Uma das principais aliadas na perda de peso, a sibutramina entrou para a lista de vilãs neste ano, quando foi comprovada sua tendência em provocar sintomas preocupantes em pessoas com problemas cardíacos. A substância foi proibidas nos Estados Unidos e na Europa, e passou a ser comercializada com severa restrição no Brasil. Agora, o Ministério Público descobriu que a sibutramina vem sendo utilizada em um produto anunciado como natural e que tem venda livre - e intensa - nas farmácias.
Segundo reportagem do "Fantástico", exibida domingo, o produto Divine Shen contém uma dose de sibutramina que é o dobro do encontrado nos medicamentos de tarja preta. A inclusão da substância na composição não está impressa na embalagem do produto, feito à base de fibra de laranja e importado da China. O Divine Shen possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2007. Cada caixa tem 30 cápsulas e custa, em média, R$ 170.
AVC e Infarto
A sibutramina existe no mercado há 13 anos e age no cérebro, estimulando a sensação de saciedade. "A pessoa ainda vai sentir fome, mas se contenta com um prato menor", diz a endocrinologista Fernanda Gomes de Melo, do Hospital Bandeirantes. Segundo ela, a substância não causa dependência, mas pode provocar problemas sérios em pessoas com problemas cardíacos: elevação da pressão arterial e taquicardia, que podem causar infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Por isso, é essencial que o paciente seja avaliado pelo médico para saber se pode usar a sibutramina. Na opinião de especialistas, para quem não tem problemas cardíacos e precisa emagrecer, a sibutramina é a melhor opção, junto com reeducação alimentar e exercícios físicos. "A sibutramina não é a droga perfeita, mas é o que temos de melhor", diz a endocrinologista Roberta Frota Villas Boas, do Hospital 9 de Julho.
Nutricionista nega que recomende a substância
A redação do DIÁRIO entrou em contato com os representantes do Divine Shen no Brasil na primeira semana de dezembro (leia mais ao lado) para solicitar informações sobre o produto. O representante enviou, além de explicações sobre o consumo, uma relação com cinco nutricionistas e cinco médicos que poderiam dar entrevistas sobre a substância.
Uma das nutricionistas citadas, Andreia Naves, negou que conheça o Divine Shen. "Um representante me procurou há três meses para apresentar o produto. Como tenho uma empresa de consultoria, sugeri que fizéssemos uma análise, já que não há pesquisas sobre o Divine Shen. Mas não recebi retorno", conta a especialista. Ela afirma ainda que, por desconhecer o produto, nunca o recomendou a seus pacientes. "Não posso falar bem ou mal do que não conheço", diz ela.
O DIÁRIO tentou entrar em contato com os representantes do Divine Shen no Brasil, mas não teve retorno até o fim da tarde de ontem. Representantes da Anvisa participaram de uma reunião sobre o assunto também durante a tarde de ontem. Segundo a reportagem do "Fantástico", a agência não analisa e nem testa os produtos - ela apenas libera a documentação. O DIÁRIO não teve retorno da Anvisa até o fechamento desta edição.