sem qualquer efeito deletério sobre metabolismo do tamoxifen.
Em muitos casos, o Dr. Hopkins foi capaz de identificar os pacientes que usavam SSRIs antes de iniciar o tratamento com tamoxifeno, ou de possibilitar um tempo para que a medicação fosse descontinuada e mudada para outra classe de drogas, ou para propiciar uma mudança na terapia para o câncer, como o inibidor da aromatase (AI). Os inibidores da CYP2D6 não possuem o mesmo efeito sobre a enzima aromatase, mas um em cada cinco pacientes para de tomar o inibidor da aromatase devido aos seus efeitos colaterais; se houver mudança para o tamoxifen, continuando a tomar inibidores da enzima, pode haver uma sobreposição de terapias, diz Dr. Hopkins.
"Para esses pacientes, é importante o conhecimento que permita planejar com antecedência e de forma eficaz o seu tratamento, pois pode demorar muitas semanas para a descontinuação dos inibidores da CYP2D6, e isso pode afetar a sua terapia de câncer de mama. A descoberta significa que a boa comunicação entre todos os cuidadores de saúde é mais importante que nunca, a fim de eliminar o risco de reduzir a eficácia da terapêutica prescrita", diz o médico.
Usando dados do seu hospital, os pesquisadores registraram todos os pacientes que utilizaram a terapia com tamoxifen ou AI, bem como os inibidores de CYP2D6. Um total de 531 pacientes foi considerado elegível para o estudo, 463 receberam um dos tratamentos hormonais prescritos, enquanto 68 estavam usando um inibidor do CYP2D6, mas não recebendo o tratamento hormonal. Também, sete pacientes receberam tamoxifeno, 16 tomavam AI e um forte inibidor da CYP2D6 – 5% dos pacientes estudados. Um paciente de tamoxifeno e seis de AI também estavam recebendo um inibidor moderado da enzima, e 24 de tamoxifeno e 40 de AI estavam tomando inibidores fracos da CYP2D6.
O tamoxifeno deve ser metabolizado no fígado antes que possa se tornar ativo. "Sabemos há algum tempo que os pacientes com uma deficiência na atividade da CYP2D6 não tiram pleno proveito do tamoxifen, porque eles não conseguem metabolizar de forma ativa o endoxifen em seu metabólito", diz Hopkins. "Medicamentos inibidores da CYP2D6 podem imitar esse fenótipo farmacogênico, inibindo o metabolismo do tamoxifeno e, consequentemente, reduzindo o seu efeito terapêutico".
A equipe agora pretende prosseguir com o trabalho de garantia da qualidade das terapias para todos os pacientes com câncer de mama em tratamento no centro - mais de 6.000 por ano - e explorar testes com a CYP2D6 para alguns desses pacientes. Esses testes, antes do início do tratamento, podem ajudar os médicos a identificarem os pacientes com deficiência de CYP2D6 e permitir o oferecimento de AI ao invés de tamoxifeno desde o início.
"O trabalho que temos feito demonstra por que uma boa comunicação e transferência transparente de dados é muito importante nos cuidados de saúde", diz Hopkins. "Os pacientes podem receber cuidados de vários profissionais de saúde - médicos oncologistas, outros especialistas, médicos de família, etc. - e podem receber medicamentos em farmácias múltiplas. Se não houver transferência de informação entre as pessoas que cuidam de um paciente, os riscos de interações medicamentosas aumentam, e isso pode afetar a qualidade e a eficácia dos cuidados prestados.
"Acredito que precisamos ter políticas para os prestadores de cuidados de saúde, incluindo as operadoras de saúde, para proporcionar um melhor acesso a informação para os profissionais de saúde envolvidos na assistência ao paciente. Se essas organizações tentarem proteger as suas informações de uma forma razoável, podem impactar seriamente o atendimento e os resultados para os pacientes".
Tradução: Equipe SIS.Saúde