Em um interessante artigo, Garcia e colaboradores (2008), apresentam um modelo de programa de educação e capacitação para a temática do transplante de órgãos, desenvolvido na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Este estudo analisa distintas razões, bem como fornece dados para planejamento de ações já no nível de treinamento da graduação.
Os autores comentam que as taxas de doações de órgãos continuam estáveis ao longo dos anos, embora os avanços tecnológicos possam beneficiar significativamente as pessoas que aguardam por transplante de órgãos. Contudo, as maiores controvérsias residem, ainda, na conscientização das famílias, sendo que na maioria das vezes estas desconhecem o diagnóstico de morte encefálica, ou não o aceitam. Além disso, os familiares podem recusar-se a doarem os órgãos de seus entes, pois temem à deformação corpórea, entre outras razões.
Dessa maneira, alunos matriculados em cursos da área da saúde (medicina, nutrição e biomedicina), em uma universidade pública da cidade de Porto Alegre, foram treinados em um programa de capacitação sobre doação de órgãos. O programa deste curso, desenvolvido em parceria com a Direção de Transplantes de um Hospital, abordava questões como: diagnóstico de morte encefálica; aspectos éticos, bioéticos e jurídicos da doação de órgãos; técnicas de entrevista familiar; imunologia, etc. Além das disciplinas, os alunos eram incentivados à disseminar seu conhecido ainda durante a graduação, proferindo palestras em escolas, hospitais, universidades, etc, além de desenvolverem discussões teóricas em seminários, com seus colegas e professores.
Em dois anos, o curso capacitou mais de 200 alunos, durante três edições. Na avaliação final do curso, os alunos entenderam que o mesmo foi capaz de instrumentalizá-los para lidarem com estes casos, bem como avaliaram o curso de forma excelente.
Assim, os autores concluem que a mudança do cenário atual das taxas de doação de órgãos só pode ser alterada se campanhas amplas forem executadas, em nível nacional e de caráter educativo. Além disto, afirmam que um programa de capacitação, que ocorra durante a formação dos futuros profissionais que irão realizar o manejo destes casos, pode ser um vetor positivo para o incremento do número de doadores.
Um fato positivo e que merece destaque, ainda, é que este curso foi estruturado de modo a facilitar a disseminação dos conteúdos, pois os alunos multiplicavam os saberes por meio das atividades extra-classe. Sem dúvida, é uma alternativa viável e promissora em termos de educação em saúde e promoção de políticas públicas favoráveis para o setor.
Referência
GARCIA, C. D. et al. Educational program of organ donat íon and transplantation at Medical School. Transplantation Proceedings, v. 40, n. 4, p. 1068-1069, 2008.