A decisão do laboratório Pfizer de cortar pela metade o valor cobrado pelo Viagra, há 12 dias de expirar sua patente, deve causar uma guerra de preços com fabricantes de remédios genéricos, que chegam ao mercado até o fim deste mês.
Para não perder o principal atrativo desses produtos, que é o baixo custo, os laboratórios que produzem os genéricos também serão obrigados a baixar seus preços.
Pela legislação brasileira, no momento em que um fabricante recebe autorização para comercializar um genérico, ele deve registrar o produto na CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamento) com um preço no mínimo 35% mais barato que o remédio de referência (nesse caso, o Viagra).
Isso não impede, no entanto, que os fabricantes de genéricos mudem a estratégia e passem a oferecer o produto por um valor mais baixo ainda.
Mauro Maia, procurador-geral do Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e que foi decisivo para a não prorrogação da patente do Viagra, diz que, no fim das contas, o que determina o valor dos remédios é o mercado.
– É a livre concorrência. Eles vão concorrer entre si e vão ter de ajustar os preços de acordo com a posição de mercado. Já houve casos em que o remédio de referência acabou custando menos que os genéricos.
Atualmente, cada comprimido do Viagra custa no mínimo R$ 28,05 e no máximo R$ 52,96, dependendo do Estado e da dosagem. Nesta terça-feira (8), a Pfizer anunciou uma redução de 50% nesses valores, fazendo o comprimido custar em média R$ 15.
"Genérico será produzido a qualquer custo"
Odnir Finotti, presidente da associação Pró Genéricos, afirmou que os fabricantes desses produtos terão de baixar os preços ainda mais. Ele diz que “essa é a regra e não tem como fugir disso” e prevê que os valores vão cair mais que os 50% anunciados pela Pfizer, já que os genéricos terão de ser 35% menores.
– Já vejo uma redução de 35% em cima dos 50%. Significa que o consumidor pagaria 17,5% do valor atual [antes da redução].
Segundo as contas de Finotti, a redução pode chegar, no final, a 82,5%.
Mesmo a esse valor, Finotti afirma que a produção de genéricos não será impedida.
– É possível fazer o genérico a esse preço. O genérico será produzido a qualquer custo, mesmo reduzindo dramaticamente o preço.
Briga de gato e rato
Um exemplo de como a chegada dos genéricos vai movimentar o mercado de remédios para disfunção erétil é o desempenho do Helleva, remédio de referência do laboratório brasileiro Cristália e que registra crescimento considerável desde o ano passado. O medicamento custa entre R$ 13,05 e R$ 14,40, ou seja, menos do que o novo preço médio do Viagra.
O preço menor fez com que as vendas do remédio saltassem 168% em um ano, passando de 80,3 mil comprimidos comercializados em abril do ano passado para 215,8 mil no mesmo mês de 2010, de acordo com dados da consultoria IMS Health. Enquanto isso, o mercado como um todo cresceu 14%.
Ogari de Castro Pacheco, presidente do conselho de administração do Cristália, diz que a empresa consegue oferecer remédios para disfunção erétil a preços menores porque, entre outros motivos, gastou menos no desenvolvimento do produto.
– Primeiro porque eu estou no Brasil, com pesquisadores brasileiros, com custos de desenvolvimento menores. Além disso, grandes laboratórios internacionais, como a Pfizer, têm custos de marketing enormes, não só no Brasil, mas nos Estados Unidos e na Europa, e colocam essas despesas como custo de desenvolvimento do remédio. Isso faz com que o produto custe mais.
Pacheco diz acreditar que o Helleva deve ser menos afetado pela chegada dos concorrentes, por já ter um preço menor. Mas ele reconhece que a tendência geral é de queda nos valores.
– Os genéricos vão ter de baixar também, em uma briga de gato e rato. Vai vencer quem tiver melhor estratégia de logística e distribuição. Quem sai lucrando é o consumidor.