Pesquisa do Idec com 164 medicamentos mostra que os de marca podem ser até 568% mais caros que as versões genéricas. Os preços máximos fixados pelo governo ficam muito acima do que é praticado pelo mercado

Façamos uma lista imaginária para ir à farmácia, incluindo nela os cinco remédios que, na pesquisa do Idec, apresentaram as maiores diferenças entre o preço médio cobrado ao consumidor e máximo estabelecido pelo governo. Você desembolsaria, nessa compra, R$ 271,25. Se pagasse o valor máximo para cada medicamento, o preço chegaria a R$ 454,62, nada menos que 68% a mais.
Para você entender, isso não representa benefícios que as farmácias concedem ao consumidor, mas problemas na maneira como a regulação de preços de medicamentos é feita no país. Os preços de diversos remédios são estabelecidos pela Câmara de Regulação de Mercado (CMED), um órgão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Câmara estabelece um preço máximo para a venda de cada produto, mas na prática as farmácias acabam cobrando bem menos - o que não significa que o preço ao consumidor seja barato, mas sim que o teto imposto pelo governo está elevado demais.
"O Brasil faz regulação de preços [tarefa que fica] a cargo da Anvisa. No entanto, os fabricantes, por uma série de práticas que podem incluir aumento de eficiência e redução do custo de produção, práticas comerciais de reduzir preço de um produto de sua linha e aumentar o de outro, conseguem modular os valores cobrados. Os distribuidores ou as farmácias também podem modular sua participação por meio de acordos comerciais e por compras de grande volume", afirma Vera Luiza, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.
"Diferentes estudos mostram que o preço final tem muito mais a ver com quanto um mercado aceita pagar do que com custo de produção. Assim, pode-se encontrar um mesmo produto em um país de primeiro mundo, onde a mão-de-obra, o custo de produção e o poder aquisitivo são mais altos, vendido mais barato do que em um país de renda baixa. Resulta que, algumas vezes, há 'gorduras' que podem ser tiradas do preço final sem perda importante do lucro", continua a pesquisadora.