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14/05/2010

Rede social-sexual

Pesquisa revela que o fluxo de informações sobre prostituição na internet contribui para formar uma rede de contatos que extrapola o espaço da web. Essa nova dinâmica do comércio sexual pode influenciar na disseminação de doenças sexualmente transmissíveis

Desde a última década, o uso da internet para a troca de informações sobre prostituição é crescente. A partir desta constatação, pesquisadores da Suécia descobriram que a comunicação via web é responsável pela formação de uma rede de contatos sexuais constituída por garotas de programas e clientes. O fluxo de dados nessa rede organiza o comércio de sexo fora do ambiente virtual e pode ter implicações na propagação de doenças transmitidas sexualmente.

No estudo divulgado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) [PDF], os pesquisadores analisaram um fórum brasileiro na internet no qual homens heterossexuais relatam e atribuem notas a encontros com acompanhantes de luxo. Por meio desses relatos, a equipe conseguiu identificar uma rede de contatos formada por 10.106 'compradores' e 6.624 'vendedoras' de sexo.

Anonimamente, os membros do fórum classificam o serviço oferecido pelas acompanhantes, identificadas apenas por apelidos, conforme o preço e a 'qualidade', atribuindo conceitos como 'bom', 'neutro' ou 'ruim'. Geralmente, os comentários contam como a profissional foi contatada e qual foi o tipo de relação sexual praticada, além de descreverem a atitude e o comportamento da parceira durante o encontro – o que inclui desde carisma a habilidades sexuais.

Outros itens avaliados são o nível de envolvimento e os atributos físicos das mulheres, bem como a casualidade do encontro. Cada tópico aberto no fórum corresponde a uma acompanhante, e as avaliações futuras são todas agrupadas sob aquele item.

Os usuários são classificados de acordo com a frequência com que postam comentários na comunidade. Quanto mais frequente for a participação, maior o prestígio do participante.

Combinação entre real e virtual

Os dados obtidos na análise dos comentários mostraram que o fluxo de informações sobre os encontros ocorridos no passado produz efeitos no futuro. “Cada encontro gera uma mensagem e uma nota, o que altera a estrutura da rede, atraindo mais ou menos clientes para as garotas de programa”, explica Luis Enrique Correa da Rocha, físico paranaense e um dos autores do estudo. Há dois anos e meio, Luis é pesquisador do Departamento de Física da Universidade de Umeå, na Suécia.

Quando os clientes atribuem notas altas às acompanhantes, é desencadeado um fenômeno de postagens subsequentes em curto espaço de tempo. Ou seja, a mensagem deixada na comunidade contribui para que as garotas elogiadas atraiam mais parceiros. Por outro lado, notas baixas são um mau negócio, reduzindo a procura por seus serviços.

Os pesquisadores analisaram dados postados no fórum desde 2002, quando ele foi inaugurado, até 2008. “O fluxo de informações no fórum gera um ciclo no qual o comportamento off-line (fora do ambiente virtual) é refletido no on-line (na internet), que, por sua vez, volta a influenciar o off-line”, descreve Rocha.

Assim, a dinâmica de mensagens na comunidade, especialmente as notas, afeta tanto a atividade sexual dos usuários do fórum quanto a rotina de trabalho das prostitutas.

Por meio de um mapeamento da rede feito com gráficos matemáticos, os pesquisadores observaram que a maioria das 'vendedoras' e dos 'compradores' de sexo têm poucos parceiros.

Além disso, o estudo mostrou que os encontros mais frequentes ocorrem entre moradores de cidades próximas – e que não há uma relação direta entre o crescimento das cidades e o aumento do número de acompanhantes. Em outras palavras, cidades mais populosas têm, proporcionalmente, menos garotas de programa.

Mais confiança, mais risco

Rocha e seus colegas concluíram ainda que a dinâmica do fórum pode ter implicações no processo de disseminação de doenças, uma vez que os dados analisados sugerem a adoção de alguns comportamentos de risco. Nos comentários, os usuários descrevem a atividade sexual segundo três categorias: beijo na boca, sexo anal e uso de preservativo durante sexo oral.

Os pesquisadores identificaram que, com o passar do tempo de permanência na rede, acompanhantes e clientes tendem a adotar um comportamento menos seguro em relação a essas práticas. Entre as garotas de programa, por exemplo, a prática de sexo oral sem preservativo aumentou de 60-75% para 95% até o fim do período de análise.

O pesquisador brasileiro acredita que a mudança de comportamento esteja ligada ao ganho de confiança e intimidade entre os parceiros. Para ele, o estudo pode contribuir para a elaboração de políticas de controle da propagação de infecções no Brasil. “Apesar do número de encontros entre moradores de cidades diferentes ser relativamente baixo, a conscientização da população viajante sobre a importância do sexo seguro pode ajudar no combate às doenças sexualmente transmissíveis”, ressalta.

Rocha e sua equipe já deram início a uma nova pesquisa que pretende simular a disseminação de infecções por meio de redes de contatos sexuais formadas na internet.
 


Autor: Camilla Muniz
Fonte: Ciência Hoje Online

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