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Discussão sobre benefícios da mamografia esquenta no Reino Unido
 
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03/04/2009

Discussão sobre benefícios da mamografia esquenta no Reino Unido

Funcionários de saúde ingleses criticam forma como exame é apresentado

A sabedoria popular sobre o exame de câncer de mama está sob fogo cerrado na Inglaterra, e funcionários locais do sistema de saúde estão atentos.

Eles prometeram reescrever panfletos informativos sobre a mamografia após defensores e especialistas reclamarem, numa carta ao jornal "The Times", de Londres, que nenhum dos textos "chega perto de dizer a verdade" – exagerando nos benefícios do exame e deixando de lado informações críticas sobre os danos.

O que as mulheres não ficam sabendo, dizia a carta, é que para cada vida salva pelo exame de câncer de mama, até dez mulheres recebem diagnósticos – e, muitas vezes, cirurgias – para um câncer de crescimento tão lento que nunca teria ameaçado a vida da mulher.

"A cultura diz que a mamografia é algo tão prudente de se fazer, que você simplesmente aceita isso e faz o exame", disse uma signatária, Hazel Thornton, em entrevista por telefone.

Thornton, de 75 anos, disse ter se desencantado com os exames de rotina há mais de 15 anos, depois que uma mamografia identificou carcinoma in situ, um câncer de mama não-invasivo que muitas vezes não progride. Ela se submeteu a cirurgia, mas recebeu um conjunto tão confuso de opções de tratamento que acabou percebendo que os médicos pouco sabiam sobre quão agressivamente deveriam tratar esse tipo de câncer.

"Você não sabe sobre toda essa incerteza até que seja premiado, e acontece com você", disse ela.

Noção incomum

A ideia de que a mamografia pode fazer mais mal do que bem pode ser alheia a muitas mulheres americanas. A mensagem de prevenção enfatizava que os exames protegem as mulheres do câncer de mama, e uma pesquisa com 479 mulheres descobriu que apenas 7% sabiam que alguns cânceres crescem tão vagarosamente que, mesmo sem tratamento, eles nunca afetariam a saúde de uma mulher.

Uma análise de 2006 do colaborativo Nordic Cochrane Center, um centro independente de pesquisa e informação situado em Copenhague, descobriu que, para cada duas mil mulheres com idades entre 50 e 70 anos que são examinadas por dez anos, uma mulher será salva e não morrerá de câncer de mama, enquanto dez terão suas vidas afetadas por um tratamento desnecessário. Os números foram citados na carta ao "The Times".

Julietta Patnick, diretora dos programas de exames contra câncer do Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra, disse que os folhetos aos pacientes estavam sendo revisados e que poderiam ser acrescentadas informações sobre o diagnóstico exagerado.

Numa entrevista por telefone, entretanto, ela afirmou que os números da análise de Cochrane eram imprecisos. Estudos britânicos, segundo ela, mostram que a proporção de vidas salvas frente às vidas desnecessariamente afetadas estava mais próxima de um para um.

"Nós sabemos, a partir de estatísticas, que existem cânceres diagnosticados através do exame que de outra forma não teriam sido diagnosticados – porque a mulher morre por algum outro motivo antes, atropelada por um ônibus, ou por um ataque cardíaco, ou ela pode viver até os 90 anos e aquilo continuaria ali, e ela não teria morrido pelo câncer de mama", disse Patnick.

Porém, o problema é que "Você não sabe quem é essa mulher", continuou ela. "Você apenas sabe que, estatisticamente, ela existe.”

Difícil distinção

Especialistas concordam que, no microscópio, cânceres de crescimento lento não parecem diferentes dos agressivos, então seria impossível saber quais deles podem ser deixados intocados.

O autor da análise do centro Cochrane, Peter C. Gotzsche, outro signatário da carta britânica, escreveu uma versão alternativa de um folheto para mulheres considerarem a mamografia. O texto começa dizendo: "Pode ser racional realizar o exame de câncer de mama com a mamografia, mas também pode ser racional não o fazer."

As mulheres nos Estados Unidos são examinadas com muito mais rigor que as mulheres na Inglaterra, com a mamografia anual se iniciando aos 40. As britânicas começam aos 50, e fazem uma mamografia a cada três anos.

Ned Calonge, presidente da Força-Tarefa dos Serviços Preventivos dos EUA, diz que a mamografia foi vendida com exagero às mulheres americanas.

"A expectativa das mulheres é que 'Se eu for examinada, não terei câncer de mama'", disse ele. "Vejo que as mulheres dirão, 'Como posso ter câncer de mama? Sempre faço minha mamografia'".

Na verdade, continuou Calonge, a detecção precoce pode não fazer diferença na sobrevivência para muitas mulheres.

"Algumas mulheres teriam os mesmos resultados com o câncer sendo detectado clinicamente ou pela mamografia", disse ele. "E há mulheres com cânceres tão agressivos que não conseguiríamos detectá-los cedo o bastante para fazer uma diferença na mortalidade."

Um painel de especialistas que revisou as evidências sobre mamografias anuais para a força-tarefa, em 2002, rebaixou a recomendação de exames anuais de "fortemente recomendado" para apenas "recomendado". Essa revisão levantou algumas das mesmas preocupações mencionadas pelos críticos na Inglaterra: a alta incidência de falso-positivos, que causam angústia e no fim não são nada sério, e o potencial tratamento desnecessário de carcinoma in situ e outros cânceres "indolentes". O painel também expressou preocupação com potenciais danos por exposição à radiação durante os exames.

Por faixa etária

A mamografia é mais eficaz em mulheres mais velhas. Mas, mesmo entre mulheres de 50 anos ou mais, segundo o painel, apenas uma morte seria evitada após 14 anos observando 1.224 mulheres que haviam se submetido ao exame.

"Esse é um grande número de mulheres" que precisam ser examinadas para gerar um benefício, disse Calonge.

Similarmente, estudos sobre exames na próstata para homens concluíram, neste mês, que os exames de sangue por APE (antígeno prostático específico) salvam poucas vidas – enquanto levam a tratamentos desnecessários com sérias complicações.

Apesar dos temores da força-tarefa, a maioria das sociedades médicas apóia a mamografia anual, assim como a Sociedade Americana do Câncer. Robert Smith, diretor de exames de câncer da sociedade, diz acreditar que o diagnóstico exagerado é mínimo, e que apenas 10% dos cânceres descobertos pela mamografia são inofensivos.

"Acho que isso é mais um exemplo de que: 'Aqui está algo que seu médico sabe e não está lhe contando'", disse Smith. "Essa é uma discussão entre pessoas que veem o copo meio-cheio ou meio-vazio".

"O exame do câncer de mama é uma parte de um plano de saúde preventiva", continuou ele. "Ele não é perfeito".

No fim, a mulher tem de tomar sua própria decisão a respeito do exame, disse Lisa M. Schwartz, professora-associada da Escola de Medicina de Dartmouth, co-autora de "Know Your Chances" (University of California, 2008), um livro sobre como interpretar estatísticas e riscos de saúde.

"Você não é louca se não quiser ser examinada, e também não é louca se quiser", disse Schwartz, que também assinou a carta ao "The Times". "As pessoas podem tomar suas próprias decisões, e não precisamos coagir ninguém a fazer isso."

"Existe uma verdadeira permuta de benefícios e danos. As mulheres deveriam saber disso. Mas não há dúvidas sobre um ponto: se fizer o exame, você terá mais chances de receber um diagnóstico de câncer de mama."


Autor: Roni Caryn Rabin
Fonte: The New York Times - G1 Notícias

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