O estudo realizado pela bióloga Eliane Borges de Almeida, doutora em Fisiopatologia Médica, mostrou que filhos de portadoras do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) não nascem com a doença, porém apresentam alterações hematológicas, como anemia e diminuição dos glóbulos vermelhos e brancos.
A pesquisa foi feita a partir da parceria de três departamentos, o setor de Hematologia do Hemocentro, o Centro de Investigação em Pediatria (CIPED) e o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), todos da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP). Para a apuração foram comparadas 15 mães sem o HIV e seus bebês com o grupo de estudo composto por 36 mães com HIV positivo e seus respectivos filhos. Ao confrontar os dados ficou evidente para a pesquisadora que os bebês expostos ao HIV apresentaram uma diferença na maturação dos linfócitos B, responsáveis por produzirem anticorpos fundamentais na defesa imunológica dessas crianças.
Os recém-nascidos de mães HIV positivo e usuárias de drogas como crack e cocaína também demonstraram mais alterações nos linfócitos B. Já os bebês filhos de mães soropositivas e fumantes, foram detectadas alterações nos linfócitos T, relacionados à imunidade celular, ou seja, na defesa contra certos tipos de agentes infecciosos, como vírus e respostas às vacinas.
De acordo com a bióloga, o objetivo do estudo foi estudar a associação dos medicamentos antirretrovirais (ARV, coquetel anti-AIDS), tabagismo e drogas ilícitas sobre as subpopulações de linfócitos dos bebês. “No nascimento vimos que os ARV’s interferem na maturação das células B, assim, levantamos a hipótese de que a resposta desses bebês à vacinação não será semelhante à resposta dos não expostos ao ARV”, explica.
A pesquisadora ressalta que é preciso um acompanhamento mais próximo dessas crianças para poder apurar os efeitos em longo prazo dessas alterações. “Costumamos dizer que ‘a história nos contará’ se estas alterações persistirão e terão poder para influenciar o desenvolvimento. Precisaríamos mudar a conduta de acompanhamento dessas crianças, criar novos protocolos para avaliar estas alterações ao longo do tempo, pois só ele nos dará esta resposta”, finaliza.