
“Queríamos colher informações sobre mulheres que não estavam procurando nenhum tipo de tratamento ou apoio para romper os relacionamentos em que o abuso era presente. Isso poderia ajudar a identificar os perfis desses homens que têm traços violentos”, diz Patricia O’Campo, do Hospital St. Michael de Toronto, Canadá.
Estudos anteriores mostravam discrepâncias entre a avaliação pessoal de seus relacionamentos – como comprometimento do parceiro com a relação e sentimentos positivos sobre o parceiro violento – e a violência real dentro do relacionamento. Isso era um ponto crítico que as deixava em dúvida sobre deixar ou não seus parceiros. “Eram necessários mais dados sobre isso”, diz O’Campo, coautora do estudo que contou com a ajuda de pesquisadores da Universidade de Adelphi, em Nova York, EUA.
O estudo, que detalhou os relacionamentos de mais de 600 mulheres que moravam em áreas urbanas e de baixo nível socioeconômico, mostrou que 48% dessas mulheres haviam sofrido algum tipo de abuso por parte dos parceiros com os quais tinham relacionamentos íntimos no período de um ano anterior ao estudo. Mas apenas 2,3% dessas mulheres indicaram seus parceiros como “extremamente controladores” e uma porção ainda menor (1,2%) afirmou que seus companheiros tinham comportamentos agressivos generalizados. Em compensação, uma boa parte dessas mulheres indicava que via em seus maridos ou namorados fundamentalmente como apresentando qualidades positivas.
Baseados nos dados coletados, os pesquisadores criaram três classificações iniciais e subdividiram os grupos de parceiros violentos: 44% se encaixaram no subgrupo determinado como “dependente da parceira, porém abusivo” (que são identificados como menos controladores, geralmente violentos e com maiores indicações de traços de personalidade positivos).
Outro grupo, aqueles com “traços positivos, mas também violentos” (38% dos parceiros), eram mais controladores, mais violentos e também os com maiores índices de dependência da parceira e de traços de personalidade positivos. E finalmente os “perigosamente abusivos” (18%), mais violentos, controladores e com índices negativos nos outros itens.
Os pesquisadores dizem que os resultados contribuem para o estudo do problema de violência contra a mulher, trazendo à tona as percepções das próprias vítimas. “Ouvir as mulheres sobre suas situações ainda não nos levou a conclusões e é necessário analisar melhor os dados. Esse é somente um passo na direção do entendimento de como criar novas estratégias para protegê-las desse tipo de violência”, diz O’Campo.